segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Juan Muñoz: uma retrospectiva


Forma humana de arte
Escultura em Serralves

A exposição do escultor Juan Muñoz no Museu de Serralves poderá constituir, por si só, um motivo para ir ao Porto. Depois de ter passado por Londres e Bilbao, a mostra de um dos escultores mais inovadores dos últimos anos poderá ser vista até ao dia 18 de Janeiro.

Exposição co-produzida pela Tate Modern, Londres, e a Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior de España – SEACEX, em associação com o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, a exposição do escultor espanhol Juan Muñoz, chega à cidade do Porto, depois de passar pela Tate Modern, em Londres, e pelo Museu Guggenheim, em Bilbao.
O artista Juan Muñoz faz parte de uma geração de artistas europeus surgidos nos últimos vinte anos, cuja obra alargou consideravelmente a linguagem da escultura, por ter recolocado a figura humana no centro da arte, criando tantas vezes obras que provocam não só sensações momentâneas através da utilização da ilusão óptica, mas que nos provocam sensações e reflexões retardadas no tempo por nos recolocar numa posição de questionamento artístico e individual. Ao longo da sua carreira, precocemente terminada, Muñoz conseguiu devolver à figura humana um lugar central na arte mas recolocando-a, através da sua perspectiva única, num local ao mesmo tempo familiar e estranho.
Muñoz nasceu em Madrid em 1953. Na década de setenta viajou para Inglaterra para estudar no Croydon College e na Central School of Art and Design. Em 1982 viajou para os Estados Unidos, prosseguindo os estudos no Pratt Centre de Nova Iorque. Teve a sua primeira exposição em 1984 na galeria Fernando Vijande, de Madrid. Desde então expôs os seus trabalhos frequentemente na Europa e em outras partes do mundo. O escultor faleceu subitamente, aos 48 anos de idade, na sua casa de Verão em Ibiza, a 28 de Agosto de 2001. Na altura da sua morte a sua obra Double Bind estava em exposição na Tate Modern, em Londres. Foi este o museu a mostrar primeiro esta exposição que possibilita ao público conhecer e viajar pela sua obra, através de uma visão que funciona em retrospectiva.
A exposição, agora patente em Serralves, inclui obras chave de todos os aspectos do trabalho de Juan Muñoz, incluindo as bem conhecidas esculturas e instalações, mas também som e os esboços dos desenhos Raincoat, entre outras séries. Inovadora e abrangente, esta mostra cria, através do encontro com as suas conversation pieces ou esculturas sonoras, formas inteiramente novas de ver e pensar sobre nós.
Muñoz alcançou a notoriedade em meados da década de 1980, altura em que protagonizava o movimento vanguardista do regresso à forma humana na arte. As figuras de Muñoz não são, contudo, a matéria tradicional da escultura clássica. “Situadas em ambientes arquitectónicos, podem estar sentadas em bancos ou colocadas a meia altura numa parede. São, com frequência, figuras de um circo, de um teatro ou de um quadro de Velázquez – anões, pontos de teatro, bailarinas – imobilizadas num momento e subentendendo uma história implícita que ao público cabe imaginar.”. Esta não-categorização das figuras, que por isso podem ser categorizadas e rotuladas pelo público, ou não, porque cabe a cada um integrá-las num espaço próprio, distanciado da própria condição de escultura, constitui a principal essência do trabalho de Muñoz, que desta forma criou no seu tempo um movimento de vanguarda, mas que perdura pela sua capacidade de fazer reflectir, sem tempo.
Além disso, e apesar de naturalistas, as figuras que constituem as suas esculturas têm uma estatura inferior à dos humanos, parecendo por isso feitas à escala real quando observadas à distância mas distantes do observador quando vistas de perto, uma ilusão óptica frequentemente utilizada pelo autor. Esta é, sem dúvida, uma exposição a não perder e que ficará aberta ao público, no espaço do Museu de Serralves, durante mais um mês, tendo inaugurado no mês de Outubro. A próxima visita guiada a esta exposição será realizada a 13 de Janeiro, às 18h30, por João Fernandes.
ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado no Jornal Semanário (12.12.2008)

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