Nova vaga dos anos 60
Ciclo de cinema “Eros + Revolta”
“Eros + Revolta, O novo cinema japonês dos anos 60” é o novo ciclo de cinema programado pela Culturgest, a ter início na próxima 3ª feira, dia 12 de Maio, comissariado por Augusto M. Seabra.
Nos novos cinemas dos anos 60, os japoneses, pelo menos os de maior relevo tiveram uma atitude de mudança, muito diferente daquilo que acontecia noutras partes do mundo. O sistema de estúdios em que se fundara o cinema clássico japonês, de Mizoguchi, Ozu ou Naruse, ou a geração humanista do pós-guerra, a de um Kurosawa, fez com que se estreassem realizadores, exactamente pelas normas diferenciadas desse sistema.
Naquela altura, ao mesmo tempo que se discutia com enormes manifestações de rua a renovação do tratado de defesa nipo-americano, o cinema japonês sofreu uma revolução. Chamaram-lhe «“Shochiku Nabero Bagu”, compósito singular porque a Shochiku era (e é) uma das grandes empresas cinematográficas japonesas e “Nabero Bagu” é a transcrição fonética da pronúncia japonesa de “Nouvelle Vague”.»
Os estúdios japoneses queriam fazer filmes para um público jovem, e foi isso que fizeram. A ruptura foi quase imediata, apenas Seijun Suzuki, de uma geração mais velha, permaneceu mais alguns anos no sistema, no seio do cinema erótico “pinku eiga” e no “Nikkatsu Action”, de um modo profundamente original.
Neste ciclo apresentam-se filmes de todos os autores maiores, em termos de ficção, com destaque justificado para Oshima mas também para o génio iconoclasta de Suzuki (autor que Quentin Tarantino amplamente “citou” em Kill Bill).
Nagisa Oshima abre o ciclo, no dia 12, com “Taiyo no hakaba” (O Enterro do Sol) e “Nihon no yonu tokiri” (Noite de Nevoeiro no Japão), dois filmes de 1960, produzidos pela Sochiku. O segundo destes filmes, em que critica a esquerda tradicional e os movimentos estudantis, foi retirado da circulação pela produtora, uma semana depois de ter estreado, no seguimento do assassinato de um líder político socialista. Oshima rompe com a Sochiku e forma a sua própria produtora independente, Sozosha, para quem realizou os dois outros filmes apresentados neste ciclo, a 13 e a 17 de Maio, respectivamente, “Nihon shunka ko (“Sobre as Canções Brejeiras Japonesas”) e Koshikei, (“O Enforcamento”), a sua primeira obra a ser largamente difundida no Ocidente. Em 1976 conquista o Ocidente com “O Império dos Sentidos”.
“Eros + Revolta, O novo cinema japonês dos anos 60” é o novo ciclo de cinema programado pela Culturgest, a ter início na próxima 3ª feira, dia 12 de Maio, comissariado por Augusto M. Seabra.
Nos novos cinemas dos anos 60, os japoneses, pelo menos os de maior relevo tiveram uma atitude de mudança, muito diferente daquilo que acontecia noutras partes do mundo. O sistema de estúdios em que se fundara o cinema clássico japonês, de Mizoguchi, Ozu ou Naruse, ou a geração humanista do pós-guerra, a de um Kurosawa, fez com que se estreassem realizadores, exactamente pelas normas diferenciadas desse sistema.
Naquela altura, ao mesmo tempo que se discutia com enormes manifestações de rua a renovação do tratado de defesa nipo-americano, o cinema japonês sofreu uma revolução. Chamaram-lhe «“Shochiku Nabero Bagu”, compósito singular porque a Shochiku era (e é) uma das grandes empresas cinematográficas japonesas e “Nabero Bagu” é a transcrição fonética da pronúncia japonesa de “Nouvelle Vague”.»
Os estúdios japoneses queriam fazer filmes para um público jovem, e foi isso que fizeram. A ruptura foi quase imediata, apenas Seijun Suzuki, de uma geração mais velha, permaneceu mais alguns anos no sistema, no seio do cinema erótico “pinku eiga” e no “Nikkatsu Action”, de um modo profundamente original.
Neste ciclo apresentam-se filmes de todos os autores maiores, em termos de ficção, com destaque justificado para Oshima mas também para o génio iconoclasta de Suzuki (autor que Quentin Tarantino amplamente “citou” em Kill Bill).
Nagisa Oshima abre o ciclo, no dia 12, com “Taiyo no hakaba” (O Enterro do Sol) e “Nihon no yonu tokiri” (Noite de Nevoeiro no Japão), dois filmes de 1960, produzidos pela Sochiku. O segundo destes filmes, em que critica a esquerda tradicional e os movimentos estudantis, foi retirado da circulação pela produtora, uma semana depois de ter estreado, no seguimento do assassinato de um líder político socialista. Oshima rompe com a Sochiku e forma a sua própria produtora independente, Sozosha, para quem realizou os dois outros filmes apresentados neste ciclo, a 13 e a 17 de Maio, respectivamente, “Nihon shunka ko (“Sobre as Canções Brejeiras Japonesas”) e Koshikei, (“O Enforcamento”), a sua primeira obra a ser largamente difundida no Ocidente. Em 1976 conquista o Ocidente com “O Império dos Sentidos”.
Yoshishige Yoshida ingressou, como Oshima, nos estúdios Soshiku, e foi o segundo realizador a quem a produtora deu oportunidade para realizar um filme (Oshima foi o primeiro). “Akitsu Onsen” (“As Termas de Akitsu”), projectado neste ciclo, no dia 13, foi o seu quarto filme para a Soshiku, e teve bastante sucesso. Em 1964 abandona o estúdio, depois da produtora ter retirado de circulação os últimos filmes que lhe produziu, e forma a sua própria companhia independente. Realizou, entre 1965 e 1973, seis obras que foram distribuídas pelos grandes estúdios japoneses, entre os quais “Eros + Gyakusatsu” (“Eros+Massacre”), projectado no dia 17.
Na quinta-feira, dia 14, serão projectados dois filmes de Shohei Imamura: “Nippon konchuki” (A Mulher-Insecto) e “Akai Satsui” (Intenção de Matar / Desejo Profano), os últimos filmes que realizou para a Nikkatsu e que firmaram o seu prestígio como um realizador com uma personalidade única e uma das figuras de proa do “Nova Vaga” do cinema japonês.
Em 1969, depois de ter filmado mais 11 produções, Koji Wakamatsu realiza” Yuke yuke nidome no shojo” (Go, Go, second time virgin), que podemos ver no dia 15, filmado no telhado da sua produtora, que já foi considerado um dos filmes “mais cruelmente belos do cinema japonês”. Wakamatsu é muito mais do que um realizador de pink films, que vive à margem dos mercados. É um cineasta radical, político, e extremamente inovador.
Toshio Matsumoto terá também um filme seu projectado no dia 15: “Bara no Soretsu” (O Funeral das Rosas), a sua primeira longa-metragem de ficção. «O seu propósito criativo “era perturbar o esquema perceptivo de um mundo dual que divide factos e ficção, homens e mulheres, objectivo e subjectivo, mental e físico, sinceridade e simulação, tragédia e comédia”.»
O dia 16 é dedicado a Seijun Suzuki. Durante os doze anos que trabalhou para a Nikkatsu realizou perto de 40 filmes de série B, entre os quais os três que poderão ser vistos neste ciclo. A pouco e pouco ia transmitindo aos seus filmes um estilo cada vez mais pessoal, progressivamente marcado “por um humor absurdo, uma realização surrealista e experimentações visuais desconcertantes”. “Tokyo nagaremono” (O Vagabundo de Tóquio) é um dos expoentes dessa sua fase. Além deste filme serão projectados “Nikutai no mon” (A Porta da Carne) e “Kenka erejii” (Elegia da Luta).
Masahiro Shinoda será representado com o filme “Shinju tem no Amijima” (Duplo Suicídio em Amijima), projectado no último dia deste ciclo. Baseado numa peça de teatro de marionetas do séc. XVIII, com banda sonora de Toru Takemitsu, que também colaborou no argumento, é considerado como uma das suas obras-primas.
Os filmes são legendados em inglês, excepto “O Enforcamento” que será legendado em português. Os bilhetes têm o preço único de 3,5 euros.
ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (08-05-2009)
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