sexta-feira, 22 de maio de 2009

Panos – palcos novos, palavras novas

3 textos, 6 interpretações, que depois se multiplicam
Palavras para adolescentes e adultos


“Panos – palcos novos, palavras novas” conta este ano com a sua 4ª edição. As peças foram escritas por Tiago Rodrigues, Miguel Castro Caldas e Abi Morgan, pensadas para serem representadas por adolescentes. Depois propõe-se aos grupos de teatro escolar/juvenil o desafio de as estrearem. Os actores têm entre os 12 e os 18 anos e os espectáculos têm duração limitada de uma hora. São palavras novas em novos palcos. Primeiro na Culturgest, de 22 a 24 de Maio.

Este ano inscreveram-se 40 grupos, 30 dos quais estrearam os seus espectáculos. Além disso aumentaram também o número de festivais, ou seja, na Culturgest apresentam-se duas encenações por cada texto, e depois muitos dos espectáculos poderão ser vistos fora dos seus locais habituais, pois partem para espaços como o Teatro Viriato em Viseu, os teatros Sá da Bandeira e Taborda em Santarém, O Teatrão em Coimbra e o Teatro Oficina em Guimarães. Esta propagação dos espectáculos deve-se fundamentalmente ao entusiasmo dos que os acolhem, começando a ver-se realmente uma rede de diálogo cultural, à semelhança daquilo que existe entre o projecto “Connections” do National Theatre de Londres e a rede de experiências semelhantes onde os PANOS se integram e que inclui também Itália (Florença e Milão), Noruega e Brasil (São Paulo).
Este ano deu-se assim: fez-se um workshop em Novembro, com os encenadores Jonathan Humphreys, Gonçalo Amorim e Pedro Gil a trabalharem cada um à volta de um texto com os responsáveis dos grupos e a presença dos autores portugueses. Seguiu-se o período de ensaios, com estreias até ao fim de Abril. Agora apresenta-se tudo num festival de encerramento que dura um fim-de-semana alargado, dois espectáculos (dois exemplos) de cada texto.
Sexta, 22 de Maio, às 18h30 “Coro dos Maus Alunos” de Tiago Rodrigues pela Escola de Teatro da Companhia de Teatro Municipal Arteviva – Turma de Continuidade (Barreiro). O texto volta a ser apresentado no dia seguinte à mesma hora, interpretado pelo Clube de Teatro da EB 2,3 El Rei D. Manuel I (Alcochete). “Coro dos maus alunos” de Tiago Rodrigues é a “história de um velho professor de filosofia com uma “alma jovem”, fã de controvérsias e promotor do espírito crítico dos seus alunos em relação à escola.” Versão contemporânea sobre o julgamento de Sócrates.
Miguel Castro Caldas escreveu “Nós numa Corda”, que será interpretado no dia 22, às 22h pelo Fazigual do Agrupamento Vertical de Escolas de Avis, e no dia 24, pelo Grupo de Teatro Persona da EB2,3/S de Moimenta da Beira. Miguel Castro Caldas, a propósito de “Nós numa corda”, diz coisas como estas: “Lembram-se daquele caso do telemóvel que foi filmado e tudo? Da professora e da aluna? No meu tempo não havia telemóveis, claro, mas nunca nenhum professor me tirou nada. Os professores davam. Davam notas, davam faltas, davam fotocópias, davam o livro de ponto ao pessoal auxiliar. Os alunos é que tiravam: boas notas, negativas, tiravam coisas uns aos outros. Mas mudou alguma coisa? A escola, quando se vai lá, aquilo está sempre cheio de alunos. Que nunca crescem. Têm sempre mais ou menos quinze anos. Ou são os alunos que estão de passagem, e os professores a vê-los passar. Cada um puxa a corda para o seu lado, ou o telemóvel. Quem dá e quem tira, quem percorre os corredores? Ou serão os corredores a percorrê-los?”
“Refuga” é o único texto que não é de um autor português. Abi Morgan é mais uma estreia de uma importante dramaturga inglesa que se faz através dos PANOS. Kodjo tem 14 anos mas ninguém acredita nele. Ara vem de Bagdad e ainda ouve as bombas à noite. Chang consegue dar mortais para trás e vem de uma aldeia na China que tem mais de mil anos. Eles têm todos as suas histórias, que contam juntos. Interpretado pelo Na Xina Lua da ES Tondela, no dia 23, e pelos alunos do projecto de Teatro d’O Teatrão (Coimbra), no dia 24.
Três textos de três autores que são interpretados cada um duas vezes, o que dá seis representações, mas depois eles partem por aí pelo país para que todos os ouçam.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (22-05-2009)

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