quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O sufoco de quem procura a liberdade


“As Criadas” por João Garcia Miguel

A peça “As Criadas” foi apresentada no Centro Cultural de Belém durante 6 dias. Tendo saído de palco no dia 20 de Setembro, este espectáculo trouxe uma nova abordagem ao texto de Jean Genet, que no final da primeira metade do século XX causou tanta polémica pela sua forte crítica à hierarquia das classes sociais e às relações de escravatura. João Garcia Miguel misturou o teatro com o audiovisual, num palco repleto de boas soluções de encenação e de cenografia.

João Garcia Miguel, Miguel Borges e Anton Skrzypiciel já tinham trabalhado juntos e queriam fazê-lo de novo. Procuraram uma peça em que pudessem contracenar de novo e encontraram “As Criadas” de Jean Genet, que lhes dava o desafio de representar papéis femininos. Contudo, o desafio principal era a exploração do texto, do sufoco que representa um discurso que avança sobre a relação entre dominados e dominadores, da hierarquia entre escravos e senhores.
O facto dos actores surgirem a fazer de mulheres não indica qualquer tipo de “travestismo”, é antes uma opção de encenação, como foi o facto de se usar o texto de uma forma diversa, já que o encenador o adapta a uma versão trilingue: português, francês e inglês. As três línguas aparecem, tal como as personagens, em confronto. Esta opção aumenta a tensão já existente na peça pela sua própria confusão, mas também representa a evolução de um mundo social onde existe a necessidade de expansão de linguagens. A mistura das línguas propicia o toque nos limites, já que a linguagem é um meio de comunicação, mas por vezes pode ser entendida como uma barreira. Garcia Miguel pretende provocar esses limites.

Quando estreou em 1947, a peça suscitou grande polémica, pela sua temática versar, de alguma forma, sobre a escravidão. O texto critica a moral burguesa da época, despindo todas as relações entre as madames e as suas respectivas criadas, acendendo um foco de luz sobre a hipocrisia das estruturas sociais. Apesar de esta linha não se perder na encenação de Garcia Miguel (esta vertente de background histórico está sempre presente), o encenador traz uma abordagem contemporânea ao texto, pretendendo valorizar a dimensão de prisão contemporânea onde vive a criadagem. Desta forma, retira-lhe a característica de luta de classes, mas não apaga o seu teor político, mantendo a ideia da necessidade de libertação do ser humano, difícil de alcançar.
O espaço cénico transmite, nesta encenação, o sufoco do próprio texto. Em palco uma tela de grandes dimensões, onde são projectados desenhos numa relação simbólica com o texto. Com um cenário em três tons: vermelho, preto e branco e um palco repleto de alguidares, que são movimentados pelos actores transformando o espaço, o vídeo fica envolto nestes limites, transmitindo imagens e palavras soltas sempre a preto e branco, sendo que no fim da peça o vermelho “rasga” a projecção. A movimentação dos alguidares parece muitas vezes coincidir com os ciclos do texto, antevendo sempre o início ou o término de alguma coisa.

A encenação de Garcia Miguel é inspirada pelo balanço entre a comédia e o sacrifício existente no próprio texto, irónico e contraditório. No texto de Genet, as irmãs Solange e Claire são as criadas que se divertem a imitar e a criticar a madame, que planeiam assassinar. Este texto volta a aproximar o encenador do tema do poder da morte. Nas suas próprias palavras: “Aqui a morte é multiplicada e omnipresente nas suas formas e presenças: a morte como uma metamorfose do ser em busca de si e dos seus limites; a morte como um atrevimento uma provocação que leve a exceder as próprias forças em busca de uma paz que não se deseja; a morte como um ideal de transformação que dá extensão aos movimentos de inquietação da imaginação; a morte como uma imagem que transporta a consciência de si; a morte como desejo de afrontar aquilo que mais se teme; a morte como expressão de um outro que habita dentro de nós e que desconhecemos; a morte como uma união com a nossa própria imagem.”. A peça explora a solidão, as relações de amor-ódio existentes nessas hierarquias, avançando numa doçura-ácida num discurso que envolve revolta e vergonha. Solange e Claire vão jogando num teatro dentro do teatro, trocam de personagens várias vezes, encenam e ensaiam a morte da madame, mas também a sua própria morte, falam da sua condição de prisioneiras e do momento da libertação. “Falam até se sentirem vazias” (às vezes até o despertador, que avisa da chegada da madame, tocar, num lado trágico-cómico), pois afinal elas estão numa prisão, a própria das criadas, a da submissão e do medo.
Este jogo criado pelas criadas permite visualizar o processo de transformação, da relação dos actores com os objectos. O discurso muitas vezes vai ficando mais ténue, serve apenas para atingir o resultado do espectáculo.
O encenador cria uma espécie de nova linguagem teatral, através da repetição, presente não só no discurso (por exemplo, os actores repetem várias frases que são ditas nas três línguas), mas presente na música que vai surgindo em diferentes versões, na movimentação do cenário e por vezes no vídeo. Contudo, esta nova linguagem não se torna repetitiva e elas continuam a jogar aquele “jogo idiota” que no fundo nos possibilita compreender todo o espectáculo.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed.26.09.2008)

Micro Audio Waves e The Legendary Tiger Man


As promessas da música nacional
O senhor esguio e a loira descoordenada

A primeira parte pertencia a Legendary Tiger Man, o one man band Paulo Furtado que surgiu num pequeno palco, em cima de um grande palco, com a sua guitarra, bateria e voz, além de outros instrumentos. A segunda parte era de Micro Audio Waves, o último concerto desta digressão com Claudia Efe, Morg, Flak, Fred e Francisco Rebelo. Apresentá-los como as duas bandas nacionais mais promissoras do momento talvez seja uma excelente estratégia de marketing para os menos conhecedores, mas talvez não seja assim tão verídico. Fizeram um bom concerto, isso sim ninguém lhes tira.

É inegável a qualidade de ambos os projectos. Mas há outros tão ou mais promissores neste momento, até porque tanto os Micro Audio Waves como o Legendary Tiger Man já têm os seus lugares bastante bem definidos no mercado nacional e têm já algumas incursões no circuito internacional, contudo há projectos nacionais igualmente promissores, mas que talvez ainda não tenham tido o merecido destaque. Olhemos para os Deolinda, para o jovem promissor João Lobo, para os Peixe-Balão, para os München, não são todos eles jovens promissores do momento? Depois de explicada a perspectiva, adiante.
The Legendary Tiger Man é Paulo Furtado, o “one-man-show” de blues-rock alternativo inspirado nos performers solitários de blues do Mississipi. A solo ou à frente dos WrayGunn ele faz as salas vibrarem. A sua música é excitante. Usa-se para ouvir, mas também para dançar. O homem sobe ao palco e na sua figurinha esguia abusa dos blues e do rock como se não houvesse amanhã e conquista quem lá está para o ver. Não são poucos, parece que a sala se divide entre uns e outros, e ainda aqueles que estão lá pelos dois.

The Legendary Tiger Man percorreu o álbum “Masquerade”, com algumas incursões pelo “Naked Blues” e pelo “Fuck Christmas, i got the blues”, tendo como única acompanhante a projecção de imagens de filmes escolhidas por si, alguns deles do seu projecto que pega em filmes pornográficos transformando-os em filmes não pornográficos. Estas projecções permitiram uma fusão entre o visual e o musical, criando universos paralelos. O concerto terminou com uma incrível versão da “Big Black Boat”, para depois dar lugar à banda que se seguia.


Os Micro Audio Waves são a grande certeza da nova pop electrónica nacional. Conquistaram recentemente um novo prémio nos prestigiados Quartz Awards, em Paris, e continuam a desenvolver uma mistura explosiva e sensual de pop alternativa, electrónica dançável, cabaret futurista e art rock. Neste momento são cinco, tendo em conta a bateria, a guitarra e o baixo presentes em palco, que fazem a música electrónica inevitavelmente fundir-se com o rock.
A música tomou conta do espaço e foi fluindo, cheia de ritmo. Claudia Efe parecia meio perdida no início, mesmo quando os músicos a tentavam envolver parecia tudo muito forçado. Em jeito de autista muitas vezes, o que ainda dava uma visão mais maquinal e espacial do concerto, Claudia perdia-se nas movimentações, na sua dança robótica que só começou a fazer sentido a meio do concerto, tendo-se notado perfeitamente a sua libertação final. Muitas vezes demasiado preocupada com as sandálias que teimavam em sair dos seus tornozelos finos, mesmo com movimentos de dança que por vezes faziam lembrar tentativas (talvez não conscientes) de ser como Roisin Murphy, Claudia parecia desleixada e descoordenada. Murphy é inatingível. Apesar destas sensações, a voz de Claudia faz milagres e permitiu em determinados momentos uma abstracção da parte visual do palco, deixando-nos envolver pela vontade de dançar. Pecado que estávamos sentados e era impossível fazê-lo. Depois da libertação de Claudia, balançou encantadoramente com a sua voz, que se misturou com as texturas e as sonoridades criadas pelos restantes elementos. DJ Ride, também ele um jovem promissor, foi um dos convidados especiais, que, nos pratos, foi trazendo ainda mais “dançalidade” à música dos MAW.
Também Paulo Furtado voltou ao palco, sempre em grande estilo, trazendo mais rock e deixando Claudia Efe mais à vontade, avançando pelo estilo dueto. Durante aproximadamente duas horas os Micro Audio Waves foram senhores do palco. Mas o grande senhor é sempre, sem sombra de dúvidas, Paulo Furtado – The Legendary Tiger Man.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed.26.09.2008)

Tell the girls he is back in town


Jay-Jay Johanson é um cantor e compositor de origem sueca, que costuma fazer discos muito bons de ouvir e concertos de uma harmonia incrivelmente bela. A sua canção mítica e que soou em muitas rádios ao nível mundial – “So tell the Girls that i am back in Town", retirada do seu álbum inicial de 1996, “Whiskey”. Nas sonoridades de Jay-Jay sentem-se influências de Elvis Presley, Modern Jazz Quartet, Chet Baker, Kraftwerk e David Bowie. A canção referida há pouco foi aliás considerada uma ponte de aproximação sonora ao compositor Scott Walker, passando dos seus sons iniciais do jazz e bossanova para um estilo mais aproximado ao “crooner” pop, permitindo-lhe colocar em evidência a sua voz, extraordinária, convidando sempre os seus ouvintes à dança.
Professando sempre um estilo muito pessoal, tem feito várias digressões pela Europa e América, ao mesmo tempo que continua uma carreira paralela como DJ em clubes de Nova Iorque, Miami, Paris e Barcelona, além de trabalhar com artistas como os Daft Punk, actuar ao lado de Tina Turner e compor bandas sonoras para filmes franceses.
Em 2007 editou o seu sexto álbum, "The Long Term Physical Effects are Not Yet Known", que mantém a sua paixão pelo jazz, continuando no entanto a aproximação aos universos da pop e da electrónica que têm vindo a cultivar nos últimos anos. Tendo em conta o concerto de Jay-Jay Johanson no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, o ano passado, que revelou uma maturidade sonora e uma entrega que só nos queria fazer dançar e ouvir aquela voz pela noite fora, o concerto em Portalegre deverá ser imperdível. Jay-Jay estará no Grande Auditório do Centro Cultural de Portalegre, no dia 18 de Outubro, pela módica quantia de 10 euros. E ainda traz consigo Johan Skugge, no Baixo; Erik Jansson, nas Teclas e Magnus Frykberg na Bateria. Até parece mentira.


ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed.26.09.2008)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Um solo que leva três coreógrafos em si mesmo


A programação de dança do último trimestre de 2008 é iniciada com “Beautiful Me”. Este é o mais recente trabalho do coreógrafo sul-africano Gregory Maqoma, um dos mais talentosos coreógrafos do seu país. Nesta peça desafia a noção de dança, na procura de uma definição ou redefinição da sua própria linguagem coreográfica. O espectáculo sobe a palco nos dias 23 e 24 de Setembro, pelas 21h30, no Grande Auditório da Culturgest.

“Beautiful Me” é a terceira parte de uma triologia iniciada em 2005. O nome indica-nos, ao de leve, de que se trata: um solo. Maqoma subirá ao palco para dançar sozinho, mas levará três coreógrafos em si mesmo, reflectindo o seu trabalho e as suas linguagens. Akram Khan, Faustin Linyekula e Vincent Mantsoe foram os mestres que escolheu para o inspirar. Maqoma absorveu as suas ideias, juntou o seu brilho e humor e dá-lhes voz, no sentido corporal do termo. A banda sonora é criada em palco por quatro músicos africanos que tocam violino, violoncelo, cítara e percussão.
Gregory Vuyani Maqoma começou o seu trabalho na dança em 1987, incursando nas questões que afectavam a sociedade sul-africana. Profissionalmente começou a estudar em 1990 com a “Moving into Dance Mophatong”, uma escola e companhia de dança em Joanesburgo. Em 1994 apresenta a sua primeira coreografia, vencedora de um prémio, assim como várias coreografias apresentadas de seguida. Em 1999 recebeu uma bolsa para estudar no PARTS (Performing Arts Research and Training Studios” em Bruxelas, sob a direcção de Anne Teresa De Keersmaeker.
Em Bruxelas cria um projecto de dança teatro denominado “Vuyani” e cria “Rhythm 1.2.3”, premiado em Amsterdão. No ano seguinte é nomeado coreógrafo do ano com esse mesmo espectáculo e cria “Rhythm Blues”. Entre 2001 e 2004 trabalhou com Faustin Lenyekula, com Moeketsi Koena, Sello Pesa e Mandla Mcunu. Em 2005 começou a trabalhar numa nova criação, uma trilogia entitulada “Beautiful”. A primeira parte da trilogia foi criada e realizada pelo Centre Nationale de la Danse in Paris e a segunda - “Beautiful Us” - foi premiada em Joanesburgo.
A terceira e última parte - “Beautiful Me” - que será agora apresentada em Lisboa, teve por base trabalho de pesquisa no Festival Bates nos EUA, onde Vincent Mantsoe e Faustin Linyekula se juntaram a Gregory, criando cada um deles um solo de dois minutos para ser dançado por Gregory. Mais tarde, juntou-se-lhes Akram Khan. Para a criação deste solo, o perfomer sul-africano partiu de alguns minutos de material coreográfico – movimento, música e texto – que lhe foram oferecidos pelos três coreógrafo. Gregory nutre grande admiração por eles, pelo facto de, ainda jovens, serem mestres no domínio da sua arte, e por as suas linguagens coreográficas, abordagens da tradição e estilos, embora diferentes entre si, terem uma comum profundidade e humanidade.
Através de uma série de encontros com os três artistas e de um apurado estudo, Maqoma propôs-se criar uma extensão sua do material fornecido e ao mesmo tempo criar com o seu corpo um verdadeiro reflexo dos artistas escolhidos. O seu corpo torna-se assim um retrato em movimento, reinterpretando emoções e histórias e traduzindo criativamente, a partir da tradição e da linguagem, elementos que lhe eram pouco familiares.
“Beautiful Me” foi uma encomenda do FNB Dance Umbrella e o seu processo de desenvolvimento passou por residências artísticas no Maine (Bates Dance Festival), Estados Unidos, em Londres, em Joanesburgo (Dance Factory) e em Paris (Centre National de la Danse).
A música ao vivo tem um papel fundamental neste trabalho, e para o seu desenvolvimento Gregory Maqoma trabalhou com quatro músicos de origem africana que se distinguem pelas toadas especificamente africanas que tiram dos seus instrumentos e pela sua dedicação ao aprofundamento deste género musical.
A peça “Beautiful Me” tem sido amplamente reconhecida pela crítica, apresentada em vários países. Será apresentado na DeVIR/CAPA nos dias 19 e 20 de Setembro e nos dias 23 e 24 de Setembro na Culturgest.


Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed.19.09.2008)

O musical mais aguardado da Rentrée




“Cabaret” estreou no Maria Matos e revela-se já um êxito de sala cheia. Este era, provavelmente, um dos espectáculos mais aguardados da rentrée, principalmente depois do programa “À procura de Sally” para descobrir a sucessora de Liza Minelli e de todo o mediatismo que envolve esta produção. Além disso, este é o último espectáculo de Diogo Infante enquanto director artístico do Teatro Maria Matos, local onde o musical está em cena. “Cabaret” ficará em palco até ao final do ano.

O musical “Cabaret” foi um êxito da Broadway, que originou uma versão cinematográfica realizada por Bob Fosse, em 1972, e protagonizada por Liza Minelli. Esta é uma óptima forma de Diogo Infante se despedir da direcção artística do Maria Matos. Há muito que o actor, encenador e programador tinha este projecto idealizado. Finalmente conseguiu levar “Cabaret” a palco, depois dos direitos terem estado indisponíveis durante muitos anos.
Quando entramos na sala principal do Teatro Maria Matos, os cenários fazem-nos viajar rapidamente até ao local e ao período onde decorre toda a acção – a cidade de Berlim, no início dos anos 30. Uma das primeiras coisas que nos dizem do palco é para deixarmos os problemas fora da sala. O espectáculo vai começar. O Mestre de Cerimónias, representado por Henrique Feist, numa grande prestação, vai-nos contando a história, que é pautada pela exibição de peças musicais que foram consideradas das melhores de sempre na história do musical.
“Cabaret” conta a história de um escritor americano, de nome Cliff Bradshaw, muito bem desempenhado por Pedro Laginha, que no decurso de uma viagem a Berlim, se apaixona por Sally Bowles, uma jovem inglesa que trabalha como cantora no fantástico Kit Kat Klub. Ambos se vêem envolvidos nas contradições da sociedade alemã, durante a ascensão nazi ao poder. Sally foi encontrada através de um programa de televisão produzido pela RTP, que procurava uma mulher entre os 20 e os 30 anos, que soubesse representar, dançar e cantar. Ana Lúcia Palminha é essa mulher, que superou o desafio, num país que nem sequer tem tradição em musicais. O papel que representa é de uma força incrível e a sua ligação com todas as personagens é a mais natural em palco. Ana Palminha e Pedro Laginha fazem uma dupla de grande qualidade e ligação, tanto em termos de representação, como de voz.
As vozes da maioria dos actores encaixam na estrutura da peça. Sente-se apenas algum desequilíbrio entre o nível de representação da actriz Isabel Ruth, que enquanto actriz faz um grande trabalho, mas que enquanto cantora transmite alguma insegurança.
O Cabaret berlinense da década de 30 pode ser decadente, mas tem uma vida única e proporciona alguns dos momentos mais interessantes do espectáculo, com grande harmonia e criatividade nas coreografias. A harmonia de algumas situações em palco é quebrada recorrentemente pela presença do bailarino “Max” (desempenhado por Dima Pavlenko), que pela sua estrutura corporal acaba por parecer desenquadrado perante a restante “equipa” do Cabaret. Destaque para a bailarina Meredith Kitchen, sempre muito expressiva.


Ao longo do musical, a história vai-se desenrolando, sendo não só um conjunto de canções e de coreografias bonitas, que de facto nos afastam dos nossos problemas, mas também uma encenação que nos permite reflectir sobre a sociedade alemã dos anos 30 e as implicações da ascensão de Hitler ao poder. Um dos momentos mais fortes no espectáculo e de maior tensão artística é a subida da bandeira com a cruz suástica, que inicialmente provoca incómodo entre o público, mas que com a sua posterior queda, nos faz perceber a mensagem que Diogo Infante queria transmitir. Os protagonistas de Cabaret acabam por ser espectadores de um tempo atribulado na história da Alemanha. A história possibilita-nos ainda a visão de um americano sobre a ascensão do poder nazi e a diversidade de informação que parecia correr mais rápido para o resto do mundo, do que dentro da própria Alemanha.
Com libreto de Joe Masteroff, baseado na peça de John Van Druten e histórias de Christopher Isherwood, “Cabaret” na versão portuguesa contou com tradução de Pedro Gorman e adaptação de letras de Ana Zanatti, trabalho que foi bastante conseguido, contudo nem sempre respeita as métricas, o que poderia trazer ainda mais naturalidade ao texto.
Uma das componentes mais interessantes do espectáculo é a banda de músicos que acompanha todo o espectáculo. Além da excelência musical, todo o trabalho de postura e de enquadramento no próprio cenário é uma das soluções de encenação mais brilhantes de Diogo Infante. A animação de Rita Nunes (saxofones e flauta) e a postura de Miguel Menezes (baixo) destacam-se pela positiva.
Grande destaque ainda para os figurinos e caracterização que nos ajudam na envolvência do espectáculo e da temática.
A encenação de Diogo Infante é de facto bastante forte, num espectáculo aguardado pelo público e que veio também trazer uma programação de valor na área dos musicais em Portugal. Em “Cabaret” sente-se o medo, sente-se a dor de quem gosta de quem “não deve”, a felicidade de quem ama sem receio, a loucura e a luxúria de um Cabaret. “Cabaret” é uma oportunidade única de ver um bom musical em Lisboa e de ver um sonho antigo de Diogo Infante em palco, o que certamente tornou o espectáculo ainda mais especial.

Créditos imagens: José Frade e Margarida Dias

Artigo Publicado no Jornal Semanário - Setembro (19.06.2008)

Três novos nomes na fotografia

O BES e Fundação de Serralves revelam 3 novos talentos da fotografia em Portugal. David Infante, com fotografia a preto e branco, Nikolai Nekh, um percurso sobre a emigração na primeira pessoa, e Mariana Silva, com um projecto mais ligado ao documental e à memória colectiva. Nomes a fixar, para mais tarde ver em Serralves.


David Infante, Nikolai Nekh e Mariana Silva foram seleccionados, por unanimidade, pelo júri do BES Revelação constituído por Bruno Marchand, curador independente (Lisboa), Pierre Muylle, curador no S.M.A.K. (Gent, Bélgica), Ricardo Nicolau, Adjunto do Director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Porto) e Sandra Terdjeman, curadora e gestora de projectos na Kadist Art Foundation (Paris).
O projecto apresentado por David Infante (Évora, 1982) é constituído por fotografias a preto e branco, nas quais a presença da figura humana e a exploração do retrato são predominantes. Recorre frequentemente a dispositivos que complicam a linearidade perceptiva (nomeadamente através da utilização de espelhos, materiais translúcidos, ou mesmo fragmentos de imagens). As suas obras fazem uso da fotografia, tanto para fabricar o simulacro quanto para revelar o insólito.
Nikolai Nekh (Rússia, 1985) trouxe a este concurso um projecto que lida directamente com a sua condição de emigrado. Tendo vivido seis anos da sua infância em Raduzhnyy – uma pequena cidade da Sibéria onde parte da sua família ainda permanece – a proposta de Nekh para este concurso é uma reflexão sobre o papel da imagem na construção da identidade do lugar, mas também sobre o seu hipotético contributo para o resgate de uma relação familiar.
A proposta de Mariana Silva (Lisboa, 1983) assume-se como um prolongamento do seu trabalho em torno das questões da função documental da imagem e da sua relação com a memória colectiva. Partindo de um conjunto de filmes documentais que retractam parte da história recente de Portugal, Mariana Silva propõe-se desenvolver um modelo de Arquivo que oferece diferentes estratégias para o visionamento destas películas, e onde se procura desconstruir quer os habituais protocolos de experiência destes materiais, quer a noção de visualidade absoluta.
Cada um dos artistas receberá uma bolsa de produção no valor de 7.500 euros, apoio destinado à realização dos trabalhos a apresentar, a partir de meados de Novembro, na Casa de Serralves.


Legenda das imagens:
1. David Infante - Zurique, 2007
2. Mariana Silva - Modelo de Arquivo para a Permanência da Imagem, 2007
3. Nikolai Nekh - Postais da cidade de Raduzhnyy
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed.19.09.2008)

Elomar chega da Bahia



Elomar Figueira Mello é um dos mais importantes compositores brasileiros da Bahia. Ele é cantor, compositor e violonista. Elomar retira da cultura local, baiana, os elementos chave do seu cancioneiro e das suas composições eruditas.
Ainda que não se sinta integrado no “mundo erudito” por excelência, mais precisamente no mundo académico que reclama para si a propriedade do saber, Elomar é pesquisador da música secular, das festas populares do Brasil nordestino e caboclo. Procura no samba tradicional, na chula e nos géneros da cantoria nordestina a expressão da “brasilidade”. Na obra, organiza, remodela e estiliza a cultura popular, consolidando-se como artista que influencia toda uma geração de cantores e cantautores da música nordestina.
Com mais de 300 músicas gravadas em 15 discos (5 dos quais a solo e 10 com participações em discos de outros artistas), tem uma vasta obra escrita para instrumentos sinfónicos, música de câmara, solística, operística e concertante.
Com o disco “Na Quadrada da Águas Perdidas” recebeu o prémio da crítica de melhor disco da década de 70, pela APCA (1980) e com “Dos Confins do Sertão” recebeu o prémio de melhor disco estrangeiro não europeu no festival Ibero-americano de 1987, na Alemanha.Numa iniciativa conjunta da associação portuguesa ETNIA e da Fundação Casa dos Carneiros, em parceria com a associação OCRE e com o Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre, Elomar Mello dará um concerto no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre, no dia 30 de Setembro.
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 19.09.2008)

Performance em Serralves


No dia 26 de Setembro, pelas 22h, o Auditório de Serralves apresenta um projecto musical de Christian Marclay. “Screen Play” consiste na interpretação por três grupos musicais de um vídeo. As imagens do vídeo servem de partitura à interpretação musical.
Christian Marclay é um artista plástico, performer e músico sediado em Nova Iorque. Desde 1979, Marclay tem experimentado com técnicas de ‘sampling’ quer sonoras quer visuais, explorando as justaposições entre estas duas dimensões perceptivas. O seu trabalho tem sido mostrado internacionalmente incluindo a participação na Bienal de Veneza e uma exposição a solo na Barbican Art Gallery de Londres.
O performer criou o vídeo e convidou três diferentes grupos musicais (um do Porto, um de Lisboa e outro de Londres) a interpretar musicalmente as suas imagens.
Neste projecto, “Screen Play”, Christian Marclay dá continuidade às suas primeiras experiências com projecções vídeo como forma de veicular instruções a músicos. “Screen Play” foi estreado na bienal Performa em Nova Iorque, e é inspirado pela tradição da partitura gráfica, expandindo-a para incluir imagens em movimento e elementos gráficos digitais muito simples que funcionam como sinais sugestivos de emoções, energia, ritmo, tom, volume e duração. Os grupos musicais participantes são constituídos por Nuno Rebelo (guitarra); Marco Franco (bateria); João Paulo Feliciano (órgão) e Rafael Toral (sintetizador modular e electrónica) no primeiro grupo; João Martins (saxofones e instrumentos electro-acústicos caseiros); Gustavo Costa (percussão e electrónica) e Jonathan Saldanha (electrónica) no segundo grupo; e Steve Beresford (electrónica); Mark Sanders (percussão) e Alan Tomlinson (trombones alto e tenor), no terceiro grupo, oriundo de Londres.


Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 19.09.2008)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Festival Internacional de Cinema e de Artes Performativas



Lisboa recebe o primeiro Festival Internacional de Cinema de Artes Performativas (FICAP), uma reunião entre o cinema e as artes do palco. A 1ª edição do FICAP vai decorrer no Museu Nacional do Teatro, de 20 a 28 de Setembro, estendendo-se a uma sala do Centro Cultural da Malaposta.

O principal foco é o conjunto de artes performativas: teatro, música, circo e dança, mas mantendo a janela aberta para outras artes, como o cinema, mostrando o que de melhor se faz na 7ª arte em todo o mundo. A direcção chama-lhe o ano zero, é que esta é a primeira edição deste festival e que está a dar os primeiros passos. O FICAP quer transformar-se no maior panorama internacional daquilo que se faz em cinema e vídeo, no que diz respeito à união que estes dois têm às artes performativas. Este é um festival que vem ocupar um lugar vazio em Lisboa. É de facto a descoberta de um nicho de mercado, podendo mais tarde vir-se a tornar num festival de extrema importância para o público português, dada a sua apetência para os festivais de cinema, sendo talvez 20 de Setembro o primeiro dia para o resto da vida artística de Lisboa.
O festival apresenta uma estrutura bem pensada, com secções oficiais de competição, que se irão dividir em quatro partes, sendo elas documentários e biografias, making of, espectáculos gravados e cinema e artes performativas.
A parte de documentário e biografias incluem-se todas as obras que tratam determinada temática, autor, estilo, género ou época relacionado com as artes performativas. Desta forma serão apresentadas, por exemplo, retrospectivas do trabalho de Peter Brook e de Robert Wilson, , dois encenadores com uma forte ligação ao cinema e de quem o FICAP mostra filmes, documentários e também espectáculos gravados. Peter Brook é um dos mais influentes encenadores do século e por isso aparece em grande destaque nesta primeira edição. Encenador da Royal Shakespeare Company e director do Internacional Centre of Theatre Research em Paris, será abordado através de “Mahabarata”; “Meetings with remarkable men”, “King Lear”, “Lord of the Flies”, “La tragédie d’Hamlet”, “Don Giovanni” e “Brook by brook”.
A secção de making of apresentará, como o nome indica, making of de espectáculos ou peças de teatro. Espectáculos gravados refere-se à programação de espectáculos em diferido, de teatro, dança, circo ou música, num sentido lato. Por último, a secção cinema e artes performativas engloba filmes onde as artes performativas fazem parte do todo.
Outro dos pontos importantes do festival é a Carta Branca. As cartas brancas implicam uma programação e escolhas por parte de quem as recebe. Neste caso receberam-nas Edson Cordeiro e o Teatro Praga, que escolheram filmes que os marcaram enquanto artistas. O primeiro escolheu para o FICAP “Callas Forever” de Franco Zefirelli; “Carmen” de Carlos Saura e “O Baile”, de Ettore Scolla. O Teatro Praga escolheu enquanto colectivo: “Fanny e Alexander” de Ingmar Bergman, “Noite de Estreia”, de John Cassavetes e “Santa Sangre”, de Alexander Jodorowsky.
Na secção competitiva muitas são as surpresas guardadas para o público português que poderá ver biografias de músicos e encenadores, documentários sobre artes circenses, videoarte, videodança, espectáculos gravados de algumas das maiores companhias da actualidade, entre dezenas de outros filmes. Existem duas selecções à volta da secção competitiva: a nacional e a internacional, com filmes e vídeos sobre teatro, dança, música e circo. Nas secções informativas haverá uma “Fora de Competição” que englobará alguns filmes que por algum motivo não se enquadram nas competições.
A propósito da celebração dos 60 anos sobre a assinatura da declaração dos direitos humanos, o FICAP exibe a peça “Mãe coragem e os seus filhos”, de Brecht, encenada por João Lourenço em 1986.
Na dança destaque para a sessão “South East Dance”, que no Reino Unido tem vindo a criar, apresentar e distribuir filmes e vídeos de dança nos últimos 10 anos. No fundo, tem vindo a produzir alguns dos mais arrojados filmes de dança para o ecrã do mundo. Por “dança para o ecrã” entenda-se uma nova forma de arte pioneira, onde os artistas exploram a dança, o filme e a mistura entre as duas.
Para além de toda esta programação o público será ainda premiado com alguns extras: concertos, espectáculos, exposições, colóquios, debates e outras conversas. Afinal o primeiro ano é exactamente o ano zero, aquele em que é suposto o festival dar-se a conhecer, testar a sua estrutura e perceber o seu lugar na cidade.
O festival ocupará três salas no Museu Nacional do Teatro e uma outra no Centro Cultural da Malaposta. Tudo de 20 a 28 de Setembro no coração de Lisboa. Mais informações em http://www.ficap.pt/.


Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 12.09.2008)

A dupla imbatível está de volta


O ambiente foi de descontracção e os comediantes portugueses estiveram quase todos presentes para receber o mais recente espectáculo de António Feio e José Pedro Gomes. Em noite de estreia de “A Verdadeira Treta” no Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa, o tom de comédia foi o escolhido por todos, que aplaudiram não só no final, mas também em momentos de pura diversão durante o espectáculo.

António Feio e José Pedro Gomes estrearam o espectáculo “A Verdadeira Treta” no Casino Lisboa, na passada 3ª feira. Os conhecidos actores iniciaram, assim, um ciclo de representações que promete animar os serões no Auditório dos Oceanos. Com acutilantes registos de humor, trocaram opiniões sobre diferentes assuntos que marcam a actualidade. O preço do petróleo, a segurança, a educação ou a saúde foram alguns dos temas incontornáveis nesta peça. Aliás, é habitual os actores versarem (e a peça tem mesmo momentos de pura poesia) sobre as temáticas mais escandalosas da nossa sociedade actual, de uma forma divertida, mas inteligentemente crítica. O seu poder é incontornável.
A eles, é-lhes permitida a utilização de palavras que não existem, mas que todos percebem o que querem dizer, e de tempos verbais mal conjugados, numa linguagem disparatada e brejeira. Porque é tudo em nome do humor e a eles fica-lhes bem, não só essa linguagem, mas também um colete de vaca sobre uma t-shirt encarnada, assim como um facto branco com umas meias das raquetes (sim, as míticas meias afinal ainda existem).
Importante é referir que eles agora não só criticam, como também procuram contribuir para a evolução do cidadão comum. Toni “ensina-nos” a reciclar, pelo menos fica implícito que até o mais brejeiro dos humanos deverá fazê-lo. O texto tem uma estrutura cíclica, sendo que acaba onde começa: o problema de Zézé que não se lembra do código do seu cartão multibanco e está teso que nem um carapau. É aí que tudo começa e aí que tudo acaba, com a máquina a engolir o cartão.
Há 11 anos que eles andam a fazer isto: falar de uma maneira completamente disparatada sobre todos os assuntos de que as pessoas falam no dia-a-dia. Estrearam em 1997, no Auditório Carlos Paredes, depois esgotaram os Coliseus, fizeram uma série televisiva, um filme e um programa de rádio. Agora é a vez do Casino Lisboa receber “A Verdadeira Treta”. O cenário é de uma simplicidade esteticamente bem conseguida – duas cadeiras em simetria e um cinzeiro de pé ao meio. O recurso a poucos elementos cénicos, já habitual com estes dois actores, convida o público a puxar mais pela imaginação e a distrairmo-nos menos da qualidade da linguagem dos protagonistas, tanto verbal, como corporal
António Feio e José Pedro Gomes partilham, ainda, a encenação do espectáculo. Sónia Aragão é a assistente de encenação. Por sua vez, Eduardo Madeira e Filipe Homem Fonseca assinam os textos, enquanto a música é da autoria de Manuel Faria e Alexandre Manaia.
Os sorrisos são banais durante esta peça, espalhados pelo público. Os senhores são de facto castiços. A cumplicidade entre os dois é a grande mais valia. Aplaudidos pela irreverência dos seus diálogos, os personagens “Toni” e Zézé” revelaram, também, um notável sentido de improviso. O espectáculo que nasceu com uma ideia de José Pedro Gomes de criar um espectáculo que fosse muito simples na sua concepção e montagem, permitindo a itinerância do mesmo, acabou por ter uma recepção brilhante. Na altura inspiraram-se em Smith & Jones, uma dupla de comediantes ingleses, mas hoje já se separaram muito disso. É de facto uma dupla imbatível de comediantes e que vive de um grande sentido de improvisação e comédia. A grande questão é que essa improvisação que se vai sentindo em alguns momentos do espectáculo é cuidada e quase que obrigatória, de tão naturalmente criada por essa cumplicidade de que se falava há pouco. De facto há coisas que encaixam na perfeição, e pessoas também. Agora resta esperar mais um sucesso perante o público.


Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 12.09.2008)

A crise no Chiado

“É a crise. É a crise.” – Esta frase ouve-se demais por aí, e essa afecta não só a saúde, a educação, o mercado da habitação e os portugueses endividados. Essa – a crise – afecta também a arte e o pensamento colectivo. Afecta não só as pequenas galerias ,que têm dificuldade em manter-se abertas, mas também os grandes museus, que deveriam ajudar na construção da história da arte em Portugal e que estão também eles a ser vítimas dos males da crise financeira.

O Museu do Chiado além da questão polémica do acervo, agora também não tem orçamento. Simbiose entre imagens e música é denominador comum do trabalho de João Paulo Feliciano. A mostra "Blues Quartet", no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, em Lisboa, é um exemplo, não só desse conceito artístico, mas também exemplo de até onde pode ir a dedicação de um artista.
Durante a inauguração de "The Blues Quartet", de João Paulo Feliciano, no início deste mês o director do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Pedro Lapa, avançou com uma questão polémica: há quatro anos que o Museu adia um conjunto de exposições devido a problemas orçamentais. Pedro Lapa lamenta, assim como os olhares mais atentos e ainda o público, perderem-se, possivelmente, boas exposições: “tenho vindo a adiar importantes projectos de exposições, nomeadamente uma retrospectiva sobre o impacto que a fotografia de propaganda durante o regime do Estado Novo teve nas artes, e uma outra sobre o trabalho do artista português João Tabarra, adiadas por falta de verbas”.
Por exemplo “The Blues Quartet”, a exposição agora patente no museu, foi feita a custo zero. "Há uma grande distância entre o programa de exposições proposto e aquele que finalmente é realizado", frisou o director do Museu do Chiado, assinalando que, este ano, só conseguiu fazer uma grande exposição - "Revolução Cinética", com obras de trinta artistas portugueses e estrangeiros representativos do movimento cinético - "paga substancialmente pelo patrocinador espanhol Caja Duero".
"The Blues Quartet" - que estará patente até 26 de Outubro - "foi montada com orçamento zero e muita boa vontade dos funcionários do museu e por parte do artista", referiu ainda Pedro Lapa. João Paulo Feliciano, cujo trabalho esteve em 2007 no Contemporary Arts Center de Cincinnati, defendeu que as entidades públicas culturais "deveriam ser mais apoiadas, sobretudo para divulgar o trabalho de artistas portugueses". "Quando comecei a divulgar este trabalho em Portugal (inicialmente, a peça foi mostrada em 2007, no Contemporary Arts Center , em Cincinnati, Ohio, nos Estados Unidos), pensei em iniciar a "digressão" pelos sítios onde não há dinheiro. E foi quase assim que aconteceu", ironizou João Paulo Feliciano, lembrando que a mostra estreou em Portugal, em Junho deste ano, no Centro de Artes Visuais, em Coimbra, "que estava com graves dificuldades financeiras".
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 12.09.2008)

Ao encontro de Rodrigo Amado

Na próxima sexta-feira, dia 19 de Setembro, pelas 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, terá lugar um concerto do saxofonista Rodrigo Amado, baseado no seu mais recente trabalho Searching for Adam. Na base deste espectáculo encontra-se uma série de imagens feitas por Amado ao longo de 4 anos em Nova Iorque. As imagens foram captadas ao longo deste período, na cidade de Nova Iorque, representando uma das experiências mais fortes da sua actividade como fotógrafo. Ao olhar recentemente para essas mesmas imagens e a sua evolução, tornou-se claro que este projecto tinha como principal objectivo, o encontro de uma linguagem própria, tanto na fotografia, como na música.
Searching for Adam é o título do mais recente projecto do saxofonista Rodrigo Amado, trabalho multidisciplinar sobre a procura, conceito que marca a quase totalidade da criação artística contemporânea. Rodrigo Amado é um dos músicos portugueses de jazz com maior projecção internacional e tem vindo a desenvolver um percurso notável. Os seus últimos dois registos, “Teatro” e “Surface”, obtiveram o aplauso unânime da crítica internacional, consagrando-o como um dos mais destacados improvisadores europeus. Actuou em centenas de palcos por todo o país, em Nova Iorque, Dallas, Washington, Filadélfia, Varsóvia ou Londres, ao lado de nomes como Dennis Gonzalez, Ken Filiano, Bobby Bradford, Steve Swell, Paal Nilssen-Love, Kent Kessler, Adam Lane, Lou Grassi, Joe Giardullo, Steve Adams, Paul Dunmall, Mark Whitecage ou Lisle Ellis. Durante o corrente ano será editado novo registo dos Lisbon Improvisation Players, formação que lidera, estando ainda previsto para o início de 2009 o novo disco do trio que mantém com Kent Kessler e Paal Nilssen-Love.Além do saxofonista, estarão em palco três dos mais talentosos músicos nova-iorquinos – Taylor Ho-Bynum (trompete), John Hebert (contrabaixo) e Gerald Cleaver(bateria) – e um fotógrafo, Guillaume Pazat, convidado para sequenciar e projectar em tempo real um alargado conjunto de imagens que compõem Searching for Adam. Searching for Adam será também apresentado na Casa da Música no dia 18. Como parte do projecto, abriu dia 13 de Setembro, na Galeria Módulo, em Lisboa, uma exposição de fotografias - Searching for Adam.


Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 12.09.2008)

Beijing Dance Academy - Danças Milenares e Dança Clássica Chinesa


Nos próximos dias 20 e 21 de Setembro, será possível assistir a uma das mais prestigiadas escolas de ensino superior artístico na China. Fundada em 1954, a Beijing Dance Academy é frequentada por cerca de 2000 alunos e os cursos que lecciona abrangem a Dança Clássica Chinesa (gudian wu), a Dança Folclórica Chinesa (mian jian e minzu wu), o Ballet, a Dança Moderna (xiandai wu), a Coreografia (bian dao), a História e Teoria da Dança e as Danças Sociais.
Inicialmente baseada no regime da Bolshoi Academy, recebeu também influências da Escola Francesa, da Royal Academy of Dancing e do Royal Danish Ballet que se reflectem no seu programa de ensino e repertório. Nesta escola têm sido formados alguns dos mais prestigiados bailarinos chineses muitos dos quais têm integrado companhias internacionais.Apresentada pela primeira vez em Portugal numa co-produção entre a Fundação Oriente e a China International Culture Agency, a Beijing Dance Academy apresenta-nos um repertório que inclui as Danças Históricas e Tradicionais e a Dança Clássica Chinesa. Os bilhetes custam 15 Euros e o espectáculo terá duração aproximada de 1 hora e 40 minutos.



Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 12.09.2008)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Foco sobre Gyumri - Arménia


Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Gyumri
A Arte Contemporânea como forma de reconstrução


A Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Gyumri, na Arménia, completa agora 10 anos, funcionando como forma de reconstrução da cidade, num movimento artístico e histórico. Portugal estará representado nesta 6ª edição, através dos trabalhos de Gustavo Sumpta e Hugo Canoilas. As obras foram criadas especificamente para esta apresentação e a responsabilidade desta participação é da curadora Maria do Mar Fazenda e suportada pela Fundação Calouste Gulbenkian, Direcção Geral das Artes e Fundação Luso Americana, no âmbito do Acordo Tripartido.
A Bienal terá início no dia 7 de Setembro e terminará no dia 6 de Outubro, contando com a direcção artística de Azat Sargsyan e organização do GCCA (Gyumri Center for Contemporary Art).

A cidade de Gyumri é a segunda maior da Arménia e conta com 150.000 habitantes. Desde o início do século XX que é considerado o terceiro centro cultural mais importante no eixo Caucasiano, depois de Tiflis e Baku. A história desta cidade é praticamente responsável pela existência desta bienal. Em 1988, ou seja, há 20 anos, a cidade foi devastada por um terramoto que fez 30.000 mortos. Tendo em conta a data do acontecimento, Gyumri encontra-se ainda em processo de reconstrução.
O GCCA foi fundado em 1997, na Arménia, no sentido de cultivar as experiências de arte contemporânea neste país, com todo o envolvimento de artistas locais e da comunidade internacional. Os objectivos principais do GCCA passam por contribuir para o desenvolvimento da arte contemporânea na Arménia e manter a qualidade da produção artística ao nível internacional; promover um ambiente criativo e saudável para a cidade e região, depois da inércia do período soviético; facilitar as trocas culturais e o diálogo entre a Arménia e a comunidade artística internacional; ultrapassar o trauma e o caos pós tremor de terra; suportar e desenvolver novas iniciativas criativas, principalmente de jovens artistas; encorajar o desenvolvimento da arte contemporânea e descentralizar a vida artística concentrada em Yerevan; ajudando no restauro de Gyumri como cidade de influência cultural e estabelecendo-a como centro regional de arte contemporânea. A bienal de arte contemporânea foi, então, criada pelo GCCA, como passo para alcançar estes objectivos, há 10 anos atrás.
Contando este ano com a 6ª edição, tem funcionado através de um processo de mudança, educação e actividade contínua, para conseguir uma experiência única neste contexto, de oportunidade de trocas culturais e de crescimento artístico.
O tema da bienal este ano é “Parallel Histoires”. Cada geração rescreve de alguma forma a história, num sentido de re-experienciar o seu passado. Sendo este o 10º aniversário da Bienal, este é um momento onde, naturalmente, surgem necessidades de análise, de re-interpretação e reavaliação do passado. Claro que isto não advém apenas da Bienal, mas de todas as mudanças globais que se deram nos últimos 10 anos. Afinal, estes serviram de ponte entre 2 milénios.
Os representantes da realidade pós-soviética tornaram-se testemunhas do colapso desse império, colapso esse não só dos sistemas económico, político e militar, mas também dos valores culturais, psicológicos e morais que estavam em jogo. As revelações profundas e as reavaliações históricas recomeçaram. Neste contexto, Gyumri é um interessante modelo, que foi sendo renomeado consoante os diferentes contextos históricos Olhemos um pouco para a história. Quando o Czar Russo Nikolay I visitou Gumri, renomeou-a Alexandropol, em honra à sua esposa Alexandria Fyodorovna. Quando a Arménia esteve sob o regime de Bolshevik, foi renomeado Leninakan e, finalmente, quando reconquistou a sua independência, a cidade ganhou de volta o seu nome histórico – Gyumri.
Voltemos ao século XX. Este é referido como um período de grande concentração de eventos históricos. Basicamente, a revolução histórico-científica alterou a percepção dos paradigmas de tempo e espaço. O passado e o futuro ocorreram como expansões de acontecimentos, fora dos seus próprios limites temporais, parecendo sempre que revisitamos o passado para explicar o presente. O presente, por sua vez, continua a renascer do passado, das cinzas.
A segunda metade do século XX mudou completamente, não só o conceito e a filosofia da história, mas também a percepção da realidade. O crescimento da alta tecnologia nos países ocidentais confrontou as sociedades com questões profundas e sérias. A realidade foi transformada no ecrã e mudada para uma hiper-realidade e a história perdeu a sua rotina e dinâmica que tinha tido até aí, transformando-a num passado fragmentado. Os artistas surgiam nesses contextos, mas com histórias paralelas. Hoje, os artistas funcionam mais como reflexo de centro individual. As percepções são diferentes. É necessário construir uma nova consciência histórica, resolvendo duas grandes questões: a criação de uma estratégia para a sociedade e para a coexistência de uma natureza; e a criação de uma união de diferentes percepções culturais, históricas e temporais. Gyumri pode servir como cidade modelo para esta teorização, já que tem em si características de transformações históricas e filosóficas modernas, pós soviética, pós-catastrófica, pós-industrial, pós totalitarismo, pós-alguma coisa. Gyumri é o espelho partido destas transformações de uma história para a qual muitos de nós não olham e não querem olhar. A bienal é uma forma de restauro, de recriação e uma história paralela de olhar para esta cidade. Visa um processo de troca, de educação e de actividade contínua, oferecendo uma experiência única de visão, história e contexto Arménio e criando a oportunidade de intercâmbio de artistas e curadores.

Tendo em conta que esta é a única bienal internacional de arte contemporânea consistente a existir num país da CIS (Commonwealth of Independent States), e que temos dois artistas nacionais a participar nesta construção de memórias colectivas históricas, nesta visão paralela, a cidade de Gyumri merece o foco internacional.


Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 05.09.2008)

Portobello, lugar-marca



Exposição Individual de Patrícia Almeida

Patrícia Almeida aborda o “lugar-marca” Algarve, do ponto de vista do marketing e do turismo, através da fotografia. “Portobello” é o título da exposição, que inaugura no dia 11 de Setembro, na Galeria Zé dos Bois. Patrícia Almeida tem 38 anos, um percurso consistente e esta é a sua segunda exposição individual. Para ver de quarta a sexta das 19h às 23h, sábados das 14h às 23h, na Galeria Zé dos Bois (Rua da Barroca; n.º 59). A exposição tem curadoria de Natxo Checa.

Um projecto de fotografia realizado ao longo de várias visitas ao Algarve durante três anos (2005 a 2007). A partir de uma abordagem documental da fotografia, Patrícia Almeida explora o fenómeno do turismo de verão e o imaginário iconográfico a ele associado, cuja promoção institucional tem por base técnicas de marketing que trabalham uma abordagem da ideia de território em termos de “lugar-marca”.
A escolha do título “Portobello” está relacionada com a retoma desta ideia de “lugar-marca”, transpondo-a para lugar sem referências. Apesar de sabermos que se trata do Algarve, poderia ser a costa espanhola ou grega, o Brasil, ou um lugar fictício. O título é uma marca. Evoca o exótico, associa-se à ideia de natureza virgem, utópica e paradisíaca, como outros nomes, como Éden ou Tahiti. que nos transportam sempre para esse imaginário colectivo. Assim que os ouvimos fantasiamos, viajamos nesse imaginário, daí a vulgar associação desses nomes ao surf, a discotecas, hotéis ou cocktails.
Portobello está no limite, à beirinha da ficção e à beirinha da água. Real e inventado, híbrido. Uma espécie de parque temático sem temática, mas ancorado num imaginário colectivo relacionado com férias. Repleto de preconceitos e estereótipos. Às imagens do Algarve ilustrativas dos guias turísticos e das páginas de Internet das câmaras municipais e das agências de viagens, Portobello apresenta também fotografias que procuram estabelecer um diálogo com a cultura popular do turismo de massas. Não estão lá os tradicionais barcos de pescadores, mas antes irlandesas solteiras e casais de adolescentes que prendem as mãos nos bolsos uns dos outros. Drag Queens que animam a noite de toda a família e discotecas onde os projectores funcionam para o vazio.
Enquanto projecto documental, apresenta-se também como um ensaio fotográfico sobre a forma como os fluxos de ocupação temporários gerados pelo turismo de verão influenciam a construção da identidade de um lugar. O Algarve é quase sempre associado a férias, a praia e a noite. A “camones”. Aqui é o Algarve como lugar para estar, não para habitar ou visitar, mas para experimentar, consumir durante umas semanas. “Allgarve. Ready for lifetime experiences?”

Legenda da imagem: Patrícia Almeida.
Via Appia. 2007 56 x 70 cm.
Fine Art Ink-jet print
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 05.09.2008)

Colbie Caillat em Lisboa


A menina boa onda e as borboletas na barriga
Apaixonem-se. O verão continua.

Colbie tem pouco mais de 20 anos, mas é uma verdadeira revelação da música pop. Aproxima-se o seu primeiro concerto em Portugal. A menina-mulher com ar bronzeado e voz encantadora estará no dia 21 de Setembro, no Coliseu dos Recreios, para a apresentação do seu primeiro álbum, de nome “Coco”. Espera-se uma noite doce e, usando um lugar comum, de boa onda, ou não fosse ela uma menina de Malibu.

Colbie Marie Caillat é uma “singer-songwriter” oriunda da Califórnia. Começou muito cedo a estar envolvida pela música, já que o seu pai Ken Caillat é produtor, tendo este produzido os álbuns “Rumour” e “Tusk” dos Fleetwood Mac. A banda californiana foi provavelmente a responsável pelo despertar do desejo de cantar de Colbie, mas foi mais tarde, num concerto de Laurin Hill que esse desejo se foi tornando mais certo. Ouviu “Killing me Softly” pela voz dos Fugees, em 1996, e foi ensaiando ao piano, já que só começou a tocar guitarra 8 anos depois, quando já tinha 19 anos. Foi assim que tudo começou.
A sua popularidade começou depois, no MySpace, onde criou um “profile” e foi a número 1 no seu género, de cantora desconhecida e sem editora, durante 4 meses. A responsável por este sucesso de entradas no seu “profile” foi a música “Bubbly” tocada no MySpace milhões de vezes. Em Julho de 2007 lançou “Coco”, o seu álbum de estreia. Colbie Caillat tem trabalhado com vários artistas de algum renome. Em Maio deste ano gravou um dueto com Jason Mraz, de nome “Lucky” para o álbum “We Sing, We Dance, We Steal Things” e fez tournée com os Goo Dolls e os Lifehouse em 2007. John Mayer levou-a para a sua tour de verão este ano, sendo ela responsável pelos concertos de abertura. Até pode ser apelidada de “Jack Johnson” de saias, talvez pelo estilo de música que faz e pela postura de menina de praia e boa onda, mas a verdade é que “Coco” é um bom álbum pop, que junta a sua voz “clean” com o acústico da guitarra e o “know how” do produtor Jason Reeves. Colbie Caillat é responsável por algumas das mais doces melodias do ano e é também a responsável por um dos mais aguardados concertos em Portugal.
Colbie é um fenómeno que parece que já tinha o futuro traçado. "Bubbly" ouve-se em todo o lado. Colbie Caillat tinha tudo para dar certo no mundo da música de hoje: é muito jovem, logo será (e é) apreciada por uma importante parte do público da música pop, que é jovem. Ela é também uma mulher bonita, o que ajuda bastante nos dias que correm. Além da boa imagem ainda é simpática e tem boa voz. Melhor ainda, até tem algumas canções boas. É cantora e compositora, por conselho de seu pai que lhe disse que são os escritores de canções aqueles que conseguem melhores carreiras. Parece que sim.
Talvez as críticas menos simpáticas que surgem sejam fruto de uma pontinha de inveja do seu optimismo. Ela vê as coisas pelo lado positivo. Esse estilo veraneante de quem curte estar na praia, a ouvir um bom som, com os seus amigos. A verdade é que uma menina do papá, com um palmo de cara, tem o dobro do trabalho em provar que sabe o que faz. As editoras não a procuraram, foi ela que, por iniciativa própria, se deu a conhecer.
Quando Colbie colocou "Bubbly" na sua página MySpace despoletou um fenómeno que se traduziu em milhões de "plays" e na escalada até ao lugar cimeiro da lista de artistas ainda sem contrato com páginas nessa rede social. Ela explica o sucesso de “Bubbly” com a letra da canção – o sentir que te estás a apaixonar. Ainda por cima é verão. E por isso as pessoas ainda estão mais abertas a essa sensação. Quando a escreveu, não o fez para ninguém em particular, fez porque o queria sentir outra vez, queria conhecer um “tipo” que causasse esse efeito “borboleta” na barriga.
Colbie é colocada na mesma liga espiritual e até estética de gente como Norah Jones ou Jack Johnson, artífices de uma maneira luminosa de ver o mundo. Colbie Caillat pode ser um fenómeno, mas é igualmente uma novata ainda deslumbrada com o mundo. Uma jovem, não inconsciente, que pisará o palco do Coliseu de Lisboa, a 21 de Setembro. Até lá, apaixona-mo-nos.
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 05.09.2008)