terça-feira, 28 de abril de 2009

Estaremos fechados no nosso próprio corpo?

“L’Apprentissage – Dans la Main d’Isolina”
A reaprendizagem de Jean-Luc Lagarce



O texto é denso. Jean-Luc Lagarce escreveu, dois anos antes da sua morte, sobre o seu estado pós-coma e a sua recuperação. À partida parece dramático, mas é mais do que isso, é a exploração da estética de uma situação de contínua e lenta reaprendizagem do corpo depois de um período em estado de coma causado pela sida. “L’Apprentissage” é o nome do texto, que dá nome ao espectáculo “L’Apprentissage – Dans la Main d’Isolina” e é também a base para o espectáculo assinado por Fabrizio Pazzaglia. Dias 29 e 30 de Abril, na Culturgest.

Jean-Luc Lagarce trabalhou essencialmente em teatro, como escritor, comediante ou encenador, sendo hoje em dia um dos autores mais levados a cena, talvez pela simplicidade das suas palavras, a profundidade do seu pensamento e a originalidade da sua sintaxe, ou, provavelmente, por tudo isto. No final dos anos 70 cria uma companhia de teatro, “La Roulotte” onde apresenta os seus primeiros textos e é no final dos anos 80, através de encenadores como Berangère Bonvoisin e Hans Peter Cloos, que o seu teatro começa a sair do pequeno círculo regional da companhia e começa a interessar Paris, nomeadamente através da acção do “Theatre Ouvert”. Em 90 já muitos encenadores pegam nos seus textos. A partir daí passa a ser um nome constante no teatro francês e noutros países da Europa. Em Portugal já esteve em cena, através de outros textos, pelos Artistas Unidos.
O seu legado de obras passa por textos teatrais, ensaios e prosa. “L’Apprentissage”, que data de 1993, insere-se na prosa. “Já estou aqui há vários dias – contam-me mais tarde – já aqui estou há vários dias, quando abro os olhos. Abro os olhos. Ou já há vários dias que abro os olhos antes mesmo de o saber, vários dias depois de ter aberto os olhos e no primeiro dia em que me apercebo de os abrir.Abro os olhos.”.
Como autor, Jean-Luc Lagarce centra os seus textos no discurso fluído e frontal, onde interroga a capacidade de cada um em dizer verdadeiramente o que sente. Vemos isso em “L’Apprentissage”, não há censura nem pudor, despe-se de vergonha emocional e física, é transparente, partindo para aquilo que normalmente não é dito. No texto oscila de homem a criança, máquina ou saco de papel, apercebendo-se da sua importância ao ver-se nesta situação. Reaprende a usar o seu corpo e essa descoberta é aqui descrita e explorada. Uma escrita delicada, sofrida, dolorosa. Basta-nos aquele excerto para perceber o domínio da escrita que Lagarce possui, assim como o seu teor teatral.


Agora será dança, dança contemporânea. Fabrizio Pazzaglia pegou neste texto e encenou-o. Agora dança-o. O bailarino, intérprete de Olga Roriz noutras peças, debruça-se sobre esta reaprendizagem do corpo após a saída de um estado de coma, tendo em conta o seu domínio físico e a sua poderosa teatralidade. O espectáculo centra-se na fragilidade que se torna força, ao ver-se remetido para esta situação. Explora-se a construção da multiplicidade de personagens em palco e o trabalho e uso do espaço teatral.
Em “L’Apprentissage”, Fabrizio utiliza duas argolas de ginástica, usando-as na dança como se fosse uma actividade física, em exercícios repetidos. No texto vemos a mesma repetição, a enumeração dos sentidos, dos movimentos, ou acções para que pareçam mais reais, talvez para lhe dar força para acreditar neles como sendo relevantes para o seu desenvolvimento. O corpo é frágil, é reflectida força. Balança-se entre a busca de um sentido e uma credibilidade qualquer na recuperação. No entretanto é melhor praticar. Em palco Fabrizio, sozinho, em recuperação, e um técnico que monta as argolas, permanecendo no seu distanciamento, interagindo indirectamente com a personagem principal.
O cenário é caracterizado pelo minimalismo, apenas revelando aquilo que nos vai centrar na sua reaprendizagem, espaço que, como ele, vai crescendo e progredindo.
A peça e, obviamente, o texto podem suscitar um processo reflectivo sobre a liberdade, sobre a fragilidade do corpo, sobre a liberdade que temos em momentos de dependência, mesmo que essa seja a do nosso próprio corpo.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (24-04-2009)

As possibilidades infinitas de JP Simões

JP Simões apresentou “Boato”
Stand-up comedy intelectual


Praticamente 2 horas de concerto serviram a apresentação de “Boato”, novo disco de JP Simões. A apresentação do álbum aconteceu no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, na passada 3ª feira, espaço onde foi gravado este mesmo disco, a 7 e 8 de Novembro de 2008. Acompanhado por Sérgio Costa, ao piano, ou a solo com a sua guitarra, JP Simões apresentou um conjunto de 18 músicas, numa espécie de “stand-up comedy intelectual”.

Em “Boato” viaja-se pela carreira do músico, 10 anos depois do lançamento de “Fossanova”. Este disco faz um pouco o apanhado deste período de criação artística, uma antologia registada, com um conjunto de 9 temas já editados anteriormente e 12 temas inéditos.
Nas palavras de JP Simões o nome do disco surgiu “entre outras coisas, da ideia de que quisesse perceber, através de um disco meio antológico, por onde é que andei e o que é que pensei durante todo o tempo em que construí estas canções, teria de me render à evidência de que tudo o que sei sobre mim são essencialmente boatos, verdades voláteis…”
“A Ópera do Falhado” foi bastante referida no disco e no concerto, aliás, foi com um tema dessa ópera que começou – “Lenda do Homem Pássaro”. No primeiro “discurso” de JP, percebemos qual o universo por onde íamos andar durante aquela noite. “Não devia ter jantado, tenho o diafragma cheio de vaca.”, conta-nos, numa espécie de confissão. E assim, cheios, passamos para a ficção de Fernando Pessoa, seguido de “O teu corpo é mágico, faz-me desaparecer”. Até aqui JP Simões esteve sozinho com a sua guitarra, com músicas e discursos desconexos que faziam soltar os primeiros risos.
À quarta música já tínhamos Sérgio Costa ao piano e foram sendo apresentados temas da mítica “Ópera do Falhado” e do suposto “Fiasco”, um hipotético nome para o próximo disco do músico. Histórias de amor e desamor, contadas nas músicas e entre elas, histórias de mulheres, com nomes como “Glória” ou “Joana Francesa”, recordando Chico Buarque e o trabalho que desenvolveu baseado neste autor.
JP Simões foi alternando entre a guitarra e uma posição de maior exposição, mas onde sentimos outro personagem, que dança como um desenho animado e que se esconde em capas de várias cores, ao microfone, acompanhado apenas pelo piano. A libertação de JP deu-se aliás, num desses momentos, em “Eu um dia hei-de ter poder”, em que parece libertar alguém dos tempos de Belle Chase Hotel. Neste tema, tal como em outros, como em “La toilette des… toils”, que viria a apresentar mais tarde, encontramos um tom mais falado, mais teatral.
JP Simões presenteou-nos entre músicas, e mesmo nelas, com histórias surrealistas, como a do papelinho encontrado, retratando “Tiago Cristo” que nos dá de forma melodiosa a frase “Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela (…) no 9º piso”, e que nos transporta para o seu universo. Discursou e contou piadas embebidas de ironia, enquanto bebericava o seu copo de vinho, num limbo entre aquilo que é verdade ou aquilo que é pensado, mas que conta como verdadeiro. E desta forma foi fazendo as suas críticas, à crise, à existência humana e às coisas do quotidiano.
Depois de 13 canções, o encore trouxe mais 5, onde ainda houve tempo para uma improvisação, em que soltou o seu cão, um momento de puro delírio e divertimento. Um dos pontos fortes do concerto foi a cumplicidade entre JP Simões e Sérgio Costa, que tem influência não só na música, mas também no ambiente que se vai criando. Aliás, o álbum é apresentado como sendo dos dois, sendo Sérgio responsável por todos os arranjos.
JP Simões é um animal cerebral, um homem com um tom de voz fascinante, mas onde dificilmente percebemos onde acaba o seu discurso de “stand-up comedy intelectual” e onde começa a exposição real e liberta de preconceitos ou inseguranças. JP Simões é um músico de possibilidades infinitas que anda a viver esta “Vida que são as férias que a morte nos dá”.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (24-04-2009)

“And Then”, um documentário vivo


Teatro/Performance em Serralves
Eszter Salamon em estreia


No dia 26 de Abril, às 22h, o Auditório de Serralves recebe uma estreia absoluta em Portugal. “And Then”, da coreógrafa Eszter Salamon. Trata-se de uma performance onde se unem dança, teatro, música e vídeo, formando um documentário vivo.

A coreógrafa conta já com uma sólida carreira, mas só agora se apresenta em Portugal. O seu trabalho explora as ligações entre diversas formas artísticas: música, teatro, dança, vídeo. Ezster Salamon formou-se em Budapeste e depois seguiu para França, onde trabalhou com vários coreógrafos entre 1992 e 2000. Em 2001 criou What a Body you have, Honey e (com Xavier Le Roy) a peça Gizelle. Eszter criou ainda Reproduction, em Podewill (Berlim), onde foi artista residente e recebeu, em 2004, o prémio Villa Médicis Hors Les Murs. Em 2005 apresentou Magyar Tancok em Lyon e em 2006, a peça Nvsbl. Em 2007 criou And then e Without you I am nothing, um concerto-performance realizado em colaboração com Aranxta Martinez. Em Maio de 2008, no quadro do Kunstenfestival des Arts em Bruxelas, Salamon apresenta o duo Dance#1/Driftworks, em conjunto com Christine De Smedt e participa igualmente no projecto de investigação coreográfico 6M1L (6 mois 1 lieu), no Centro Coreográfico de Montpellier, em França.
A peça "And Then" é a sua mais recente criação e traz-nos, mais uma vez, uma mistura de artes performativas. São oito mulheres de várias gerações, todas chamadas Eszter Salamon, que estão no palco ou nos ecrãs de vídeo para nos contar partes das suas histórias. Uma espécie de reflexão sobre imagens de pessoas, neste caso, das várias Ezter, uma reflexão sobre as ligações e não ligações entre elas e o que provocam em quem vê.
A dramaturga (e colaboradora de Ezster Salamon) Bojana Cvejic descreve assim a peça: “Imagine que encontra um álbum de fotografias na rua. Abre-o e vê imagens de pessoas que não conhece, instantâneos de férias, atitudes e gestos familiares, caras desconhecidas que lhe sorriem como se fosse um parente ou um amigo íntimo a quem as fotografias são destinadas…não é estranho e quase perturbador penetrar desta forma na vida dos outros? Numa cena que se contrai e se dilata, se dobra e se estende em dois e três espaços, em qualquer lugar entre aqui e parte alguma, oito pessoas dizem e cantam a banda sonora da sua vida e da sua época sem nenhuma ligação entre elas. O que as faz reunir e falar, a estas pessoas que dialogam no singular mas que não têm nada de particular? O que significa encontrar alguém cuja existência não nos diz respeito nem de perto nem de longe? Como é que a expressão de cada um nos deixa indiferentes mas que, no entanto, nos importa tão profundamente?”
O espectáculos de Ezster Salamon está integrado no ciclo Documente-se!, Registos na Primeira Pessoa que concretiza o seu segundo momento de 20 a 28 de Abril.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (24-04-2009)

O hino ao heroísmo do revolucionário


Che: O Argentino e a Guerrilha
Hasta la Victoria Siempre!


Che Guevara, Ernesto Guevara de la Serna, ou El Che, nasceu na Argentina, mas foi em Cuba e na Bolívia que passou os tempos mais intensos da sua vida. Um dos mais famosos revolucionários comunistas da história, Che continua a ter reflexos na comunidade artística. “O Argentino” e “Guerrilha” são duas partes de um mesmo filme, um projecto de anos e um fruto que vale a pena colher.

Steven Soderbergh é o homem que pôs nas telas o filme “Che”, antestreado em Cannes como um só, mas depois separado por motivos comerciais. “O Argentino” e “Guerrilha” foram realizados em simultâneo, o primeiro em Espanha durante 39 dias e o segundo em Porto Rico e no México, exactamente no mesmo número de dias. Contudo, o projecto não teve início em Soderbergh, começou antes com a produtora Laura Bickford e o actor Benicio Del Toro, que interpreta o revolucionário. Eles compraram os direitos da biografia de John Lee Anderson “Che Guevara: A Revolutionary Life”, mas acabaram por os deixar caducar, por não conseguirem encontrar um argumentista. O primeiro a ser contactado para escrever o argumento foi Terrence Malick, mas a falta de financiamento não fez o projecto avançar e Malick foi rodar “O Novo Mundo”. Steven Soderbergh veio para o substituir, o argumentista Peter Buchman foi contratado para escrever o argumento, o filme foi todo restruturado e foi tomada a decisão de que iria ser rodado em espanhol, o que afastou os financiadores nos EUA. A produção acabou por ser garantida graças a dinheiro francês e espanhol, e quando o filme passou em Cannes, ainda não tinha distribuidores.
E assim nasceu “Che”, que chega para mostrar o herói, mas também o homem por trás do herói. A primeira parte do filme relata o período de 1955 a 1959, mas começa em Havana, em 1964, quando Che Guevara é entrevistado por Lisa Howard, que lhe pergunta se as reformas na América Latina não irão refrear a mensagem da revolução cubana. Cruza-se esta entrevista com o universo de clandestinidade na Cidade do México, anos antes. Castro ouve os planos de Che e torna-se membro do Movimento 26 de Julho que ambiciona derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista. Parte-se para a viagem, percorre-se o caminho para Alegría, vive-se nas florestas, sente-se a formação da guerrilha que fará Fulgencio Batista fugir e tomar Santa Clara. De novo em 1964, Guevara dirige-se à Assembleia Geral das Nações Unidas, onde faz um discurso inflamado contra o imperialismo americano. Com as passagens entre o seu discurso e a montagem da revolução em Cuba, o filme respira, mesmo numa montagem dinâmica. Próximo do fim surge a vitória: Guevara segue para Havana dizendo “a guerra foi ganha, a revolução começa agora”, em 1959.
A segunda parte vem abordar o período que Guevara passou com os guerrilheiros na selva boliviana até à sua morte, a revolução falhada na Bolívia, onde ele tentou, com a ajuda cubana, instaurar um regime marxista tal como tinha acontecido em Cuba. Para tal, Che entra no país com uma identidade falsa e reúne um grupo guerrilheiro que irá lutar na selva boliviana, com o intuito de derrubar o regime de Barrientos. Che renuncia a tudo, ao poder, e esse é um dos momentos mais marcantes do filme: a leitura da carta de Che, por Fidel Castro, renunciando a todos os seus cargos. Mas a cultura que encontra na Bolívia é bastante diversa da de Cuba, aqui o povo denuncia-o, tem mais medo e menos vontade de unir forças, mais adversidade à mudança e menos capacidade de embarcar na luta. Se na primeira parte se sente a ideia de hino heróico à sua faceta de guerrilheiro e os acontecimentos fluem para um desfecho glorioso, na segunda encontramos menos brilho na suposta revolução, a caminhada de Che para a morte, e esta dualidade torna o todo ainda mais intenso.
Ambas as partes vivem muito da actuação de Benicio del Toro, que enche as cenas, sentindo-se que cada momento da sua representação é pensado. Espelham-se os 7 anos de preparação deste papel, que lhe valeu o Prémio de Interpretação Masculina no festival de Cannes e o Goya de Melhor Actor.
No segundo filme é evidente a não integração de actores como Joaquim de Almeida, Matt Damon e Franka Potente, que parecem caídos num universo que não é o deles e com prestações que tiram brio ao filme.
Faltou talvez falar mais da sua vida além da revolução, como as suas mulheres, mas os casamentos com a peruana Hilda Gedea, a resistente aprista que conheceu na Guatemala, e com Aleida March, militante do 26 de Julho, que conheceu em 1958, quando desenvolvia a ofensiva sobre Santa Clara, que o acompanha na luta na cidade, são retratados de forma sublime e com sentido, sem falar de outras paixões de que se fala em diversas biografias, como Lídia Rosa López e Tâmara Bunker, a única mulher da guerrilha boliviana, morta quando atravessava, na coluna de Joaquín, de que fazia parte, o rio Masicuri. Tanto esta opção, como a de não explicar a asma, que Che contraiu quando tinha dois anos, depois de uma Sudestada (vento forte dos planaltos gelados da Patagónia) apontam exactamente para o afastamento do universo do documentário, conseguindo um filme que toca um sentido de colectivo, fazendo, como Soderbergh assumiu querer: “sentir às pessoas o que era estar com aquele tipo".

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (17-04-009)

Histórias de Aldina Duarte


Mulheres ao Espelho


Na quarta-feira, dia 22 de Abril, às 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, terá lugar o concerto “Mulheres ao Espelho” de Aldina Duarte, baseado no último disco da fadista com o mesmo título. Uma história feminina que engloba 11 histórias. O todo é maior que as partes.

Aldina conta a sua história. Nasceu em Lisboa. Cresceu em Chelas num bairro social. Da sua mãe apreendeu a dar importância a aprender com tudo, a dar importância à imaginação e aos sonhos, como forma de superar dificuldades reais. Apreendeu também a crença na vida e a capacidade de escutar o coração.
Começou a cantar no coro de um grupo meio musical, meio teatral, "Valdez e as Piranhas Douradas". Entre uma vida diurna e uma vida nocturna, durante um ano, participei no filme "Xavier", de Manuel Mozos, a cantar o fado "A Rua do Capelão", porque as filmagens eram mesmo na Rua do Capelão, na Mouraria. “Os moradores da zona bateram tantas palmas que tive de repetir o fado só para eles ouvirem. Nunca mais esqueci essa noite e desde então sempre senti um grande respeito por esta arte.”, especifica Aldina na sua biografia.
Depois de uma conversa com Beatriz da Conceição, quis ser fadista. A partir daí começou a ouvir mais, a consumir mais fado, a cantar mais, em teatro, em televisão, em casas de fado. O caminho foi-se traçando e já passou pela internacionalização, tendo cantado no Piccolo Teatro de Milão, em Marrocos, em Viena ou na Bélgica. O fado tem ido além de Lisboa, mas agora também volta a ela, a um palco grande, onde apresentou “Crua” e onde apresentará “Mulheres ao Espelho”, o seu terceiro disco, com o selo da sua própria editora e produtora musical (Roda-Lá Music).
Este disco conta com 11 canções, onde Aldina se mostra como reflexo da vida, daquilo que foi construindo e aprendendo. Em palco, ela revela sabedoria e ingenuidade, uma força que cativa o público e que é sempre diferente, quer a vejamos num grande espaço como a Culturgest ou numa casa de fados, como por exemplo a Sr. Vinho, a casa de Maria da Fé, onde permanece. Mas essa diferença não vem do tamanho da sala, vem da experiência e da sensibilidade de Aldina, que é parece ser sempre distinta. Esta ideia de distinção dentro de si própria coaduna-se com a ideia de “Mulheres ao Espelho”, transmitindo o conceito de que ela é várias e de que o conjunto das várias faz de Aldina uma mulher com carisma. Este é um trabalho mais maduro do que o anterior, onde se sente crescimento. Uma etapa com novidade, mas onde se mantém o peso do fado e as suas próprias histórias e dos seus elementos. “Mantive os rituais que sempre achei distintos e belos no fado: o xaile preto, o vestido preto, discreto e elegante, o silêncio, a luz baixa, tudo o que sempre me deslumbrou desde a primeira vez que vi e ouvi diversos fadistas que, tantas vezes, diziam, O fado é uma coisa muito séria porque é sagrado.” E manteve também a sua ingenuidade ao cantar, apesar da sua maturidade enquanto mulher e enquanto fadista. Aldina teve o desejo de contar uma história feminina ao longo de 11 temas. Cada fado encerra em si mesmo uma história única, que vale por si, com princípio, meio e fim. Estas são histórias banais e familiares, que provocam sensações e sentidos; e aos sentimentos universais um confronto entre o que é individual e complementar, o que é masculino, feminino, ou de ambos.
Nas palavras de Maria do Rosário Pedreira: “O disco regista uma única Aldina, e isso já é mais do que aquilo a que temos direito; mas coloque-se agora este espelho diante de nós, num palco, e deleitemo-nos: porque a Aldina, sendo única, há-de ser ao vivo sempre outra, de fado em fado, como num infindável jogo de espelhos.”. “Mulheres ao Espelho” é um disco que se aconselha a ouvir em palco. Se não ouvir agora, que seja no Sr. Vinho, ou que venha a ser numa dessas cidades por onde tem passado.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (17-04-2009)

Adolescência: um ponto sem retorno

“Once and for all we’re gonna tell you who we are so shut up and listen”

We’re gonna do a play about teenagers
but about a lot more than teenagers
who feel like teenagers during their teens:
about the utter chaos in our heads,
the urge to go far too far, pimples
and dozens of other topics that will enrich your lives
We’ll pull down the barriers between the way we are onstage and off
We’ll update the definition of puberty
We get on your nerves, but for once you'll understand why.
We will make all other art on puberty superfluous
You’ll think we’re super cool.



13 adolescentes entre os 14 e os 18 anos. São cool, brincam, sentem, comportam-se como crianças, como adultos, de forma agressiva, de forma vulnerável. “Once and for all we’re gonna tell you who we are so shut up and listen” é o nome do espectáculo que chega a Portugal através de Ontroerend Goed, Kopergietery e Richard Jordan Productions Ltd. O caos, o movimento, a adolescência e o que ela envolve compõem o seio deste trabalho.

Apesar de ser feita por adolescentes, esta peça é para adultos. Os jovens trabalham o universo da rebeldia, com comportamentos agressivos, no fundo tentam definir-se e, por isso, umas vezes são crianças, outras são adultos.
Esta é a segunda vez na programação anual da Culturgest que encontramos um espectáculo com crianças/jovens. Em Novembro “That Night Follows Day”, de Tim Etchells/Victoria, com crianças entre os 8 e os 14 anos, agora é a vez de outra companhia de Gent vir a Lisboa com uma produção semelhante por trabalhar com jovens. Este é o ponto comum: têm crianças e jovens em palco, apresentam corpos, vozes e formas de estar em cena que desafiam o teatro convencional.
Contudo, esta peça parece ser o oposto da anterior: adolescência versus infância, caos versus ordem, movimento versus texto. Este excerto explica bem o conceito: “Vamos fazer uma peça sobre adolescentes mas sobre muito mais que adolescentes que se sentem como adolescentes durante a adolescência: sobre o caos total nas nossas cabeças, a vontade de ir longe demais, borbulhas e dúzias de outros assuntos que vão enriquecer as vossas vidas. Vamos derrubar as barreiras entre o modo como estamos em palco e fora dele, vamos actualizar a definição de puberdade. Damo-vos cabo do juízo, mas por uma vez vão perceber porquê. Vamos tornar supérflua toda a outra arte sobre a adolescência. Vão achar que nós somos super cool.”
Quando era mais novo, Alexander Devriendt, que dirige o espectáculo, participou em vários espectáculos de e para adolescentes, mas sempre se divertiu mais fora de cena. Segundo ele, a puberdade foi o tempo mais excitante da sua vida, pela liberdade que sentia, pelo poder das escolhas que se fazem nessa altura e que podem ser para o resto da vida. “A puberdade é uma das maiores tranformações da vida humana. Uma transformação de ninguém para alguém.” Na adolescência podemos tornarmo-nos qualquer coisa, tudo é possível e não existem as responsabilidades da vida adulta. Por outro lado a auto-consciência vai crescendo, qualquer passo que damos é observado, toda a gente olha para nós e tentamos libertar-nos dos sistemas que nos condicionam.
A puberdade é um universo cheio de clichés e esta performance procura também a percepção dos próprios adolescentes. Eles têm três percepções para visualizar: os seus próprios clichés de adolescentes, os dos seus pais e aquilo que realmente pensam sobre si próprios.
A adolescência é normalmente vista como algo negativo, criticável, mas na verdade, esta é uma altura em que se pode criticar tudo e ser desculpado, criticar sem ter de apresentar uma alternativa. Simultaneamente, é uma altura em que se começa a ficar preocupado com aquilo que os outros pensam sobre nós mesmos.
Esta peça pretende ir contra a ideia de que os adolescentes perdem o seu espírito rebelde quando se encontram em palco. A inexperiência, a frontalidade e as explosões incontroláveis que caracterizam a adolescência precisam ser visíveis e tangíveis no palco. A fronteira entre ficção e verdade é muito ténue e o que é evidente é a energia pura dos intérpretes, visível em palco, não é tratada como força destruidora, mas como prazer de ultrapassar e explorar os limites, sem que ninguém venha dizer como ou porquê.
Na quinta-feira, dia 16 de Abril, pelas 21h30, no Palco do Grande Auditório da Culturgest. A peça será também apresentada nos dias 17 e 18, pelas 21h30.


ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (09-04-2009)

Sonata a três vozes

Vício e virtude em palco
“Menina Júlia” encenada no TNDMII


O Teatro Nacional D. Maria II estreia, a 16 de Abril, “Menina Júlia”, considerada a obra-prima de August Strindberg, pintor, escritor e dramaturgo sueco. Um dos pais do teatro moderno, Strindberg escreveu esta peça em 1888, sendo considerada uma obra importante e, sem dúvida, a mais representada.
Censurada na época pelo seu conteúdo chocante e pela ténue fronteira entre vício e virtude, esta é uma história intimista que reúne alguns dos temas fundamentais de Strindberg, considerado um drama de carácter naturalista. Uma sonata intimista, a três vozes, numa situação de grande impacto emocional.

Júlia é uma fidalga inocente, com tom de provocação, uma jovem aristocrata, filha de um Conde. Jean é criado desse mesmo Conde. Atracção e choque são os sentimentos que se começam a desenvolver entre eles. Numa noite de festa, em que Júlia, depois de ter rompido com o noivo, não acompanha o pai numa visita a casa de parentes e passa a noite de S. João na sua propriedade na companhia dos criados, Júlia seduz Jean, Jean seduz Júlia. Esta relação tempestuosa inicia-se na cozinha senhorial. A fidalga assalta o escritório do pai, consegue dinheiro para a viagem e foge com o criado. Desejo, recalques, ódios, atracção e repulsa, conflitos de poder, de humilhações, o choque violento das classes sociais e dos sexos, tudo povoa uma noite trágica que conduzirá fatalmente à derrota de uma das partes em confronto.
Júlia acaba por suicidar-se com medo do desconhecido e daquilo que a vida lhe trará. Um desenlace trágico assistido por Cristina, a cozinheira e noiva de Jean, pertencente a uma classe menos favorecida, que vai observando o desenvolvimento deste relacionamento. Nesta encenação de Rui Mendes, a Menina Júlia é Beatriz Batarda e o Conde, Albano Jerónimo. A criada é interpretada por Isabel Abreu.
As três personagens movem-se neste universo sexista e de luta de classes. O dramaturgo consegue trabalhar num momento de transição de uma sociedade aristocrática para uma sociedade burguesa inconformada. A luta de classes nunca se separa da luta entre sexos, ambas estão num clima de frustração, conseguido através de um texto subtil e violento, um texto político, submerso numa bolha romântica. Fala-se de vício e de virtude, que por vezes se misturam e o autor propõe uma abolição do conceito de culpa.
No prefácio Strindberg escreve que “a peça não pretende suscitar apenas piedade e compaixão, a intenção é que o estudo psicológico e fisiológico abandone os simples sentimentos catárticos do espectador burguês e se torne sinal de uma nova época”. Revolucionário por natureza, Strindberg explorou neste texto uma estética naturalista, procurando a liberdade, mais do que a depressão e demonstra grande consciência das minúcias da linguagem teatral. “Menina Júlia” é uma peça assombrada por símbolos, de confrontos sem trégua, polvilhada de digressões poéticas e atravessada por um sentimento de fim (ou de início) que também encontramos no menos brutal Tchekhov.
Rui Mendes encena um texto marcante pelas inovações estilísticas e pela densidade psicológica das personagens que se movem numa luta de classes, um texto clássico da literatura dramática universal, retomado agora com uma tradução inédita da autoria de Augusto Sobral e um elenco de criativos composto por Manuel Amado (cenografia), Ana Paula Rocha (cenografia e figurinos), Carlos Gonçalves (desenho de luz) e Rui Rebelo (música original).
Por ocasião da apresentação deste espectáculo, e no âmbito do projecto TEIA, o TNDM II promove, no dia 5 de Maio às 18H30, no Salão Nobre, a leitura dos textos Suzy, de António Patrício Léah, de José Rodrigues Miguéis, por Beatriz Batarda e Isabel Abreu. No dia 17 de Maio, às 19h, decorrerá no mesmo espaço, um encontro com o elenco da peça Menina Júlia, onde os actores partilham com o público o lado de dentro dos processos da criação, as suas inquietações e reflexões durante a construção do espectáculo.
“Menina Júlia” estará em cena na Sala Garrett, Teatro Nacional Dona Maria II, de 16 de Abril a 24 de Maio.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (09-04-2009)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Gustavia: o universo burlesco

A arte e a representação que hão-de vir
Mathilde Monnier e Maria La Ribot



"Gustavia" é a união de duas coreógrafas com dois percursos diferentes: Mathilde Monnier e Maria La Ribot. A união dá-se como um casamento em torno de um ponto comum: a reflexão sobre as questões do futuro da arte e da representação. Gustavia é nome de mulher, mas acima disso é um nome artístico fictício. A coreografia é assinada por Mathilde e Maria e interpretada por elas mesmas, num universo que fala de temas que ultrapassam a dança: a mulher, a morte, o teatro, a representação de si, o artista e o seu papel. O palco da reflexão é a Culturgest, nos dias 3 e 4 de Abril, às 21h30.

O espectáculo estreou no festival de dança de Montpellier de 2008 e junta duas coreógrafas. O trabalho de La Ribot passa por um sistema que lhe permite pesquisar, desenvolver e questionar os limites temporais, espaciais e conceptuais da dança, onde usa um vocabulário exigente, com humor e ligações geométricas. Desenvolve espectáculos que ligam as artes vivas, a performance e as artes gráficas, tendo vindo a demonstrar um interesse pelo vídeo, criando peças filmadas em directo do ponto de vista do corpo em movimento.


Mathilde Monier é uma coreógrafa de decisões artísticas de impacto. Nos anos 80 trabalha com Jean-François Duroure, desenvolve um trabalho de confronto, seja através do texto, dos ambientes criados, do movimento da arte. Um dos temas que mais tem trabalhado é o do prazer, da libido na dança. O ano passado apresentou em Portugal “Tempo 76”, criado em torno da noção de uníssono.
Embora com percursos profissionais muito distintos, conheceram-se em 1987 numa apresentação de Mathilde na terra natal de Maria, Madrid. A vida cultural fervilhava com festivais. A partir de 1999 a relação estreita-se e as trocas tornam-se mais frequentes até culminar com a decisão de fazer Gustavia.
As duas profissionais juntam-se numa reflexão comum sobre as questões do futuro da arte e da representação, tomando como base o burlesco clássico, que possui técnicas de troca de papéis e de uma linha de “toca e foge”.
“O burlesco é a arte de transformar a incompetência em competência, pode surgir do excesso de palavras, ou da sua ausência. O burlesco atravessa não só o cinema, mas também o palco, a performance, as artes plásticas. O burlesco do corpo apoia-se no esforço gratuito, na repetição e no acidente. O que é legível no burlesco está oculto na dança, uma vez que esta, na sua essência, não tem nada, ou quase nada, de cómico.
Não é um género, mas permite a utilização de práticas e de maneiras de pensar próprias. Através de uma utilização indirecta dos instrumentos do burlesco, Gustavia procura falar livremente do seu métier: desvios, inquietações, catástrofes e alegrias da relação entre a arte contemporânea e a vida.
Há um enorme paralelismo entre Gustavia e os filmes de cinema mudo. Aliás, o nome Gustavia é inspirado n’Os Palhaços de Fellini. Monier e La Ribot recorrem a elementos cómicos que provocam riso nas plateias. O que as moveu no início deste projecto foi esse universo burlesco, a ideia de mulher, a curiosidade, a história, o teatro e a dança. Repetição, exagero e acidente foram palavras de ordem no processo criativo. A construção passou pela improvisação, pela continuidade do trabalho de ambas, ora uma, ora outra, pegando naquilo que cada uma dava e transformando, continuando, questionando, exagerando, fragmentando, desconstruindo, para construir, para criar. O resultado é um dueto em forma de solo partilhado, a figura de Gustavia desdobra-se.
Em frente a um microfone, botas, cuecas e camisolas pretas. Elas murmuram, cerram lábios e olhos, queixam-se, suplicam, oram, lamentam. Trabalham sobre movimentos idênticos, linhas de mimetismo, passando pelo cómico, num equilíbrio mútuo, brutal.
Na última cena do espectáculo elas estão lado a lado, falam uma por cima do outro, usando gestos e onomatopeias repetitivas, falam da mulher, falam dos próprios movimentos que fizeram antes. Falam do futuro.
O palco é coberto de tecidos negros, onde elas jogam com a repetição, com a acumulação, com o ilusionismo e a queda. Gustavia é uma só mulher, em duas, num palco, num só dueto solista.

ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado no Jornal Semanário (03-04-2009)

IndieLisboa em apresentação

Festival Internacional de Cinema Independente
23 de Abril a 4 de Maio



O IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente conta este ano com a sua 6ª edição, já numa posição de peso nos eventos de cinema nacionais. De 23 de Abril a 4 de Maio, 5 salas recebem um total de 259 longas e curtas metragens enquadradas nas várias secções do festival. A festa do cinema independente estará de volta já este mês.

O festival consolidou a sua posição e tem contribuído para a criação e o alargamento de públicos para um cinema de autor, assim como para a dinamização e enriquecimento da oferta cultural em Lisboa. Este ano, além das salas habituais (Fórum Lisboa, Cinema Londres e Cinema São Jorge), o festival estende a sua dinâmica urbana e invade também o Museu do Oriente e o Cinema City Alvalade.
Esta edição é novamente de crescimento em alguns aspectos quantitativos (no número de salas, sessões e filmes exibidos), mas a aposta do IndieLisboa'09 volta a ser, segundo a direcção do festival, “sobretudo na melhoria de aspectos qualitativos, apurando as linhas essenciais de um programa de filmes original e exigente e multiplicando as iniciativas paralelas que potenciam ainda mais os efeitos dessa programação”.
Na vertente de programação, existem, este ano, algumas alterações na arrumação e designação das secções oficiais e paralelas do festival. Mantendo-se a Competição Internacional, o Observatório, o IndieJúnior e a secção Herói Independente como as secções estruturais do IndieLisboa, há uma nova secção: Cinema Emergente, que “vem compensar a eliminação do agora extinto Laboratório de forma a manter uma presença significativa das novas linguagens do cinema, permite aumentar o peso dos novos autores no conjunto do festival e reforçar a identidade do IndieLisboa enquanto evento dedicado à descoberta e partilha do melhor do novo cinema que se faz actualmente em todo o mundo.”
Nas secções paralelas, acrescentou-se às Director’s Cut e IndieMusic, a secção Pulsar do Mundo, com documentários relevantes e com temáticas actuais, mas com uma forte crítica ou visões actuantes sobre o estado do mundo que importa ver e discutir colectivamente. Este tipo de filmes com uma dimensão política e social marcante sempre fizeram parte da programação do festival, mas agora agrupados numa só secção, contrariamente à sua dispersão pela totalidade do festival, deverão ter mais força e destaque perante o público.
Werner Herzog e Jacques Nolot são os heróis independentes do IndieLisboa 2009, uma homenagem que contará com a presença dos dois cineastas ao longo do festival e com a exibição de 36 curtas e longas-metragens que atravessam os géneros da ficção e do documentário. Realizador premiado nos principais festivais mundiais (Cannes, Berlim e Veneza), Werner Herzog é um dos nomes mais aclamados do Novo Cinema Alemão, ao lado de Rainer Werner Fassbinder e Wim Wenders. O IndieLisboa irá exibir 26 das suas obras, uma programação comissariada por Grazia Paganelli, crítica de cinema italiana e actual programadora do Museu Nacional de Cinema de Turim.
Jacques Nolot cruza a arte e a vida nas três longas-metragens que realizou ao longo da sua carreira. L’Arrière-pays (1997), La Chatte aux Deux Têtes (2002)e Avant que j’oublie (2007) – filme exibido no IndieLisboa 2008 – revelam o carácter autobiográfico da sua obra, expondo a sua juventude atribulada, a descoberta da homossexualidade e experiências mais ousadas. A homenagem que o IndieLisboa 2009 presta a Jacques Nolot é uma iniciativa pioneira que engloba a apresentação de 10 obras representativas dos vários contributos que o cineasta foi dando, ao longo da sua carreira, na área da ficção cinematográfica enquanto argumentista, realizador e actor.
O IndieLisboa'09 decorre de 23 Abril a 3 de Maio e é organizado pela Zero em Comportamento, em co-produção com a EGEAC e com o apoio financeiro do Ministério da Cultura/Instituto do Cinema e Audiovisual, da Câmara Municipal de Lisboa e do Programa MEDIA, da União Europeia.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (03-04-2009)