quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"Aquele querido mês de Agosto", de Miguel Gomes

"Meu querido mês de Agosto, por ti, passo o ano inteiro a sonhar…"

Se ainda não foram ver “Aquele querido mês de Agosto”, vão, mas preparem-se para sair da sala a achar que a música cantada pelo Dino Meira afinal faz sentido; para sair com vontade de ir passar uns dias numa daquelas aldeias, como Coja, e ver o Paulo a saltar da ponte romana. Miguel Gomes, realizador do filme, consegue-o com uma mistura de ficção e documentário.

“Aquele Querido mês de Agosto” passa-se no coração do Portugal profundo, na serra. Foi o único filme português presente, este ano, em Cannes, tendo sido incluído na Quinzena dos Realizadores. O filme nasceu em 2004: Miguel Gomes estava de férias no concelho de Arganil, onde tem casa de família, e encontrou, no concerto de um grupo de baile, o tema para a sua segunda longa-metragem. Ouvi-o recentemente, em entrevista, a contar: “O guitarrista estava armado em parvo e resolveu enfiar um capacete de mota na cabeça; a vocalista estava com um ar muito chateado. Imaginei que eram namorados e que estavam zangados”. Foi assim que começou o argumento.

Ainda bem que temos esta explicação, porque o facto de, de vez em quando, um personagem (ora o Hélder, ora o médico que aparece num momento de crise) enfiarem um capacete na cabeça, não tinha, para o mero espectador, uma razão explícita. Talvez a paranóia das motas, também essa representada na concentração motard em Góis, onde vemos cenas de miúdos a participarem numa espécie de festa da espuma, mas agora já sabemos que aquele capacete, naquele momento, simboliza toda a origem do argumento. Para quem continuar sem saber, está garantido um momento de riso, tendo em conta o efeito inesperado que tem nas cenas.

O filme divide-se em duas partes, a primeira documental, a segunda de ficção. Tendo tido origem na adaptação a um menor orçamento, esta solução encontrada em forma de divisão, oferece-nos uma das coisas que o filme tem de brilhante: a passagem de elementos da primeira para a segunda parte e vice-versa. A grande mais valia deste filme é de facto misturar documentário e ficção. As personagens são, por vezes, as da aldeia, outras, as da equipa de rodagem. Todos participam. O cenário é o das festas, aquelas tradicionais, que metem procissões, milagres e tudo a que têm direito. O universo conceptual é o dos emigrantes, que voltam a Portugal nas férias de Verão, e os heróis da aldeia. O Paulo que salta da ponte romana, por exemplo. O filme dotou-se de um elenco de gente da terra, o que dá uma proporção de realidade mais forte, e mesmo quando o “acting” não é o melhor, a mim faz-me rir, faz-me ter uma espécie de carinho por aqueles personagens/pessoas. As gentes da terra, aquelas que lá estão desde sempre, contam as suas histórias de amor, entre cenários sociais repletos de machismo e de preconceito, mas que existem. É a naturalidade das cenas.

A história, que conta a paixão de Hélder e Tânia, os primos que se apaixonam no Verão, naquele querido mês de Agosto, é simples e própria desses lugares tão longe da urbe onde os beijos começam depois de canções com as quais as pessoas rodopiam nos bailaricos. E ao fundo, ou no palco principal, dependendo das cenas, está aquela música: ligeira, popular. Não é “pimba”, porque, na envolvência da história, passa a fazer sentido.

Apesar das t-shirts dos AC/DC no corpo de uma ou outra personagem, aquela aldeia na Beira Interior ainda é muito ingénua, não globalizada e indiferente ao que se passa nas cidades, ou quase. Pelo menos durante aquele mês as suas necessidades são bastante diferentes das dos citadinos. Eles querem festa, música romântica, convívio, as miúdas querem conhecer os emigrantes que vêm em Agosto e apaixonam-se pelos primos que vêm das cidades. Afinal os opostos atraem-se. E é nesta base que o filme cria, infelizmente, uma certa superioridade por parte do espectador, que se ri, transparecendo uma certa incredibilidade. Contudo, era inevitável, porque quem vê o filme na sua confortável cadeira de cinema, no meio urbano, sente diferenças perante aquelas pessoas, que estão lá, naquelas aldeias do Portugal profundo, que muitos de nós nunca viram, e vivem histórias que nós nunca imaginámos. As diferenças existem. As casas, as práticas, as crenças, os trabalhos, a ocupação dos tempos livres, a música, os hábitos, as pessoas. Há distância entre aqueles que observam esta história e aqueles que a vivem. Há distância, mas não há preconceito, pelo menos por parte de quem filma e de quem construiu o filme. Assim transparece. Rimo-nos das desgarradas que se cantam na festa do bacalhau, antiga festa dos colhões, e ficamos incomodados com as imagens de um javali morto, acabado de ser caçado e que se esvai em sangue. Mas é nesse cenário, umas vezes mostrado de forma idílica, outras de forma crua, que se passa a história de amor simples e ingénua de Tânia e Hélder. E Miguel Gomes tinha de o mostrar.

A segunda longa-metragem do realizador é daquelas cheias, onde não falta nada, porque nos dá o riso através das histórias que vão chegando pela boca das pessoas da aldeia; e nos dá a magia de uma história simples na visão de um citadino que consegue mostrar-nos esta realidade sem preconceitos.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed. 26.08.2008)

Cinema Turco em Belém

Dois filmes turcos serão apresentados este fim de semana no Cine-Belém, parte integrante da programação CCB Fora de Si. “On the way to school (A caminho da escola)” conta uma história passada numa remota aldeia turca. A narrativa conta sobre um professor que tenta ensinar turco, com muito esforço, às crianças curdas. Este filme debruça-se essencialmente sobre as relações e as dificuldades sentidas tanto de comunicação, como de relacionamento, entre curdos e turcos. Através da história das crianças, que não falam turco, e do professor, que não fala curdo, os realizadores Orhan Eskikoy e Ozgur Dogan simbolizam as dificuldades das relações actuais entre turcos e curdos. Um ano de luta pelo entendimento, numa remota aldeia turca, que nos faz reflectir sobre todos os anos de luta necessários.

“Each Dream is a Shattered Mirror (Cada sonho é um espelho estilhaçado)” é também um filme de origem turca, realizado também por Orhan Eskikoy e Ozgur Dogan. Novamente a aldeia remota. Desta vez da Anatólia. A personagem central é Coskun, o filho mais velho de uma família que vive nessa aldeia. Coskun é preso como activista político durante o seu segundo ano de faculdade. Este filme narra as consequências que o afastamento do filho provoca no seio da sua família nuclear, durante os nove anos que passa em cativeiro. O fim do filme acontece com o regresso de Coskun a sua casa e ao seio da sua família.

Com entrada livre e projecção no Pequeno Auditório, dias 29 e 31 de Agosto, às 22h30. Ambos os filmes são legendados em inglês e português.
Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed. 26.08.2008)

Designers Portugueses inspiram-se em Serralves


A Loja de Serralves está a lançar novos produtos de designers portugueses, inspirados na Casa e no Parque de Serralves. Originariamente concebida como residência particular, a Casa de Serralves (exemplar único da arquitectura Art Déco) e o Parque (inspirado pelos modernistas) foram mandados construir pelo segundo Conde de Vizela, Carlos Alberto Cabral. Quer em termos arquitectónicos, quer paisagísticos, a propriedade constitui um todo notável e harmonioso, peça única em Portugal e na Europa.

Serralves convidou quatro designers portugueses para este projecto, que consistiu em construir uma linha de produtos inspirados nestes dois elementos da Fundação – a Casa e o Parque de Serralves.

Francisco Braga da Cruz inspirou-se em pormenores da Casa de Serralves, como as janelas, para criar um conjunto de botões de punho em prata.

Susana Barbosa criou uma colecção de peças exclusivas, tendo como inspiração o caminho do Parque que nos guia desde a Casa de Serralves até à fonte, situada no Parterre Central. São peças que aliam elementos naturais, como a água, a um espírito minimalista e contemporâneo.

Ana Fernandes, designer e escultora, cria em exclusivo para a Loja de Serralves a Colecção Buxo. Inspirada nos buxos do Parque de Serralves, a colecção apresenta peças que de singular originalidade, quer no traço, quer na forma como são produzidas.

Eugénia Cunha, que procura no seu trabalho a fusão entre tradição e modernidade, apresenta um conjunto de peças que partilham um conceito: reviver a Casa de Serralves. Eugénia parte de fotografias do acervo da Foto Alvão, estúdio fotográfico que fotografou a Casa nos anos 40, e aplica em várias peças imagens da Casa, como o escritório, a biblioteca ou o quarto de dormir da Condessa.

Uma iniciativa a seguir, pela possibilidade de criar objectos detentores de uma unicidade desejável e pelo apoio demonstrado aos autores portugueses.

Legenda da imagem: Alfinete Buxo – Casa de Serralves em Prata
Design Ana Fernandes, 2008
PVP. 250,00 EUR
Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed. 26.08.2008)

"Glow" - dança e tecnologia


Um corpo de luz em palco

30 minutos de intimidade intensa

“Glow”. Fala-se de um espectáculo de dança que “(…) utiliza um sistema de alta tecnologia para gerar digitalmente imagens e paisagens visuais, em tempo real, em resposta aos movimentos do corpo da bailarina que está em palco. Resulta, então, que nenhum espectáculo é repetível, pois quer os movimentos da bailarina quer, consequentemente, as imagens geradas, mudam a cada apresentação”. O espectáculo vem ao Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian pela mão da companhia australiana Chunky Move, fundada em 1995 por Gideon Obawzanek, ex-bailarino da Sidney Dance Company, que assina esta coreografia criada em 2006. Para ver nos dias 29 e 30 de Agosto, às 19h e às 21h30, na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna José de Azevedo Perdigão. 30 minutos que podem mudar a sua imagem de dança.

 

“Glow” teve estreia mundial em Melbourne, em 2006. Chega agora a Lisboa integrado no Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística. O conceito é elaborado. Decorria o ano de 2004 quando Gideon Obarzanek desafiou o engenheiro alemão de softwares interactivo Frieder Weiss a avaliar a possibilidade de isolar o corpo de uma bailarina, isolado na escuridão. Weiss conseguiu e o resultado é no mínimo surpreendente. O conceito é este: “Sob o brilho de um sistema sofisticado de sincronização vídeo, um ser orgânico solitário transmuta-se alternadamente da forma humana, para assumir aspectos estranhos, lascivos e grotescos, de criatura. Utilizando o que há de mais avançado em tecnologia interactiva, uma paisagem digital é criada, em tempo real, em consequência dos movimentos da bailarina. Os gestos do corpo são ampliados pelo mundo em vídeo que o rodeia, ao mesmo tempo que manipulam esse mundo, dando azo a que não haja duas interpretações exactamente iguais.”.

O espectáculo, com apenas 30 minutos, fica na memória de quem o vê, pela teia que cria, talvez pela força que terá apenas um corpo iluminado, vivendo de sombras e luz. A velocidade dá dinâmica e as pausas são ocasionais, o que origina, ou talvez seja fruto, de uma dança energética, ao longo da qual a própria intérprete é que contrói a música e a iluminação. Assim parece. O cenário é simples: chão branco com moldura preta, um ecrã onde se dança. A bailarina é vestida pela luz e pelas projecções, já que apenas tem um fato de lurex branco, que capta a luz. Ela assume poses de liberdade, de tensão ou distorção. O movimento e a forma são registados electronicamente e passam por uma manipulação provocando refracções da dança.

À semelhança de trabalhos desenvolvidos anteriormente por Obarzanek, este espectáculo afasta-se da ideia de narrativa, sendo antes o início de reacções emocionais profundas e que podem até povoar a nossa cabeça durante algum tempo. As sombras levantam a bailarina do chão, a bailarina eleva as sombras, tudo num jogo de luz, de imagens de angústia, de excitação, de empatia. Ela determina a extensão do campo de luz que a envolve.

Este espectáculo insere-se na linha de criação própria da Chunky Move. Criada em 1995,  a companhia alcançou uma reputação invejável pela produção de um estilo de interpretação em dança que se caracteriza por ser distinta e imprevisível. Procura continuamente o envolvimento da cultura contemporânea em meios muito diversos, redifinir aquilo que é, ou será, a dança contemporânea no contexto da cultura australiana onde se insere. “Glow” traz tudo isto, um envolvimento com a cultura contemporânea, com a tecnologia. Em palco, tecnologia e corpo unem-se. Esperemos que sem o habitual e terrível acontecimento da tecnologia complexa se sobrepor aos efeitos da dança ao vivo. Talvez não, pela exigente coreografia que está por trás do conceito e que implica que haja transformações nos mundos da bailarina, aquele que cria e aquele que implica na criação, ou seja, aquele que a envolve.

Além de um excelente criador e das bailarinas, que têm sido muito elogiadas pela crítica internacional - Kristy Ayre e Amber Haines – que se revezam nas apresentações; a eqipa criativa ainda conta com a música de Luke Smiles e figurino de Paula Levis.

Li recentemente numa crítica ao espectáculo: “O imaginário que gera, começa por ser uma geometria clara mas, uma vez que a mulher evoluída se levanta e anda, o chão desponta em formas escuras sob os seus pés. Estas são as sombras que ela deixa atrás de si. Mas já não está só. As sombras galgam-na, ameaçadoras. Não sendo já o único gerador de luz e de vida, presas de fora, ela solta um grito primitivo e gutural. A evolução é subitamente mais complexa, tão medonha quanto bela.” A ansiedade de ver este espectáculo é brutal. Segura de que será geometria, invasão do espaço. Nova dança. Será que a luz nos diz a dança que a bailarina dança ou é a bailarina que faz a luz? Uma experiência que se promete intimista, com detalhe. E eu sedenta desse intimismo em palco. 

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed. 22.08.2008)

La Tour de la Défense

 

“A Torre de La Défense” é a quarta apresentação da KARNART C.P.O.A.A. em 2008 e é um espectáculo baseado em “La Tour de la Défense” do dramaturgo argentino Copi, com concepção, direcção e instalação de Luís Castro. Em cena na Culturgest, de 9 a 14 de Setembro. Arte performativa e plástica num dos espectáculos mais importantes do grande dramaturgo Copi.

 

Raul Damonte Botana nasceu no final dos anos 30 em Buenos Aires. O argentino, mais conhecido como Copi viria a morrer em Dezembro de 1987 em Paris. Foi escritor e dramaturgo. Com as suas origens, tendo nascido no seio de uma família de intelectuais, quase que se pode dizer que difícil seria não enveredar pela área artística: o seu pai era o jornalista Raul Damonte Taborda, deputado e director do diário “Tribuna Popular” e a sua mãe, a filha mais nova de Natalio Félix Botana, fundados do diário Crítica. Ainda vamos mais longe: a sua avó era escritora e dramaturga -  Medina Onrubia. Desde novo que a sua veia artística estava presente, mas no desenho. A saída de Buenos Aires é originado pelas actividades políticas de seu pai, que aquando do conflito com o Perón, obrigaram ao exílio da família no Uruguai, no Haiti e depois na cidade de Nova Iorque.

Em 1962 Copi acabou por se radicar em Paris. Fez-se conhecer primeiro pelos seus desenhos publicados no “Le Nouvel Observateur”, mas depressa começou a actuar com o Grupo Pánico criado por Alejandro Jodorowsky, Fernando Arrabal e Roland Topor, aos quais depois se juntou Jorge Lavelli, que aliás a partir de 1966 dirigiu as obras de Copi. Escolheu a língua francesa para se exprimir nos seus romances e peças de teatro, e acaba por conseguir tornar-se numa personalidade excepcional no meio cultural francês dos anos 60. Autor, dramaturgo, encenador, actor, desenhador, os seus talentos múltiplos foram postos ao serviço de um humor que viria a atravessar todas as suas actividades. Reenvidicou durante toda a vida uma marginalidade assumida, provocando e seduzindo, colocando a ironia, a fantasia e a sua generosidade no centro da sua obra. Desde “La Journée d’une rêveuse” (1968) à sua última peça “Une visite inopportune”, na qual encena a sua própria morte, Copi fala sempre de si, entre Argentina e França, sendo uma testemunha implacável dessa época, mas com um olhar terno e repleto de humor.

“La Tour de la Défense” é a peça mais construída de Copi, talvez o seu maior clássico. Uma comédia com sete pessoas: um casal gay, uma burguesa em ácidos e a sua filha, um travesti, um árabe e um americano. Estão todos a passar a noite de 31 Dezembro de 1976 num prédio no bairro La Défense, em Paris. Algures entre o “vaudeville” e o drama psicológico, torna-se praticamente impossível de classificar. Situações loucas umas a seguir às outras levam os espectadores a rir à gargalhada e a passar repentinamente para um olhar sobre a solidão das personagens. Esta peça foi recentemente encenada por Marcial Di Fonzo Bo, argentino residente em Paris desde 1987 e membro fundador do Théâtre des Lucioles, com apresentação em Julho, no Festival D’Avignon. Marcial Di Fonzo Bo encenou esta visão séria e inesquecível do amor e do não amor, divertida e irónica, com uma mistura de luz e de disciplina que permite aos actores a mesma liberdade que Copi reclamava enquanto autor. Desta forma, conseguiu a criação de movimentos em personagens, por vezes familiares, por vezes numa forma extrema de caricatura que tentam desesperadamente, mas sempre energicamente, evitar cair num abismo. Elas dançam no precipício.

Após a dupla abordagem de “L’Homosexuel ou la difficulté de s’exprimer”, em 2005 com três actrizes e em 2007 com três actores, num processo de pesquisa que visou investigar de que forma o género do intérprete influencia a criação de um personagem transgénero, a KARNART C.P.O.A.A. volta a Copi com um desconcertante texto. Jean, Luc, Daphnée, Micheline, Ahmed e John são o motor de uma complexa teia de encontros e desencontros.

Prosseguindo a investigação do conceito em pesquisa no seio do colectivo desde a sua formação – o Perfinst©, neologismo resultante da união das quatro primeiras letras das palavras performance e instalação –, o espectáculo vê cada um dos dois actos do texto que lhe deu origem alicerçados nas linguagens das artes performativa e plástica. Enquanto o primeiro acto é centrado no trabalho do actor, sem recurso a adereços e com uma marcada intervenção de movimento, o segundo revela-nos um universo de instalação pura no qual os elementos teatrais existem como peças soltas. 

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed. 22.08.2008)

Lisboa durante o mês de Agosto - A cidade afinal mexe!

Oferta cultural de verão na capital

A altura em que diziam que não havia nada para fazer em Lisboa, em Agosto, já não tem grande motivação e a tradição de fugir da cidade durante este mês também já não é o que era. Tudo bem que Agosto continua a ser o oitavo mês e que muitos dos portugueses o escolhem para descansar e fugir da vida urbana, o ritmo da cidade acalma e os estrangeiros são mais do que os residentes. Mas a tendência de desertificação cultural está mais subtil e a oferta artística na capital aumentou significativamente.

Muitos dos festivais de verão acontecem fora da cidade, durante este mês, mas não me digam que não sabe bem ver a cidade assim, a respirar mais fundo e a ter tempo para si mesma. O melhor é que Agosto em Lisboa já não significa deserto e que muitas são as esplanadas que programam música para os seus fins de tarde e inícios de noite. A oferta cultural para este período realmemte aumentou nos últimos tempos. Instituições que anteriormente paravam e que se deixavam envolver pelo deserto de Lisboa, descobriram que afinal talvez estivessem a contribuir exactamente para essa desertificação da capital. O CCB é uma dessas instituições, que acordou para o verão, contando este ano com a segunda edição do CCB Fora de Si, um programa cultural e de animação urbana concebido exactamente para os meses de verão e a ocorrer especialmente nos espaços exteriores do CCB. A segunda edição alarga a oferta cultural do CCB aos jardins, aos espaços de circulação e à Praça do Museu. Para quem fica por aqui, a oferta é excelente, ouvir grupos de várias origens, ver dança, teatro, cinema ou novo circo, essa área artística em que o CCB continua a apostar e que este ano é representada pelo grupo de Cardiff – NoFit State – a actuar, desde a passada sexta-feira, num recinto em que o público coabita com os artistas. Para os mais novos há uma sugestão imperdível: “Criaturas de Carole Purnell e Nuno Maya” no Centro de Pedagogia e Animação, em que as crianças poderão fazer uma viagem ao universo destas criaturas, que um dia já foram lixo e agora podemser olhadas de uma forma muito mais criativa e com valor. Uma das coisas mais fantásticas do CCB Fora de Si é que só acaba no dia 31 de Agosto, altura em que já nos viramos para a nova temporada.

Também há novo circo e stand up no Casino Lisboa, para noites em que se procura oferta mais tardia. O Festival dos Oceanos tem continuado a oferecer espectáculos em vários espaços da cidade, como a Praça do Comércio e o Parque das Nações. Os Ena Pá 2000 tocam no Maxime no dia 29 e os Da Weasel, no mesmo dia, na baía de Cascais. Já tivemos o Jazz em Agosto na Gulbenkian, o “Sonho de Uma Noite de Verão” pelo Dona Maria no Palácio da Independência, e “Vieira – o Céu na Terra”, nas Ruínas do Carmo.

Como se pode ver, a oferta tem crescido, o que na minha visão de amante de Lisboa em Agosto, é bem vindo, mas não só de um olhar pessoal, é importante em termos de oferta cultural turística, melhorando a imagem de cidade cultural comunicada durante todo o ano. Mas nem só os turistas têm a ganhar, é perfeito poder sair do trabalho e ouvir um dos dj’s do noobai em pleno Adamastor ao final do dia, ou poder ir até um dos jardins lisboetas para aproveitar os concertos do Pleno Out Jazz, aos fins de semana, jantar nalgum lado (afinal também há mais restaurantes abertos do que há uns anos atrás e ir ver um espectáculo ao ar livre). Acho que só falta algumas instituições tomarem o seu espaço, talvez pudessem programar um ciclo de cinema, já que a oferta das habituais salas deixa muito a desejar nos meses de verão.

Infelizmente ainda há espaços que dormem durante este mês, até durante Julho, como o caso da Culturgest, que continua a teimar em não programar nada durante o verão e a preparar a nova temporada, sem mesmo utilizar, o já experimentado e, arrisco a dizer que com sucesso, anfiteatro ao ar livre. Talvez quando decidir arriscar, esta tomada de posição no verão lisboeta seja já um lugar comum, e o risco seja apenas o de tentar entrar num universo de plena concorrência.

No entretanto e antes de vir toda a loucura da “rentrée” continuaremos a desfrutar destes novos espaços de Lisboa cultural em Agosto.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed.15.08.2008)

Culturgest no último fôlego de 2008

Multi-disciplinariedade é a palavra de ordem

O último trimestre da Culturgest chega com uma programação diversificada, que é aliás a continuação de uma linha programática a que já nos habituamos. O teatro continua a ser uma aposta e um dos espectáculos mais esperados até ao final do ano pertence à área da dança: “Feminine” de Paulo Ribeiro, que tem estreia remarcada para Novembro.

A Culturgest apresenta-se desta forma no programa que preenche o espaço até ao final de 2008: “Tudo o que oferecemos ao nosso público, o fazemos na convicção de que se trata de eventos, todos eles, que enriquecem a vida cultural da nossa cidade e que merecem ser apreciados. Sem querer estabelecer hierarquias, reconhecemos, porém, que há alguns acontecimentos que marcam de uma maneira forte a nossa programação nestes últimos meses do ano.”. A programação apresentada tem de facto espectáculos de referência. Já que não nos premeiam com programação de verão, a Culturgest surge agora com uma nova força pós-férias.

Na música, a Culturgest apresenta mais uma edição do Festival Expresso Oriente, concebido pela OrchestrUtopica. Composto por três concertos, dois deles de câmara, no palco do Grande Auditório, este festival aborda a música contemoporânea, nos dias 27 e 30 de Setembro e 2 de Outubro.

Rodrigo Amado, no dia 19 de Setembro, estará no Grande Auditório com um trio de excelentes jazzmen americanos, prometendo um concerto memorável. No jazz, o concerto de Steve Coleman & Five Elements, que apresentam em colaboração com o Festival de Jazz de Guimarães, é obrigatório, no dia 15 de Novembro. O ciclo “Isto é Jazz?”, que tem esgotado o Pequeno Auditório, completa-se este ano com mais dois  concertos, a 31 de Outubro e 28 de Novembro.

Outro dos espectáculos apresentados com maior destaque e como uma pérola e motivo de orgulho, é o de José Mário Branco , criado expressamente para a Culturgest e a que chamou “Mudar de Vida – 2”. Fará uma reflexão sobre o estado em que, na sua opinião, se encontra a nossa sociedade, nos dias 30 e 31 de Outubro. Esta será provavelmente uma denúncia e um apelo à acção. O grupo de músicos de que se rodeia é excepcional: José Peixoto, Carlos Bica, Rui Júnior, entre outros, um magnífico quarteto de cordas e os Gaiteiros de Lisboa. Serão duas apresentações, para que mais pessoas possam assistir a este espectáculo.

Na música erudita a expectativa é a nova ópera de António Pinho Vargas. O libreto é de José Maria Vieira Mendes, a direcção musical de Cesário Costa, a encenação de André e Teodósio, em parceria com Vasco Araújo. Com um magnífico elenco de cantores nacionais e membros da Orquestra Sinfónica Portuguesa.

O último espectáculo que destacamos na área da música é o do jovem cantor Cristóbal Repetto, que recupera tangos, valsas e canções crioulas. Um concerto apenas com uma voz e uma guitarra, sem bailarinos. É música e não dança.

Na dança, o foco estará em dois espectáculos: “Ferminine” de Paulo Ribeiro, que estreará dia 22 de Novembro, para apenas duas representações (nesse e no dia seguinte); e a dupla catalã formada por Maria Muñoz e Pep Ramis, que apresentam o espectáculo “He visto caballo”, nos dias 12 e 13 de Novembro, integrado no Festival Temps d’Images. Em 1989 esta dupla formou a companhia de dança Mal Pelo, garantindo um lugar no universo artístico pela sua abordagem refrescante e surreal. Não fosse este espectáculo parte do Festival Temps d’Images, incorpora imagens intrigantes e também texto numa dança intensamente física. O espectáculo está ainda em criação.

“Feminine” foi um espectáculo que Paulo Ribeiro construiu para intérpretes femininas, que não chegou a estrear em Julho por uma das bailarinas ter tido um acidente. Tendo em conta a qualidade de “Masculine”, este será um espectáculo imperdível.

No teatro, destaca-se o espectáculo “Que depois do dia vem a noite”, de 27 a 29 de Novembro, que Tim Etchells, director artístico da famosa companhia inglesa The Forced Entertainment, criou, com dezasseis crianças dos 8 aos 14 anos, para a companhia belga Victoria. Este espectáculo aborda com uma clareza única, e algum humor, o modo como os adultos projectam o seu mundo sobre as crianças. Temas como a paternidade, a educação, a disciplina, os cuidados com os filhos são tocados e todo este empenho é-nos devolvido na forma das palavras ou dos melhores olhares (pelo menos os mais sinceros) das crianças. Este é um espectáculo fascinante sobre o mundo infanto-juvenil, sobre a adolescência e os relacionamentos entre adultos e crianças, sobre a forma como vêem os adultos.

Não poderá faltar o doclisboa 2008. Na 6a edição do festival internacional de cinema documental, realça-se o ciclo dedicado a Wiseman, o documentarismo chinês, as secções Diários filmados e Auto-retratos. Além do cinema de documentário em Outubro, haverá o Cinanima, em Novembro, com documentário e filme de animação japonês. Mas a Culturgest não será só teatro, dança, música e cinema. Em 2007, foi apresentada uma conferência com grandes nomes nacionais e internacionais, com o tema “A Busca da Felicidade”. Agora o tema será “As Regras da Atracção”, sobre o olhar de reputados especialistas estrangeiros e nacionais que têm reflectido, sob vários pontos de vista e com várias metodologias, sobre os comportamentos contemporâneos ligados aos afectos, às emoções, à sexualidade, às relações entre as pessoas. Para assistir e reflectir, nos dias 13 e 14 de Novembro.

O público poderá ver ainda algumas performances, as exposições de inverno e outras peças que merecerão a nossa atenção posteriormente. Esperemos que o difícil seja escolher. 

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed.15.08.2008)

Filmes da colecção da Fundação de Serralves

A exposição “Todas as Histórias” apresenta uma selecção de filmes, alguns exibidos pela primeira vez no Museu de Serralves. As obras abordam, sob uma variedade de formas, a migração da linguagem cinematográfica para o campo das artes plásticas, e reflectem sobre questões implícitas ao género do cinema, tais como a narrativa, o tempo, o espaço ou a construção de imagens. A exposição apresenta uma multiplicidade de narrativas, num percurso que nos envolve no passado e presente, através de imagens que nos vão contando histórias.

 A ideia de “Todas as histórias” parte da vontade de reconsiderar o papel da narrativa em obras de filme ou vídeo. A exposição apresenta um conjunto de narrativas que nos são contadas de forma explícita através das imagens em movimento ou de forma implícita solicitando a participação imaginativa do observador. O percurso pela exposição propõe uma sucessão de momentos que envolvem as noções de passado e de presente, de factos e de ficção, de experiência e de memória. São exemplos destas questões as obras de Douglas Gordon, Francesco Vezzoli e Pedro Costa: na obra de Douglas Gordon intitulada “Between Darkness and Light (after William Blake)” [Entre a escuridão e a luz (segundo William Blake)], de 1997, o artista promove o confronto literal de dois filmes comerciais: “The Song of Bernadette” [A Canção de Bernadette], 1943, de Henry King e “The Exorcist” [O Exorcista], 1973, de William Friedkin, que são projectados sobre a mesma tela semitransparente a partir de lados opostos. A sobreposição dos dois filmes interfere no enredo de ambos e faz por vezes coincidir a história de uma jovem mulher possuída por uma visão da Virgem Maria, e a história de uma rapariga possuída pelo demónio. A distinção clara entre o bem e o mal, entre o Céu e o Inferno, esfuma-se, conseguindo uma visão única de duas obras.

Em “Amália Traída”, Francesco Vezzoli conta a vida da célebre cantora portuguesa Amália Rodrigues, sendo a personagem da diva interpretada pela actriz brasileira Sónia Braga e o argumento apresentado por Lauren Bacall, também elas personagens provenientes do universo mitológico do cinema. Uma abordagem irónica de uma narrativa de origem popular, não só pela interpretação do enredo do filme como também pela contextualização dos factos. Com Pedro Costa, no filme “Fontaínhas”, o cabo-verdiano Ventura lê uma tradução em português da última carta que o escritor francês Robert Desnos escreveu em Auschwitz.

"Todas as histórias" convida o espectador a percorrer os espaços do Museu e da Casa de Serralves e constitui uma excelente oportunidade para descobrir ou redescobrir uma selecção de obras de conceituados artistas portugueses e estrangeiros, tais como Eleanor Antin, Vasco Araújo, Christian Boltanski, Marcel Broodthaers, Tacita Dean, Runa Islam, Gordon Matta-Clarck, João Onofre, Michael Snow, Francesco Vezzoli, no Museu e John Baldessari, Pedro Costa, Juan Downey, Ant Farm e T.R. Uthco, Anna Bella Geiger, Douglas Gordon, Steve McQueen, Antoni Miralda e Benet Rossel, João Penal. Para ver até 12 de Outubro (até 14 de Setembro na Casa de Serralves).

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (08.08.2008)

Música na Brisa Fresca - Super Bock Surf Fest

Super Bock Surf Fest 2008 acontece na Praia do Tonel, em Sagres, nos próximos dias 14 e 15 de Agosto. O cartaz é equilibrado entre o dub, o reggae, o soul e o folk alternativo: Massive Atack, Morgan Heritage, José González e Asa são alguns dos nomes mais sonantes. “De dia, nadar e surfar. À noite, ouvir grande música na brisa fresca.” – este é o mote do festival e se o espírito for mesmo este,  é um pecado ser durante a semana.

 

Imaginem calor, praia, férias, amigos e música. Agora imaginem que se torna realidade. Chama-se Super Bock Surf Fest, depois de se ter chamado Sagres Surf Fest. Tendo em conta que quem patrocina é a Super Bock, a alteração do nome foi uma estratégia inteligente e necessária. Este festival é encarado de uma forma diferente, é o último festival do género, este Verão, e muitos dos festivaleiros não o encaram como uma passagem obrigatória. Contudo, e apesar da sua média dimensão, apresenta um cartaz com nomes de elevada qualidade. As principais diferenças do festival estão apresentadas: dimensão e localidade. Este é também um dos festivais com preço mais acessível – 40 euros pelos dois dias, 25 euros os bilhetes diários [o campismo é gratuito para quem tenha o passe de dois dias].

Bem mais ligado à praia, o festival tenta comunicar para os grupos de jovens mais ligados ao Surf e à praia. Eu diria que este festival tem tudo para vingar no mundo dos festivais de verão: praia, boa música, Surf, sol, uma comunicação jovem e com boa energia; mas quem costuma ir diz que tem um ambiente pesado, no sentido de confusão, de má onda até. Esperemos que este ano seja diferente, que as pessoas se deixem influenciar pela música, pelas sonoridades de José González, por exemplo, e fiquem com numa onda mais próxima ao do festival, lançando apenas “good vibes”.

Ao longo destes dois dias, pelo palco da Praia do Tonel, ao lado da Fortaleza de Sagres, passarão nomes ligados à música electrónica, reggae e soul. Começa-se em português. Os Manif3stos iniciaram a sua intervenção musical e cultural no ano de 2005, em Carcavelos. Influenciados por diferentes estilos e matrizes musicais e culturais, os membros da banda encontraram no grupo um tempo e um espaço que lhes permitiu encontrar um equilíbrio entre o hip hop e o reggae. O texto e a palavra são elementos fundamentais na vida da banda pois é através deles que se procuram reflectir e representar múltiplas realidades sociais, culturais, tecnológicas e económicas em que vivemos. Apresentarão em concerto o primeiro registo discográfico - “Gerasons”.

A banda londrina, Dub Pistols, que conta já com três álbuns editados, será a segunda a subir ao palco do festival. Com uma mistura de géneros lançaram a loucura nas pistas de dança do Reino Unido: rock n roll, hip hop, dub, techno, ska, punk e futuristic skank. A sua invulgar capacidade para remixar músicas, levou os Dub Pistols a remisturar trabalhos de Moby ("James Bond Theme"), Crystal Method ("Do It"), Limp Bizkit ("My Way"), Bono e Korn & Ian Brown ("Dolphins Were Monkeys"). Assim que se começarem a ouvir os primeiros sons, não vos é mais permitido parar de dançar.

Nessa mesma noite, ASA, [que se lê Asha], uma mistura deliciosa de soul, R&B, reggae e pop com um toque de yoruba. Ela nasceu em Paris mas cresceu, desde os dois anos, na Nigéria mais precisamente em Lagos, a capital não só daquele país mas também do AfroBeat de Fela Kuti. Talvez por isso mesmo, começou a cantar muito nova, também influenciada pela diversidade musical que ouvia em casa, culpa dos muitos álbuns que o pai tinha. Esta eclética songwriter estreou-se com o álbum homónimo e logo despertou a atenção de toda a indústria discográfica e certamente vai conquistar Sagres.

Seguem-se os Morgan Heritage, descritos como um dos mais influentes act’s de reggae da actualidade. Apesar de serem conhecidos por procurarem incessantemente o melhor modo de mostrar todo o seu amor pela música reggae, através da sua música, nunca abdicam da sua vertente mais street wise, construindo temas plenos de romantismo, espiritualidade e muita consciência social. Nascidos em Brooklyn e a viver na Jamaica há 11 anos, o grupo Morgan Heritage, como o seu nome indica, é formado pelos filhos do célebre cantor reggae Denroy Morgan. Momentos para continuar a dançar.

Massive Attack é o colectivo mais esperado nestes dias. Em destaque desde os anos 90, com o desenvolvimento do Trip Hop – um som que combina a urgência rítmica do hip hop com dj samples, melodias soul e uma linha de dub reggae. Com um novo álbum, fica a promessa de uma noite de novos sons, mas também de uma passagem por álbuns anteriores.

A noite seguinte começará com “Doces Cariocas”, que reúne um amplo conjunto de artistas: Pierre Aderne, Alexia Bomtempo, Marcelo Costa Santos, Domenico Lancelotti, Alvinho Lancelotti, Simoninha, Luis Carlinhos, Rogê, Silvia Machete, Ingrid Vieira, além dos instrumentistas Felipe Pinaud, Dadi, Mauro Refosco, Rafa Nunes, Lancaster e Pretinho da Serrinha. Um grupo de amigos que nos abre a porta das suas casas e nos oferece rebuçados musicais. A música está aqui e agora: sem ruído. Apenas vozes, sorrisos, percussões e violas. De seguida passa-se para um som bem diferente: os Triplet, banda oriunda de Cascais exploram uma sonoridade rock actual, com boa dose de punk rock melódico, onde tem as suas raízes, destacam-se por ter uma "menina a cantar num mundo de homens".

A meio da noite um dos nomes mais esperados: José González.  ‘In our Nature’ é o álbum que o sueco José González vem apresentar e que irá aquecer as noites frescas de Verão. O autor de ‘Heartbeats’, sempre acompanhado da sua guitarra, promete não desiludir seja com os seus melodiosos temas, seja pelas versões bem conseguidas de temas de bandas que vão dos Joy Division, a Bruce Springsteen, e até aos Massive Attack. Que pena não ser na mesma noite desse colectivo.

O roots reggae de Jahcoutix & Dubios Neighbourhood também estará no Algarve. Depois de viajar pelo mundo e ter descoberto a cultura Rastafari, ele desenvolve a sua música e vem a Portugal para mostrar o resultado de toda essa aprendizagem. De seguida, os  Groundation que têm a sua música centrada na improvisação, no som e na curiosidade. A música como meio de uma comunicação oferece-lhes uma língua comum. Por fim e para encerrar o festival: Emir Kusturica e a No Smoking Band é o projecto musical do premiado realizador sérvio responsável por pérolas cinematográficas como “Gato Preto, Gato Branco” ou “Underground .

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed.08.08.2008)

Tranquilidade da voz


Poderia ser a mesma coisa ouvir os Kings of Convenience ao vivo ou em disco, mas não é. O duo norueguês é de uma qualidade excessiva em estúdio, e em palco assume-se como algo inédito. Talvez por isso muitos daqueles que os tinham visto na Aulga Magna não tenham ido à Cidadela de Cascais, mas outros foram e penso que não se arrependeram. A ambivalência de ambos os músicos foi notável. As duas guitarras suaram com suavidade e a tranquilidade das vozes de Erlend Pye e Eirik Glambek foram invadindo a noite, com canções de “Quiet is the New Loud” e canções de “Riot on an Empty Street”. Aquilo que mostraram do terceiro álbum parece trazer mais ritmo, mas continua a ser suave.

Glambek dominou, como sempre, o caminho do concerto, a condução das canções e é essa a sua esfera. “Cayman Islands”, “Love Is No Big Truth” ou “I Don't Know What I Can Save You From You” mostraram isso. Oye, por sua vez, chama a atenção não só pelo seu ar um pouco fora do normal, com os seus óculos e a sua cabeleira ruiva, alto e meio desengonçado, mas com muito estilo, e pelas piadas que vai fazendo. O primeiro imprevisto aconteceu e foi a origem de uma noite com muito e bom humor. A demora em chegar o capo para a guitarra lançou Oye para uma performance além da música. “Singing Softly to Me” antecedeu, imprevistamente, “Homesick”. Mudar o alinhamento naquele momento foi uma forma que encontraram para que depois pudessem sempre improvisar de um modo sublime.

Mais tarde outra surpresa, além das canções novas que foram mostrando. Passaram a quatro instrumentos de cordas, com a junção do contrabaixo e do violino, e o piano passou a ser regra. “Stay Out of Trouble” deu início ao primeiro show improvisado de “mouth trumpet” de Erlend Oye. Parecia ele que já estava a desejar que pudesse não tocar guitarra durante esse concerto. E isso acabou por acontecer. A guitarra estragou-se. Não havia outra e deu-se nova mudança no alinhamento. O “trompete” foi ganhando espaço no improviso, lançado ainda mais longe com o piano em “I’d rather dance with you”, quando a falta da segunda guitarra já tinha deixado o plano das inconveniências.

Durante um tempo senti que tudo girava à volta de Oye, mas eis senão quando ele abandona o palco para deixar brilhar Eirik Glambek. Sozinho, em encore, cantou em português “Corcovado” de Tom Jobim, apenas acompanhado da sua guitarra. Nem a posterior aparição de Oye para o seu encore pessoal, com um improviso meio louco, chegou para interromper a suavidade e a tranquilidade da voz conseguida em “Miisread”. Um concerto bem diferente do da Aula Magna, igualmente especial e revelando uma dupla cada vez mais com um carácter surpreendente e infalível.

Soou Caetano no jardim


Caetano Veloso esteve calmo e sorridente, dançando até um pouco, no concerto que deu no Cool Jazz Fest. O sítio era incrivelmente bonito e místico: o Jardim do Marquês de Pombal, em Oeiras, numa noite fresca de Verão. Fazendo-se acompanhar apenas pelo seu violão, entrou em palco e foi alternando entre músicas mais recentes e até uma inédita, e êxitos mais antigos que entusiasmaram o público heterogéneo que se apresentara para ouvir um dos mais amados do Brasil. Algumas das canções que começou por tocar eram temas de Ary Barroso, um autor que não sendo Baiano, como Caetano, se apaixonou pela Baía quando foi para lá, vindo de Minas Gerais.

Cantou todos aqueles temas que o público esperava: “Sozinho” e “Menino do Rio” foram exemplos disso. Cantou, gritando “Odeio”, música do seu álbum “Cê” e músicas que falam de amor, de sofrimento e de vidas, como quase todo o Caetano. “Terra” foi cantada, pedindo o coro de todos no refrão. Aliás havia sempre muita gente a cantar, uma das coisas que mais me afasta do que quero dos concertos, em geral. “Eu sei que vou te amar” de Vinícius de Moraes foi um dos momentos mais intensos da noite, cantada entre fados, que aliás foi uma das apostas do músico durante esta noite de Verão. Talvez por estar em Portugal, por bater uma saudade, simplesmente por gostar, Caetano Veloso foi oferecendo fantásticos fados, entre os quais, uma maravilhosa interpretação de “Estranha Forma de Vida”, seguida de um pedido de desculpas pela sua actuação em falsete no documentário “Fados” de Carlos Saura, que aliás não é nada feliz. Caetano acabou por dizer: “cantei assim, nem sei porquê, em falsete, fora do meu tom”. Está desculpado, pelo menos assim achou o público que estava a assistir ao concerto.

Caetano fez uma sentida homenagem ao seu produtor na Europa, que sempre lhe tinha sugerido cantar uma música francesa nas suas digressões europeias, da qual, infelizmente, não me recordo o nome. Caetano sempre disse que não, ou melhor sempre disse: “Da próxima vez eu canto”, nunca chegando a fazê-lo enquanto o produtor era vivo. A homenagem era merecida e eu até entendo a opinião do produtor em querer que Caetano a cantasse mais vezes. No final da noite, chegou o momento de um pezinho de samba. O ritmo chegou com “A luz de Tieta”, que fazia Caetano dançar em palco. Mais tarde, já em encore, terminou com a frase “Quem jamais esqueceria?”. E é mesmo verdade. Momentos que ficarão na memória. Um Caetano simpático, sorridente, mais maduro, pelo menos assim aparenta, assim transmite a sua voz. O caminho de regresso foi passado a ouvir as rãs da ribeira da Lage que coaxavam ao longo da noite, talvez motivadas pela música. A única coisa que preferiria neste concerto era um ambiente mais intimista, em que a proximidade entre público e músico fosse mais consciente. A música pedia isso. Caetano foi conseguindo em determinados momentos, pelo menos chegar a algumas pessoas


A crítica de arte em Portugal - Entrevista à Professora Yolanda Espiña

Inovação no Ensino Especializado

Surge este ano o primeiro Mestrado em Crítica de Arte a nível ibérico. Tratando-se de algo único e inovador, numa área que nos é tão específica e que toca em muitos aspectos o estado da arte não só em Portugal, mas de um modo geral. Falei com a Professora Yolanda Espiña, que está à frente deste projecto, no sentido de compreender os objectivos do Mestrado e a avaliação que é feita à crítica de arte. Quem avança como pioneira é a Universidade Católica do Porto.

Ana Maria Duarte: Sendo este Mestrado em Crítica de Arte inovador e único a nível ibérico, foi seguido algum modelo internacional na sua definição?

Professora Yolanda Espiña: Não, de facto não temos conhecimento de um modelo semelhante. Existem com certeza programas de teoria e crítica de arte em diferentes universidades, alguns deles com forte abordagem teóarica. No entanto, não sabemos de outro programa com estas características integradoras das suas áreas científicas.

AMD: Que lacunas encontra em Portugal em termos da crítica da arte contemporânea?

PYF: Penso que as lacunas que originam a necessidade de ter lançado este Mestrado não são só de Portugal, mas de uma situação geral da crítica de arte, produto de uma mudança nas categorias artísticas da contemporaneidade, que se reflectem, consequentemente, no próprio exercício da crítica de arte. Esta mudança implica a necessidade de pensar novas categorias artísticas para as artes tradicionais e estabelecer categorias próprias para as artes emergentes.

AMD: A quem se dirige esta formação? O currículo do mestrado foi desenvolvido a pensar principalmente em que núcleos?

PYF: A formação está pensada em dois tipos de públicos, que marcam duas direcções: uma, profissionalizante, isto é, será um primeiro passo para uma formação sistemática, com metodologias próprias, neste campo.

A outra direcção é o factor de forte e até indispensável complementaridade em relação a outras profissões: jornalistas e especialistas da informação cultural; actividades de curadoria e organização de conteúdos expositivos: historiadores e estudiosos da arte; artistas em exercício que queiram uma base teórica organizada; coleccionadores privados de arte contemporânea que queiram assegurar um discernimento nos seus investimentos; e, como não, críticos de arte em exercício, que possam junto de nós e com nós pensar de modo inovador neste campo. 

AMD: Na apresentação deste Mestrado os jornalistas são um ponto fulcral do público a que se dirige. Considera que existem muitas falhas ao nível da formação da comunicação social nestas áreas?

PYF: Os jornalistas dos diversos meios são um público alvo fulcral, com efeito. Não se trata da falar de falhas, mas de fornecer um necessário complemento de formação aos especialistas da informação cultural em duas vertentes fundamentais: a compreensão da complexidade interdisciplinar da arte contemporânea, na sua dimensão estético/teórica, e na sua dimensão material (o que nós chamamos de “gramáticas” das artes, as suas leituras formais); e o aprofundamento no próprio exercício da crítica de arte, em relação directa aos médios da sua comunicação.

AMD: Muitos estudantes de artes chegam ao final das suas licenciaturas sem terem muitas saídas profissionais. Este mestrado pretende ser uma resposta a jovens licenciados que se queiram especializar?

PYF: Desde o ponto de vista estritamente profissionalizante, constitui com certeza uma forte especialização. Neste sentido, quanto melhor preparados possam estar num âmbito interdisciplinar como é o das artes, mais possibilidades vão ter de desenvolver mais cedo um percurso profissional. Este Mestrado não só vai fornecer os meios teóricos e práticos para o exercício de uma actividade, mas também preparar o “olho e a cabeça” para um modo de abordar a realidade artística e a realidade cultural. Isso pode ter com certeza aplicações ainda imprevisíveis no campo da actividade profissional, além do mencionado acima em relação aos públicos alvo deste Mestrado.

AMD: Considera que, caso haja uma procura por estes jovens licenciados, esta será uma oportunidade que deverão ver como um meio para chegar à profissão de críticos de arte?

PYF: Com certeza, se um jovem licenciado quer ser crítico de arte, vai encontrar neste Mestrado o que busca, isto é: a base sistemática e prática para o exercício de uma profissão, e as bases científicas para aprofundar nas diferentes vertentes deste âmbito.

AMD: Tendo em conta que também não existe um ensino da crítica de outras artes, como o teatro ou o cinema, considera que este será um exemplo a seguir para outras áreas de ensino especializado?

PYF: Ainda bem que me faz esta pergunta, porque me permite sublinhar que este Mestrado se orienta fundamentalmente para a análise e conhecimento da arte rigorosamente contemporânea, precisamente na sua interdisciplinaridade e intersecções, Não falamos explicitamente, por exemplo, de teatro ou dança, mas sim falaremos de artes que adquirem um carácter performativo no seu jogo com os novos meios artísticos. Não falamos explicitamente ou só de cinema numa cadeira, mas ligamos o conceito cinema ao desenvolvimento de artes que apresentam uma origem e um desenvolvimento com algumas semelhanças claras, como a fotografia e o vídeo, e tentamos aprofundar nelas desde o ponto de vista da sua projecção actual, particularmente no advento do digital. Falamos, sim, de artes plásticas tradicionais, como a pintura ou a escultura, mas encontrando nelas uma perspectiva renovada, que integre categorias do presente, sem deixar de reconhecer nelas o perene da sua imanência material. Falamos de artes sonoras, porque queremos dar conta de fenómenos contemporâneos que, além de um conceito de música que com certeza os próprios críticos e teóricos devem ainda explorar mais a fundo, como dar conta de expressões sonoras que desconstróiem o próprio conceito de composição, em jogo com as novas tecnologias.

AMD: Qual o futuro da arte e da formação artística em Portugal e Espanha?

PYF: Desde a nossa perspectiva, estamos numa magnifica situação para afrontar a “crise” sob a perspectiva de preparação para a mudança, que não deve significar outra coisa que um aprofundamento nesta formação, aprendendo e ensinando a ler sem premissas prévias a realidade contemporânea.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto | ed.01.08.2008

Luzes sobre a Herdade da Casa Branca


Festival Sudoeste

Faltam 12 dias para o início do Festival SW e a Herdade da Casa Branca já está a preparar-se para receber tendas, gente que gosta de música, pessoas que passam o verão a percorrer o país de norte a sul para viver vários dias de loucura musical, os chamados festivaleiros, e mais quem queira aparecer. De 7 a 10 de Agosto, a Herdade bem perto da Zambujeira do Mar, também esse considerado um paraíso alterado durante este período do Verão, mudam as suas energias calmas e recebem sons extasiantes e luzes intensas. Sentimentos contraditórios e, talvez por isso, um festival tão especial.

A primeira noite do festival é uma espécie de inauguração. Apenas funcionará o espaço “Positive Vibes” que recebe Bob Singlair & Big Ali, Sexy Sound System e DJ Malvado. No espaço Kubik Tiefschwarz, Full Metal Funk, Pan Sorbe e Tiago Santos. O verdadeiro festival começa no dia 7 e continua até dia 10 de Agosto. Dia 7, no Palco Principal encontraremos Natiruts, Tinariwen, os portugueses Clã e Bjork, a presença mais aguardada dessa noite. A senhora não necessita de apresentações. A islandesa Bjork é provavelmente uma das mais originais artistas dos últimos anos. Uma visionária na abordagem audiovisual da música, performer avant-gard que começou no punk, desenvolveu-se na pop-new wave agridoce dos Sugarcubes e cimentou a sua excelência ao longo de quase 15 anos de carreira a solo, onde tem explorado diversos universos como o da pop, da dance music  e da club culture. A sua voz é única, com os doces sussurros (quem não se lembra de “It’s all so quiet”?), numa postura de menina e mulher, até aos mais agressivos rasgos sonoros. Com trabalhos tão completos e intensos como “Debut”, “Post”, “Homogenic” e “Selma Songs”, Bjork nunca nos desiludiu e continua a não o fazer. Esta é uma forma incrível de começar o festival. Quem nunca a viu, tem de ir. Quem já o fez, pode sempre ir vê-la de novo e sair mais uma vez surpreendido. A noite conta ainda com Arnaldo Antunes, Roy Paci, José James, Toumani, Codfinger e Roberta Sá no Palco Planeta.

No dia 8 sobem ao palco 3 grandes. Goldfrapp, Tindersticks e The Chemical Brothers. Tudo isto depois de Yael Naim e Rita Redshoes, actualmente nos ouvidos do mundo. Os Chemical Brotthers já deram mais do que provas da sua apetência para agitar as multidões e fazem-nas desfrutar o que de mais inventivo se cria no universo da electrónica. Entusiastas dos sons mais dançáveis, Ed Simons e Tom Rowlands estavam longe de imaginar onde chegariam quando no início dos anos 90 avançaram como dupla de dj’s denominada por The Dust Brothers, como uma homenagem à banda americana com o mesmo nome. Quando passaram a Chemical Brothers deram início a um percurso de irreverência sónica que engloba seis álbuns de originais. Provavelmente conseguirão proporcionar momentos de euforia e dança frenética inesquecíveis. Pelo menos assim esperamos. No Palco Planeta destaque para Rosália de Sousa. Mas ainda focamos a incrível presença sensual e com uma voz intocável de Stuart Staples, dos Tindersticks, com quem entrará em palco para deslumbrar as almas mais sensíveis. Em universos totalmente diferentes, igualam-se em importância ou rotolagem de “imperdíveis” juntamente com os Chemical. Desde que apareceram, nos anos 90, afirmaram-se logo como um dos mais originais projectos dessa década. Com uma personalidade única, os Tindersticks têm como principal característica a voz de barítono do carismático vocalista Stuart Staples, emoldurada por uma orquestra de fundo extremamente luxuosa, basicamente soul e jazzy, que tem como principal artífice o arranjador, pianista e violinista Dickon Hinchliffe, e 4 outros componentes responsáveis pelos vários e sofisticados instrumentos que povoam os seus discos. Em 2008, os Tindersticks estão de regresso aos álbuns com o sétimo de originais “The Hungry Saw”. O disco foi gravado nos estúdios da banda, em França, e vai ser apresentado pela primeira vez em Portugal no SW.

Dia 9 o palco é preenchido por David Fonseca, Mellee, Brandi Carlie, Nitin Sahwney e Vanessa da Mata. Apesar de ser esta última a cabeça de cartaz, suponho que seja Nitin Sahwney que vai incendiar a noite da Zambujeira, sem retirar mérito à brasileira que aos 3 anos de idade já sabia que queria ser cantora. A sua voz suave, mas potente chegou às pessoas certas quando viajou para São Paulo sob o pretexto de ir estudar Medicina. Milton Nascimento e Maria Bethânia são alguns exemplos. Compositora e cantora, vem apresentar “Sim”, já conhecido do público português, com o êxito tão badalado “Good Luck / Boa sorte”, dueto com Bem Harper. Mas Nitin, ele é um dos nomes mais criativos do panorama musical actual: é dj, produtor, músico, multi-instrumentista, orquestrador e um verdadeiro pioneiro cultural. O músico anglo-indiano é o responsável por álbuns como “Beyond Skin” ou o mais recente “Prophesy”, o quinto da sua já longa carreira, todos eles trabalhos que conquistaram o nosso país. Procurando uma verdadeira música global que incorpore as suas raízes multiculturais mas também expressões e influências de todo o mundo, Nitin Sawhney sabe navegar entre a festa a que a presença de palco obriga e a ambição verdadeiramente planetária das suas composições que misturam o clássico e o moderno. E em concerto, essa mistura perfeita é inesquecível. No Palco Planeta, nessa mesma noite, destaque para Deolinda.

O último dia do festival será completo por Tara Perdida, Len On, Shout Out Louds, Jorge Palma, Franz Ferdinand e Xutos & Pontapés Rock N’ Roll Big Band. Com uma grande predominância de música portuguesa, este dia conta também com elementos internacionais de destaque. Franz Ferdinand é o caso mais iluminado. Uma das bandas indie pop do momento, vêm de Galsgow e foram buscar o seu nome ao do arquiduque Sérvio cujo assassinato despoletou a primeira guerra mundial, apenas com principal missão fazer música para as babes dançarem e acabaram por manter todos rendidos ao ritmo contagiante. Este ano preparam-se para o lançamento do último álbum de originais, com atitude arty e sons indie rock.

No Palco Planeta destacamos para esse dia os Junior Boys e os Fanfarlo. Os primeiros apresentam melodias de trance elegante, com melodias fortes, numa loucura de pop sedutor. Os segundos são londrinos e caíram nas graças das rádios e de David Bowie, o que por si só já lhes confere uma qualidade inquestionável. Vão conquistar a Herdade da Casa Branca.

Lembramos que em todos estes dias ainda existe música no Positive Vibes e no espaço Kubik até praticamente de manhã. A energia será certamente diferente dos restantes festivais, nem melhor, nem pior, apenas única e merecedora de mais um ano na Zambujeira. 

Artigo publicado no Jornal Semanário - Julho 2008