Estreia mundial da ópera “Outro Fim”
Este sábado, dia 20, pelas 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, terá lugar a estreia mundial da ópera “Outro Fim”, de António Pinho Vargas com libreto de José Maria Vieira Mendes, uma co-produção do Teatro Nacional de São Carlos e da Culturgest
“Outro Fim” é uma história operática, que inclui em si mesma todos os ingredientes: tragédia, romance, desespero. Sobre si pairam os dramas familiares, as histórias de vida dos que, face a um quotidiano pouco exaltante e exaustivo, acabam por chegar às tragédias, quase como se fosse esse o cume para onde caminham ao longo de toda a subida construída ao longo da obra.
O espectáculo repete no domingo, dia 21, à mesma hora. Os bilhetes têm o preço de 25 euros, mas, como é habitual na Culturgest, até aos 30 anos os bilhetes têm um preço único de 5 euros.
“Outro fim” acontece em tempo reduzido, como se fosse um concentrado, pronto a diluir dentro de cada um de nós. A princípio parece contemplar espaço para todos, mas no final tem apenas espaço para poucos, os essenciais. Tudo começa com José Maria Vieira Mendes, essa grande promessa contemporânea. Primeiro havia a memória de um filme, depois a leitura de um livro e depois foi escrevendo e compondo aquilo que passou à condição de libreto. Ele próprio assim o comunica, ao processo: “Havia a memória de um filme. Uma memória que não era muito mais nítida que as imagens da sobreposição de duas caras, duas películas justapostas a encaixarem-se. Era também a ideia de máscara, era a palavra “persona”, era as duas mulheres, as identidades a confundirem-se. Era um reforço da ficção, uma demonstração da ficção. Para refrescar a memória não revi o filme, mas li o livro. Roubei umas frases que já não sei se ficaram e interessei-me quase em simultâneo por uma antiga ideia de ópera. E depois fui começando até acabar num libreto de Série B. Ou seja, uma história operática, com todos os ingredientes – trágica, romântica, desesperada – mas em tempo reduzido. Concentrada e apertada. A princípio ainda com espaço para todos, mas no final já só com espaço para poucos. E por culpa disto, por falta de espaço e também de tempo, as identidades, lá está, misturam-se, sobrepõem-se e atraem-se como o mercúrio. Os muros apertam, as portas fecham-se, as “personas” são obrigadas a encolher, a juntar-se aos outros até deixarem de ser. Ou até se mostrarem – e este é um vício que ainda não sou capaz de abandonar – gente de um autor, coisa de papel, fina película sem carne nem osso.” Só este texto de José Maria Vieira Mendes já seria suficiente por si só a suscitar a necessidade composta de criação de António Pinho Vargas. É isso que acontece.
António Pinho Vargas pega no libreto “Outro Fim” de José Maria Vieira Mendes e constrói uma ópera, na qual conta com direcção musical de Cesário Costa; encenação e espaço Cénico de André Teodósio, em parceria com Vasco Araújo, e com interpretação de Larissa Savchenko (Mãe), Sónia Alcobaça (Mulher), Madalena Boléo (Cunhada), Luís Rodrigues (Homem), Mário Alves (Irmão) e ainda elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa. A equipa é já de si promissora. Quando o lê pela primeira vez, esse libreto, António Pinho Vargas sente três coisas: “que as palavras tinham uma plasticidade muito adequada a uma ópera, que a acção dramática se desenrolava com o ritmo de uma peça de teatro e, finalmente, que as personagens eram ricas, tinham espessura e complexidade psicológica. O trabalho de composição tinha, de facto, tudo para poder ser começado e assim, começa pelo texto, pela interpretação das situações e pela consideração do seu potencial.”
Vai criando materiais musicais que são sujeitos a transformações e a derivações de si mesmos conforme o desenrolar da acção e a contingência do próprio acto criativo. Por exemplo, “A divisão do palco em três lugares da acção visíveis em simultâneo, sendo um deles um café, motivou a escolha de divisões entre a localização principal dos músicos no fosso e de pequenos grupos instrumentais on stage em certos momentos.”
Esta é uma obra operática para ver este fim-de-semana na Culturgest, para saborear os ingredientes dentro de cada momento e de cada espaço no palco, mas para diluir posteriormente o essencial que estará comprimido espacial e temporalmente, mas não criativamente. Para deixar entrar.
Este sábado, dia 20, pelas 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, terá lugar a estreia mundial da ópera “Outro Fim”, de António Pinho Vargas com libreto de José Maria Vieira Mendes, uma co-produção do Teatro Nacional de São Carlos e da Culturgest
“Outro Fim” é uma história operática, que inclui em si mesma todos os ingredientes: tragédia, romance, desespero. Sobre si pairam os dramas familiares, as histórias de vida dos que, face a um quotidiano pouco exaltante e exaustivo, acabam por chegar às tragédias, quase como se fosse esse o cume para onde caminham ao longo de toda a subida construída ao longo da obra.
O espectáculo repete no domingo, dia 21, à mesma hora. Os bilhetes têm o preço de 25 euros, mas, como é habitual na Culturgest, até aos 30 anos os bilhetes têm um preço único de 5 euros.
“Outro fim” acontece em tempo reduzido, como se fosse um concentrado, pronto a diluir dentro de cada um de nós. A princípio parece contemplar espaço para todos, mas no final tem apenas espaço para poucos, os essenciais. Tudo começa com José Maria Vieira Mendes, essa grande promessa contemporânea. Primeiro havia a memória de um filme, depois a leitura de um livro e depois foi escrevendo e compondo aquilo que passou à condição de libreto. Ele próprio assim o comunica, ao processo: “Havia a memória de um filme. Uma memória que não era muito mais nítida que as imagens da sobreposição de duas caras, duas películas justapostas a encaixarem-se. Era também a ideia de máscara, era a palavra “persona”, era as duas mulheres, as identidades a confundirem-se. Era um reforço da ficção, uma demonstração da ficção. Para refrescar a memória não revi o filme, mas li o livro. Roubei umas frases que já não sei se ficaram e interessei-me quase em simultâneo por uma antiga ideia de ópera. E depois fui começando até acabar num libreto de Série B. Ou seja, uma história operática, com todos os ingredientes – trágica, romântica, desesperada – mas em tempo reduzido. Concentrada e apertada. A princípio ainda com espaço para todos, mas no final já só com espaço para poucos. E por culpa disto, por falta de espaço e também de tempo, as identidades, lá está, misturam-se, sobrepõem-se e atraem-se como o mercúrio. Os muros apertam, as portas fecham-se, as “personas” são obrigadas a encolher, a juntar-se aos outros até deixarem de ser. Ou até se mostrarem – e este é um vício que ainda não sou capaz de abandonar – gente de um autor, coisa de papel, fina película sem carne nem osso.” Só este texto de José Maria Vieira Mendes já seria suficiente por si só a suscitar a necessidade composta de criação de António Pinho Vargas. É isso que acontece.
António Pinho Vargas pega no libreto “Outro Fim” de José Maria Vieira Mendes e constrói uma ópera, na qual conta com direcção musical de Cesário Costa; encenação e espaço Cénico de André Teodósio, em parceria com Vasco Araújo, e com interpretação de Larissa Savchenko (Mãe), Sónia Alcobaça (Mulher), Madalena Boléo (Cunhada), Luís Rodrigues (Homem), Mário Alves (Irmão) e ainda elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa. A equipa é já de si promissora. Quando o lê pela primeira vez, esse libreto, António Pinho Vargas sente três coisas: “que as palavras tinham uma plasticidade muito adequada a uma ópera, que a acção dramática se desenrolava com o ritmo de uma peça de teatro e, finalmente, que as personagens eram ricas, tinham espessura e complexidade psicológica. O trabalho de composição tinha, de facto, tudo para poder ser começado e assim, começa pelo texto, pela interpretação das situações e pela consideração do seu potencial.”
Vai criando materiais musicais que são sujeitos a transformações e a derivações de si mesmos conforme o desenrolar da acção e a contingência do próprio acto criativo. Por exemplo, “A divisão do palco em três lugares da acção visíveis em simultâneo, sendo um deles um café, motivou a escolha de divisões entre a localização principal dos músicos no fosso e de pequenos grupos instrumentais on stage em certos momentos.”
Esta é uma obra operática para ver este fim-de-semana na Culturgest, para saborear os ingredientes dentro de cada momento e de cada espaço no palco, mas para diluir posteriormente o essencial que estará comprimido espacial e temporalmente, mas não criativamente. Para deixar entrar.
ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (19.12.2008)
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