segunda-feira, 23 de março de 2009

Goya viverá no Museu Rainha Sofia

Espaço de Artes Plásticas
Os “Caprichos” e os “Desastres” cedidos pelo Prado

Os “Caprichos” e os “Desastres da guerra”, de Goya, entrarão de forma permanente no Museu Rainha Sofia, cedidos pelo Museu do Prado. O acordo entre os dois centros foi confirmado esta semana pelo director do Prado, Miguel Zugaza. Este acto servirá a Manuel Borja-Villel, do Rainha Sofia, no sentido em que está a trabalhar na reordenação da colecção permanente da instituição, que começou há alguns meses. Com esta reorganização, mostra uma mudança substancial e histórica no discurso do Museu que preside.
Assim, em sua visão profundamente pessoal, o começo da história de arte moderna situa-se em Goya, e não no nascimento de Picasso, como tem vindo a ser entendido desde a fundação do museu em 1990. A ideia de mudança surgiu de Borja-Villel e se resolveu numa das reuniões entre os dois directores. Planeou-se uma actuação em duas frentes: conceptual e administrativa. Segundo as palavras de Zugaza “Goya explica como nenhum artista a arte do século XX.”.


No plano administrativo, era necessário mudar a normativa estabelecida no decreto de 17 de Março de 1995, que via no nascimento de Picasso um corte limpo entre as duas colecções. Não houve resistência na mudança por parte de nenhuma das administrações. Havendo acordo entre os dois museus seria absurdo que a lei se mostrasse inflexível, pelo que não se criaram obstáculos.
As 162 pinturas de Goya entre 1799 e 1810 fazem parte do depósito. O “Guernica”, propriedade do Prado estará no Rainha Sofia desde 1992, sendo uma das suas obras mais emblemáticas. Para Borja-Villel é claro onde situará Goya na sua visão do museu. A primeira mudança profunda é na colecção permanente desde meados dos anos 90 e que será apresentada ao público a 28 de Maio. Na nova ordem, as gravuras ficarão em diferentes espaços. O plano passa ainda por instalar “Os desastres da guerra” numa sala dedicada à “Espanha Negra”, junto a Zuloaga e a Gutiérrez Solana. Por trás desta decisão está a sua visão não formalista da história de arte, que fará conviver Goya com “A mulher azul” (1901) de Picasso, num grande espaço dedicado ao Modernismo e ao Decadentismo.
A segunda presença de Goya fará sentir-se na sala anexa, um espaço inspirado em “Luzes da Boémia”, de Valle-Inclán. Um exemplar original da obra estará junto a Darío de Regoyos, um dos novos vizinhos de “Os Caprichos”. “Este é o princípio de um diálogo constantemente entre as duas instituições”.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (20.03.2009)

Sem comentários: