terça-feira, 28 de abril de 2009

Histórias de Aldina Duarte


Mulheres ao Espelho


Na quarta-feira, dia 22 de Abril, às 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, terá lugar o concerto “Mulheres ao Espelho” de Aldina Duarte, baseado no último disco da fadista com o mesmo título. Uma história feminina que engloba 11 histórias. O todo é maior que as partes.

Aldina conta a sua história. Nasceu em Lisboa. Cresceu em Chelas num bairro social. Da sua mãe apreendeu a dar importância a aprender com tudo, a dar importância à imaginação e aos sonhos, como forma de superar dificuldades reais. Apreendeu também a crença na vida e a capacidade de escutar o coração.
Começou a cantar no coro de um grupo meio musical, meio teatral, "Valdez e as Piranhas Douradas". Entre uma vida diurna e uma vida nocturna, durante um ano, participei no filme "Xavier", de Manuel Mozos, a cantar o fado "A Rua do Capelão", porque as filmagens eram mesmo na Rua do Capelão, na Mouraria. “Os moradores da zona bateram tantas palmas que tive de repetir o fado só para eles ouvirem. Nunca mais esqueci essa noite e desde então sempre senti um grande respeito por esta arte.”, especifica Aldina na sua biografia.
Depois de uma conversa com Beatriz da Conceição, quis ser fadista. A partir daí começou a ouvir mais, a consumir mais fado, a cantar mais, em teatro, em televisão, em casas de fado. O caminho foi-se traçando e já passou pela internacionalização, tendo cantado no Piccolo Teatro de Milão, em Marrocos, em Viena ou na Bélgica. O fado tem ido além de Lisboa, mas agora também volta a ela, a um palco grande, onde apresentou “Crua” e onde apresentará “Mulheres ao Espelho”, o seu terceiro disco, com o selo da sua própria editora e produtora musical (Roda-Lá Music).
Este disco conta com 11 canções, onde Aldina se mostra como reflexo da vida, daquilo que foi construindo e aprendendo. Em palco, ela revela sabedoria e ingenuidade, uma força que cativa o público e que é sempre diferente, quer a vejamos num grande espaço como a Culturgest ou numa casa de fados, como por exemplo a Sr. Vinho, a casa de Maria da Fé, onde permanece. Mas essa diferença não vem do tamanho da sala, vem da experiência e da sensibilidade de Aldina, que é parece ser sempre distinta. Esta ideia de distinção dentro de si própria coaduna-se com a ideia de “Mulheres ao Espelho”, transmitindo o conceito de que ela é várias e de que o conjunto das várias faz de Aldina uma mulher com carisma. Este é um trabalho mais maduro do que o anterior, onde se sente crescimento. Uma etapa com novidade, mas onde se mantém o peso do fado e as suas próprias histórias e dos seus elementos. “Mantive os rituais que sempre achei distintos e belos no fado: o xaile preto, o vestido preto, discreto e elegante, o silêncio, a luz baixa, tudo o que sempre me deslumbrou desde a primeira vez que vi e ouvi diversos fadistas que, tantas vezes, diziam, O fado é uma coisa muito séria porque é sagrado.” E manteve também a sua ingenuidade ao cantar, apesar da sua maturidade enquanto mulher e enquanto fadista. Aldina teve o desejo de contar uma história feminina ao longo de 11 temas. Cada fado encerra em si mesmo uma história única, que vale por si, com princípio, meio e fim. Estas são histórias banais e familiares, que provocam sensações e sentidos; e aos sentimentos universais um confronto entre o que é individual e complementar, o que é masculino, feminino, ou de ambos.
Nas palavras de Maria do Rosário Pedreira: “O disco regista uma única Aldina, e isso já é mais do que aquilo a que temos direito; mas coloque-se agora este espelho diante de nós, num palco, e deleitemo-nos: porque a Aldina, sendo única, há-de ser ao vivo sempre outra, de fado em fado, como num infindável jogo de espelhos.”. “Mulheres ao Espelho” é um disco que se aconselha a ouvir em palco. Se não ouvir agora, que seja no Sr. Vinho, ou que venha a ser numa dessas cidades por onde tem passado.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (17-04-2009)

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