sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A festa da música folk


Ciclo cinema, música e dança na Culturgest
“Hootenanny na folk, como jam session no jazz”

“Hootenanny” era usado no início do século XIX na América servindo o significado de coisas cujos nomes tinham sido esquecidos ou eram desconhecidos. Também era usado com o significado de festa. Hoje o termo serve para referências a festas de música folk. A Culturgest apresenta, entre o dia 2 e o dia 7 de Fevereiro, o Ciclo Hootenanny, com um conjunto de iniciativas que darão a conhecer e a explorar o universo folk americano.

O termo “hootenanny” está indissoluvelmente ligado à figura de Pete Seeger. A primeira vez que ouviu este termo, disse o próprio, foi no final da década de 1930, em Seattle, onde fora adoptado por um clube popular ligado ao New Deal rooseveltiano para designar as suas iniciativas mensais de recolha de fundos. Mais tarde Seeger, Woody Guthrie e os seus companheiros dos Almanac Singers viriam igualmente a adoptar a designação para dar nome aos espectáculos que semanalmente passaram a realizar no quadro da cooperativa de artistas e cantores Peoples Song, Inc., fundada em 1948 com a finalidade de apoiar sindicatos, organizações sociais e de esquerda. Aqui já podemos ver a ligação ao termo “festa” a fazer algum sentido.
Claro que a génese do termo é polémica, pensando-se que possa ter origem em colonos franceses dos EUA, mas a verdade é que acabou por se impor como referência a festa musical popular mais ou menos informal. Com este sentido viria a ser adoptada pelos Almanac, a designar programas de rádio e televisão surgidos nos anos 60 e a generalizar-se como sinónimo de espectáculo de música folk e old time.

É neste universo, com este significado, que se insere o ciclo organizado pela Culturgest e comissariado por Ruben de Carvalho. A ter inicio na segunda-feira, dia 2 de Fevereiro e a terminar no dia 7, a programação avança com eventos diários, sempre às 21h30, com o objectivo de apresentar um conjunto de espectáculos de vários géneros (da música ao cinema), tendo como tema central a música “folk” norte-americana e a designada “old time music”. Esta é só a primeira vez, pois é objectivo da Culturgest manter este evento na sua programação anual, devendo ser organizado sempre com este intuito de projecção e exploração da dimensão da festa americana popular e a old time music.



Nesta primeira edição do Hootenanny serão apresentados os seguintes eventos: 2 de Fevereiro, uma Projecção Vídeo “American Patchwork - Appalachian Journey”, de Alan Lomax;
3 de Fevereiro, o concerto de Mike Seeger; dia 4, a projecção de “Dreadful Memories, The Life of Sarah Ogan Gunning”; a 5 de Fevereiro “Appalachian Roots – Ira Bernstein e Riley Baugus”, no universo da dança; no dia seguinte, uma nova projecção vídeo: “Flatpicking e fingerpicking
A guitarra de Doc Watson: uma antologia”; e no último dia, a música de Tony Trischka – Double Banjo Bluegrass Spectacular.
Haverá ainda um workshop orientado por Richard Greene sobre fiddle, o tradicional violino popular, dirigido a alunos do Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa e da Escola Profissional Metropolitana, ambos da AMEC – Associação Música, Educação e Cultura.

Destes eventos destaca-se o concerto de Mike Seeger, da família que significa música popular norte-americana e trabalho de recuperação e divulgação da música tradicional.
Durante a adolescência e juventude, Mike revelou-se um notável multi-instrumentista aprendendo a tocar, além de guitarra, fiddle, dulcimer, banjo, bandolim, harmónica, praticamente todo o instrumental da música folk. Em 1958, com Tom Paley e John Cohen, constituiu um dos mais influentes e duradouros grupos folk, os New Lost City Ramblers que desempenhariam um papel determinante no segundo revival folk, nos anos 60, com 15 discos gravados.
Compositor, músico, cantor, conferencista, investigador, Mike Seeger mantém-se como uma das figuras centrais da folk americana, tendo gravado em 2007 um álbum com Ry Cooder e participado no aplaudido trabalho Raising Sand de Alison Kraus e Robert Plant.

Foco ainda nas projecções de vídeo, que permitem conhecer não só partes e personalidades do folk, mas a envolvência histórica e social deste estilo de música, que passa pelos blues tradicionais, pelo bluegrass, pelas cowboy songs e typaical songs, folk revivals e country music.
Com certeza uma semana diferente, onde o folk chegará ao espaço da Culturgest. A entrada para os filmes é gratuita, mediante levantamento de senha de acesso 30 minutos antes do início da sessão, no limite dos lugares disponíveis. Os espectáculos de dia 3 e 5 têm o preço único de 5 Euros. Os bilhetes para dia 7 têm o preço de 18 Euros; jovens até aos 30 anos têm um preço único de 5 Euros.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (30.01.2009)

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