Nitin Sawhney em Lisboa
Concerto em retrospectiva
Nitin Sawhney esteve em Lisboa para um concerto global, mas sem a energia que se esperava. Na passada terça-feira, o Coliseu de Lisboa encheu e à hora marcada começou um concerto que durou pouco mais de 1hora e quinze minutos e que não se conseguiu aproximar da intensidade de qualquer um dos outros espectáculos já realizados, pelo músico, em Portugal. Valem-nos os álbuns que continuam a revelar um imenso talento.
O músico inglês de origem indiana Nitin Sawhney é considerado um dos mais talentosos e criativos nomes do panorama da música actual, tendo já desenvolvido trabalho como dj, produtor, músico, multi-instrumentista e orquestrador. Com uma linguagem musical única, incorpora na sua sonoridade influências de todo o mundo e uma série de géneros musicais – sonoridades asiáticas, ritmos latinos, drum n’bass, jazz, hip-hop, club, chill-out e world music. Com sete álbuns editados, todos aclamados pela crítica, Sawhney veio para promover o seu trabalho mais recente “London Undersound”.
Este álbum faz-nos reflectir, sendo ele próprio uma reflexão musical, sobre as mudanças sentidas na cidade inglesa nos últimos anos, principalmente desde os atentados de 7 de Julho de 2005. No interior do disco podemos ler: “London’s Heartbeat his Changed. Within that Heartbeat there lies a feeling, a collective consciousness, the uniting hum of disparate voices waiting to be heard. A sound.”. É verdade que Londres tem um carácter cosmopolita, que se traduz numa sonoridade muito própira, ecléctica, que revela diversidade, num pulsar de uma cidade onde a música está muito presente. Através deste álbum, Nitin procura uma vez mais a reflexão social e política, uma viagem a diversas identidades culturais, e muito pela quantidade e qualidade dos convidados que participam neste trabalho, consegue dar-nos uma colecção de pensamentos, de ideias e de sentimentos, exactamente como queria. Transmitir a imensa diversidade da cidade que ele próprio viveu e que sente que mudou.
Mas esse beat que consegue no disco, mesmo em canções que apresentou em concerto no Coliseu, como “Days of Fire”, com Natty (que infelizmente não veio a este palco) ou “October Daze”, cantada pela própria Tina Grace, acabou por se perder neste espaço lisboeta. O pulsar não ecoou pelo Coliseu e a energia estava em baixo.
Nitin Sawhney entrou no palco para encher de espiritualidade uma noite de quase primavera, pelo menos essa era a promessa. Os factores adversos em muito devem ter contribuido negativamente para a sua prestação: problemas vocais provocados pela inflamação da garganta, questões técnicas pouco favoráveis e a falta do vocalista indiano que o acompanha na digressão, deportado uns dias antes. Mas estes factores foram mesmo marcantes e parecem ter contribuido para uma perda de energia notória na prestação de Nitin Sawhney. O palco contava com a presença de Nitin, maioritamente na guitarra acústica, com apontamentos nas teclas de vez a vez; com o baterista, o percusionista e o violoncelista. Nas vozes estiveram Luci Jules e Tina Grace, a assegurar, com profissionalismo, as canções, mas foi notória a falta de uma voz masculina.
O concerto foi homogéneo, sem grandes pontos altos, mas com bastantes regressos a álbuns anteriores, como foi o caso de “Sunset”, de “Prophesy”, “Immigrant”, de “Beyond Skin”, dedicada ao vocalista deportado, e “The Conference” tirada também desse mesmo álbum. Mesmo estes recuos na sua história discográfica não faziam sentido e não encaixam na postura de Nitin, de alguém com um percurso marcado e com um novo álbum na bagagem. A procura de um ganhar de território, certamente já conquistado, fizeram com que se perdesse energia. Até “Dead Man”, de “Philtre” perdeu o seu rasgo na voz de Luci Jules. Até “Homeland” do antigo “Beyond Skin” foi tocada duas vezes, uma como despedida, o que de facto nos faz questionar qual o intuíto desta digressão. De “London Undersound” ouviu-se "October Daze", a acutilância de "Days of Fire", uma homenagem ao brasileiro Jean Charles De Menezes abatido a tiro por engano pela polícia no metro londrino, mas à qual faltou a intensidade de Natty, e "Distant Dreams".
É inegável a qualidade do músico, os momentos de fusão de músicas e a globalidade das sonoridades, mesmo neste concerto, mas parece ter sido tudo feito a lume brando, mas sem a capacidade de apurar. Espera-se um melhor regresso para uma próxima vez. Até lá ouve-se o heartbeat conseguido em “London Undersound”.
Concerto em retrospectiva
Nitin Sawhney esteve em Lisboa para um concerto global, mas sem a energia que se esperava. Na passada terça-feira, o Coliseu de Lisboa encheu e à hora marcada começou um concerto que durou pouco mais de 1hora e quinze minutos e que não se conseguiu aproximar da intensidade de qualquer um dos outros espectáculos já realizados, pelo músico, em Portugal. Valem-nos os álbuns que continuam a revelar um imenso talento.
O músico inglês de origem indiana Nitin Sawhney é considerado um dos mais talentosos e criativos nomes do panorama da música actual, tendo já desenvolvido trabalho como dj, produtor, músico, multi-instrumentista e orquestrador. Com uma linguagem musical única, incorpora na sua sonoridade influências de todo o mundo e uma série de géneros musicais – sonoridades asiáticas, ritmos latinos, drum n’bass, jazz, hip-hop, club, chill-out e world music. Com sete álbuns editados, todos aclamados pela crítica, Sawhney veio para promover o seu trabalho mais recente “London Undersound”.
Este álbum faz-nos reflectir, sendo ele próprio uma reflexão musical, sobre as mudanças sentidas na cidade inglesa nos últimos anos, principalmente desde os atentados de 7 de Julho de 2005. No interior do disco podemos ler: “London’s Heartbeat his Changed. Within that Heartbeat there lies a feeling, a collective consciousness, the uniting hum of disparate voices waiting to be heard. A sound.”. É verdade que Londres tem um carácter cosmopolita, que se traduz numa sonoridade muito própira, ecléctica, que revela diversidade, num pulsar de uma cidade onde a música está muito presente. Através deste álbum, Nitin procura uma vez mais a reflexão social e política, uma viagem a diversas identidades culturais, e muito pela quantidade e qualidade dos convidados que participam neste trabalho, consegue dar-nos uma colecção de pensamentos, de ideias e de sentimentos, exactamente como queria. Transmitir a imensa diversidade da cidade que ele próprio viveu e que sente que mudou.
Mas esse beat que consegue no disco, mesmo em canções que apresentou em concerto no Coliseu, como “Days of Fire”, com Natty (que infelizmente não veio a este palco) ou “October Daze”, cantada pela própria Tina Grace, acabou por se perder neste espaço lisboeta. O pulsar não ecoou pelo Coliseu e a energia estava em baixo.
Nitin Sawhney entrou no palco para encher de espiritualidade uma noite de quase primavera, pelo menos essa era a promessa. Os factores adversos em muito devem ter contribuido negativamente para a sua prestação: problemas vocais provocados pela inflamação da garganta, questões técnicas pouco favoráveis e a falta do vocalista indiano que o acompanha na digressão, deportado uns dias antes. Mas estes factores foram mesmo marcantes e parecem ter contribuido para uma perda de energia notória na prestação de Nitin Sawhney. O palco contava com a presença de Nitin, maioritamente na guitarra acústica, com apontamentos nas teclas de vez a vez; com o baterista, o percusionista e o violoncelista. Nas vozes estiveram Luci Jules e Tina Grace, a assegurar, com profissionalismo, as canções, mas foi notória a falta de uma voz masculina.
O concerto foi homogéneo, sem grandes pontos altos, mas com bastantes regressos a álbuns anteriores, como foi o caso de “Sunset”, de “Prophesy”, “Immigrant”, de “Beyond Skin”, dedicada ao vocalista deportado, e “The Conference” tirada também desse mesmo álbum. Mesmo estes recuos na sua história discográfica não faziam sentido e não encaixam na postura de Nitin, de alguém com um percurso marcado e com um novo álbum na bagagem. A procura de um ganhar de território, certamente já conquistado, fizeram com que se perdesse energia. Até “Dead Man”, de “Philtre” perdeu o seu rasgo na voz de Luci Jules. Até “Homeland” do antigo “Beyond Skin” foi tocada duas vezes, uma como despedida, o que de facto nos faz questionar qual o intuíto desta digressão. De “London Undersound” ouviu-se "October Daze", a acutilância de "Days of Fire", uma homenagem ao brasileiro Jean Charles De Menezes abatido a tiro por engano pela polícia no metro londrino, mas à qual faltou a intensidade de Natty, e "Distant Dreams".
É inegável a qualidade do músico, os momentos de fusão de músicas e a globalidade das sonoridades, mesmo neste concerto, mas parece ter sido tudo feito a lume brando, mas sem a capacidade de apurar. Espera-se um melhor regresso para uma próxima vez. Até lá ouve-se o heartbeat conseguido em “London Undersound”.
ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (27.02.2009)
Artigo publicado no Jornal Semanário (27.02.2009)
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