terça-feira, 28 de abril de 2009

Adolescência: um ponto sem retorno

“Once and for all we’re gonna tell you who we are so shut up and listen”

We’re gonna do a play about teenagers
but about a lot more than teenagers
who feel like teenagers during their teens:
about the utter chaos in our heads,
the urge to go far too far, pimples
and dozens of other topics that will enrich your lives
We’ll pull down the barriers between the way we are onstage and off
We’ll update the definition of puberty
We get on your nerves, but for once you'll understand why.
We will make all other art on puberty superfluous
You’ll think we’re super cool.



13 adolescentes entre os 14 e os 18 anos. São cool, brincam, sentem, comportam-se como crianças, como adultos, de forma agressiva, de forma vulnerável. “Once and for all we’re gonna tell you who we are so shut up and listen” é o nome do espectáculo que chega a Portugal através de Ontroerend Goed, Kopergietery e Richard Jordan Productions Ltd. O caos, o movimento, a adolescência e o que ela envolve compõem o seio deste trabalho.

Apesar de ser feita por adolescentes, esta peça é para adultos. Os jovens trabalham o universo da rebeldia, com comportamentos agressivos, no fundo tentam definir-se e, por isso, umas vezes são crianças, outras são adultos.
Esta é a segunda vez na programação anual da Culturgest que encontramos um espectáculo com crianças/jovens. Em Novembro “That Night Follows Day”, de Tim Etchells/Victoria, com crianças entre os 8 e os 14 anos, agora é a vez de outra companhia de Gent vir a Lisboa com uma produção semelhante por trabalhar com jovens. Este é o ponto comum: têm crianças e jovens em palco, apresentam corpos, vozes e formas de estar em cena que desafiam o teatro convencional.
Contudo, esta peça parece ser o oposto da anterior: adolescência versus infância, caos versus ordem, movimento versus texto. Este excerto explica bem o conceito: “Vamos fazer uma peça sobre adolescentes mas sobre muito mais que adolescentes que se sentem como adolescentes durante a adolescência: sobre o caos total nas nossas cabeças, a vontade de ir longe demais, borbulhas e dúzias de outros assuntos que vão enriquecer as vossas vidas. Vamos derrubar as barreiras entre o modo como estamos em palco e fora dele, vamos actualizar a definição de puberdade. Damo-vos cabo do juízo, mas por uma vez vão perceber porquê. Vamos tornar supérflua toda a outra arte sobre a adolescência. Vão achar que nós somos super cool.”
Quando era mais novo, Alexander Devriendt, que dirige o espectáculo, participou em vários espectáculos de e para adolescentes, mas sempre se divertiu mais fora de cena. Segundo ele, a puberdade foi o tempo mais excitante da sua vida, pela liberdade que sentia, pelo poder das escolhas que se fazem nessa altura e que podem ser para o resto da vida. “A puberdade é uma das maiores tranformações da vida humana. Uma transformação de ninguém para alguém.” Na adolescência podemos tornarmo-nos qualquer coisa, tudo é possível e não existem as responsabilidades da vida adulta. Por outro lado a auto-consciência vai crescendo, qualquer passo que damos é observado, toda a gente olha para nós e tentamos libertar-nos dos sistemas que nos condicionam.
A puberdade é um universo cheio de clichés e esta performance procura também a percepção dos próprios adolescentes. Eles têm três percepções para visualizar: os seus próprios clichés de adolescentes, os dos seus pais e aquilo que realmente pensam sobre si próprios.
A adolescência é normalmente vista como algo negativo, criticável, mas na verdade, esta é uma altura em que se pode criticar tudo e ser desculpado, criticar sem ter de apresentar uma alternativa. Simultaneamente, é uma altura em que se começa a ficar preocupado com aquilo que os outros pensam sobre nós mesmos.
Esta peça pretende ir contra a ideia de que os adolescentes perdem o seu espírito rebelde quando se encontram em palco. A inexperiência, a frontalidade e as explosões incontroláveis que caracterizam a adolescência precisam ser visíveis e tangíveis no palco. A fronteira entre ficção e verdade é muito ténue e o que é evidente é a energia pura dos intérpretes, visível em palco, não é tratada como força destruidora, mas como prazer de ultrapassar e explorar os limites, sem que ninguém venha dizer como ou porquê.
Na quinta-feira, dia 16 de Abril, pelas 21h30, no Palco do Grande Auditório da Culturgest. A peça será também apresentada nos dias 17 e 18, pelas 21h30.


ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (09-04-2009)

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