terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Capitais Europeias da Cultura 2009 - Vilnius e Linz em foco

A Pérola do Báltico e as margens do Danúbio

Começou um novo ano e este tem em foco Vilnius, na Lituânia, e Linz, na Áustria. 2009 será, certamente, um ano de extrema importância para estas cidade e estes países. Ambos traçaram um ambicioso plano tanto para seduzir seus próprios habitantes quanto para atrair a atenção de potenciais visitantes de todas as partes do mundo nos próximos 12 meses, nos quais dividem o título de capital europeia da cultura. Para tanto, cada uma delas investiu mais de 50 milhões de euros em 340 projetos culturais – 220 em Linz e 120 em Vilnius.
Vilnius, a aposta da Lituânia
A aposta em Vilnius espelha a sua vontade em se afirmar como um país virado para o novo milénio através de uma dinâmica cultural que promove o desenvolvimento pessoal, social, turístico e económico não apenas de uma cidade mas de toda a Lituânia.
Apelidada de “Pérola do Báltico”, a Lituânia é o primeiro dos recém entrados países na União Europeia a acolher este ambicioso projecto, cuja inauguração no passado dia 1 de Janeiro coincidiu com a comemoração do milénio da Lituânia. A organização de Vilnius Capital Europeia da Cultura prevê mais de três milhões de visitantes, estimando que o fluxo turístico aumente em 15% e que a percepção geral do país e da cidade aumentem em 3%. As expectativas são elevadas, não fosse também assim o orçamento para 2009. Com valores na ordem dos 19,5 milhões de euros, a organização irá repartir o investimento em projectos culturais e artísticos (14 milhões), marketing e comunicação (3,5 milhões) e custos administrativos (1,5 milhões). Também contemplada está a reconstrução e remodelação de vários edifícios e estruturas públicas como a Galeria Nacional de Arte, o Centro de Arte Contemporânea ou a Academia de Vilnius em Design e Inovação, no valor de 54 milhões de euros. Vilnius é a cidade mais ao leste da Europa a ser eleita capital europeia da cultura e a primeira metrópole de uma ex-república soviética a possuir este título. Além de sua herança cultural, a cidade festeja também o primeiro registo histórico do país há exactamente mil anos nos Anais de Quedlinburg. Por sorte, Vilnius escapou de grandes projetos arquitectónicos ou de infra-estrutura durante a ocupação soviética, acabando por, em 1994, ser incluída na lista do Património Mundial da Unesco. Contudo, nem todos estão contentes com a nomeação da cidade. Recentemente, um artigo publicado no principal jornal diário Lituano acusava personalidades conhecidas da capital de anti-semitismo e racismo. Os ciganos de etnia rom aproveitarão a atenção internacional para salientar a dificuldade da sua situação, de habitações precárias fora da cidade, num limbo político, na ilegalidade e separados do resto da sociedade. Segundo Augustinas Beinaravicius, que participa da organização de um festival de música, dança e folclore típicos rom, minorias são oprimidas pelo Estado lituano. "Decidimos fazer o festival, pois as minorias na Lituânia não são tratadas muito bem política e socialmente", critica.
Num programa que contará com mais de 900 eventos, dos quais 2/3 são de entrada livre, Vilnius Capital Europeia da Cultura 2009 procura expressar a sua multiculturalidade através de 120 projectos únicos em termos artísticos e culturais, divididos em seis campos temáticos: Eventos Especiais, a Celebração do Milénio ou Lux - o Festival de Luzes; Conferências e Convenções; Arte Europeia; (Re)Descobrir a Cultura; História Viva; e As Pessoas.


Linz, nas margens do Danúbio
A cidade, situada na Áustria, aposta numa concepção semelhante à de Vilnius, nesta maratona cultural: uma programação multifacetada com forte destaque para a arte contemporânea, a música e o teatro. Grande parte dos investimentos foi dirigida à infra-estrutura cultural. Linz, conhecida internacionalmente pelo festival de arte e media “Ars Electronica”, inaugurou o Ars Electronica Center, local onde vai passar a decorrer o festival.
Contudo, também Linz recebeu algumas críticas. Há um esforço notável em apagar ou pelo menos atenuar a sua reputação de provinciana, mas também pelo seu teor de cidade fascista, tendo em conta a preferência que Adolf Hitler tinha por ela. A primeira vez que foi mencionada decorria o ano de 799 e foi caracterizada como um centro medieval de comércio, tendo permanecido como uma pequena província até ao século XX.
Estudos afirmam que poucos austríacos conhecem as suas ruas medievais e a maioria associa-a à Voestalpine, siderúrgica fundada como parte do complexo industrial da Alemanha nazista em 1938, após a anexação da Áustria ao Terceiro Reich.
Até Março, a exposição Capital Cultural do Führer exibe os grandiosos planos de Hitler de transformar a cidade em metrópole cultural, algo que nunca chegou a acontecer. Mesmo assim, quem visitar a cidade, situada a 190 km de Viena, terá sempre este background presente.

Capitais Europeias da Cultura
Desde 1985, que pelo menos uma cidade é agraciada anualmente com o título de capital europeia da cultura. A escolha é feita pelo conselho de chefes de governo da União Europeia, a partir de indicações da Comissão Europeia. O objectivo é "salientar a riqueza, a variedade e as semelhanças da herança cultural europeia e contribuir para uma maior compreensão entre os cidadãos europeus". Até 2019, a fim de integrar os novos países-membros da UE, a escolha incluirá sempre duas cidades vencedoras, uma pertencente aos antigos membros e outra aos novos membros do bloco. O ano passado o foco esteve em Liverpool e na cidade norueguesa Stavanger. Em 2010, as capitais culturais serão Istambul, na Turquia, Pecs, na Hungria, e Essen, na Alemanha.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (09.01.2009)

Sem comentários: