sexta-feira, 27 de março de 2009

Ouvir: Ver – A experiencia do som no cinema

A complementaridade entre som e imagem
Ciclo de cinema na Culturgest




A partir da próxima quarta-feira, dia 1 de Abril, às 18h30, o Pequeno Auditório da Culturgest receberá o ciclo de cinema “Ouvir: Ver – A experiencia do som no cinema”. Com programação a cargo de Ricardo Matos Cabo, este programa propõe a abordagem das relações entre o som e a imagem no cinema. De 1 a 6 de Abril, com bilhetes a 3.5 euros e um conjunto de 14 sessões de cinema.

Apesar do ponto de partida ser a relação do som e da imagem no cinema, este não é um programa que esteja restringido a isto, ao som no cinema ou ao desenvolvimento do sonoro, procura antes ser um “percurso por diversas formas de pensar as complementaridades entre o som e a imagem; por tentativas de harmonização/conflito entre os dois elementos; finalmente, por uma série de obras muito diversas entre si que privilegiam as questões relacionadas com a visualização da experiência sonora pelo meio da imagem.”
O cinema nunca terá sido realmente silencioso, foi mudo, como refere Hollis Frampton, mas a partir do final dos anos 20, dá-se uma expansão industrial da tecnologia de som no cinema. A própria mudança progressiva e generalizada para o sonoro instituiu uma tensão entre as duas entidades som/ imagem, exploradas agora neste ciclo, que retoma o título de um texto de Paul Sharits sobre a natureza das relações sonoras, a harmonização entre som e imagem, a composição visual, a complementaridade entre imagem e som, as descontinuidades e as rupturas entre os dois elementos.
O programa possibilita um percurso por alguns momentos e obras, reflectindo, entre outras questões, “a exploração das contradições latentes nas práticas industriais e meramente reprodutivas do som (Fisher), uma pesquisa "enciclopédica" sobre as relações entre o som e a imagem tendo por base os jogos de linguagem (Snow), a procura de uma síntese entre a representação e a música (Kagel), alguns filmes documentais em que o som é parte fundamental para a orquestração dos elementos da imagem (Cavalcanti, Wright), exemplos de fronteira na viragem do mudo para o sonoro (com o primeiro filme sonoro soviético, o espantoso Sozinha), explorações poéticas e orquestrais sobre a natureza da escrita Sonora, o privilégio do imagismo e do silêncio (Brakhage, Hutton) e o privilégio da observação visual e sonora como princípio de composição fílmica (Benning, Tsuchimoto).”
O ciclo terá nos seus 6 dias de duração sessões às 18h30 e às 21h30 (sábado e domingo também às 15h/15h30) que englobam sempre mais do que um filme e que têm sempre uma visão destas duas linguagens e da sua história.
A abertura do ciclo dá-se com “Histórias Sonoras”, de onde se desataca o filme Odna (Sozinha) de Grigori Kozintsev e Leonid Trauberg (1931), uma das referências mais importantes da transição do mudo para o sonoro. Na mesma noite “Os ouvidos, mais atentos do que os olhos” com Entuziazm (Sinfoniia Donbassa) de Dziga Vertov, 1930 (1972), entre outros. Um documentário de Dziga Vertov em três movimentos sobre o primeiro plano quinquenal soviético do final dos anos 20. É um trabalho de montagem e organização sonora das imagens numa crescente tensão entre o som e a imagem. O filme, redescoberto pelos movimentos de vanguarda da década de 60, é aqui apresentado no restauro feito por Peter Kubelka, que restituiu ao filme a relação original pretendida entre o som e a imagem.
Na quinta-feira, “Já sabemos ver, mas agora vamos ouvir a erva a crescer”, de onde destacamos Le Tempestaire de Jean Epstein (1947). O filme de Epstein é o culminar da reflexão cinematográfica do realizador e uma verdadeira revolução sonora. À noite, “A orquestração sonora” com documentários que evidenciam a criatividade da Unidade de Produção Cinematográfica dos Correios Britânicos na década de 30.
Sexta-feira, as propostas são “O sentido silencioso do filme: Stan Brakhage” e “Robert Beavers: a arquitectura sonora do cinema”, onde se apresentam filmes que abordam estas duas figuras do cinema.
No sábado, “Correspondências entre o som e a imagem”. A procura de uma equivalência entre o som e a imagem corresponde, na história do cinema, a um género particular de exploração das possibilidades contidas no próprio material fílmico. Os filmes apresentados nesta sessão investigam a complementaridade e interacção som/ imagem, a possibilidade de tornar visíveis os sons através da síntese sonora. Mais tarde, projectam-se filmes de Mauricio Kagel, e às 21h30, “A voz: série, repetição”, sessão organizada segundo um princípio comum a todos os filmes: a exaustão de uma forma através da repetição e da reverberação.
O último dia do ciclo conta com “Michael Snow e as relações som – imagem”, “Uma sinfonia urbana” e “Olhar e ouvir: James Benning”.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (27-03-2009)

1 comentário:

Ian C. Lima disse...

Faz tempo que estou desesperadamente à procura do filme Odna (1931), há alguma possibilidade de conseguir?
quem souber, me mande email por favor. ianclima@gmail.com