sexta-feira, 17 de julho de 2009

CocoRosie: Universo onírico e sensual

As manas Bianca e Sierra
Dois concertos em Portugal


CocoRosie é o nome da banda, que é como quem a compõe: “primeiro estranha-se, depois entranha-se. Elas são duas irmãs que se renderam ao indie intimista com dream pop e fazem-nos render ao seu universo, onde às vezes é possível ver imagens de pequenos póneis, outras vemos duas mulheres sensuais em palco. Estão em Portugal para dois concertos imperdíveis: um em Guimarães (20 de Junho, no Centro Cultural Vila Flor), onde costumam passar alguns dos melhores da música indie, e outro em Lisboa (21 de Junho, no CCB).

Conto-vos a história: Sierra-Rose e Bianca-Leilani Cassady são irmãs. Duas mulheres fisicamente, e provavelmente também emocionalmente, distintas. Nasceram na América – Sierra nasceu em Fort Dodge, Iowa, e Bianca no Havai, e são a terceira e a quarta filha do espiritualista Timothy Casady e da artista e professora Tina Hunter. O gene estava lá e, no crescimento, os pais optaram por métodos diferentes dos do ensino tradicional, optando pela aprendizagem através da experiência. Quando Sierra tinha 5 anos e Bianca 3, os pais separaram-se e cada uma delas foi criada por um deles, mas ambas cresceram num meio de procura de criatividade. Une-as este projecto. Sierra-Rose tinha sido desafiada a seguir carreira na ópera parisiense, como soprano, mas não quis. Bianca-Leilani, também conhecida por "Red Bone Slim", tem um estilo quase oposto, numa independência romântica qualquer. Reencontraram-se em Paris, em 2003, no apartamento em que de Sierra vivia desde 2000 e as CocoRosie surgem aí. Inicialmente fizeram um álbum de hip hop sob a alcunha de “Word to the Crow”, apenas alguns dias antes do primeiro álbum das CocoRosie, “La Maison de Mon Rêve” (2004).
Colaboram com Antony, Devendra Banhart, Andrew Bird, entre outros, como podemos ouvir por exemplo na compilação “The Enlightened Family: A Collection of Lost Songs", primeiro disco lançado pelo selo da Bianca, Voodoo Eros. Estas ligações começam logo a desvendar o tipo de música que nos esperava, mas basta vê-las em palco, onde recorrem frequentemente a projecções onde vemos imagens de desenhos animados infantis como “O Meu Pequeno Pónei” ou os “Ursinhos Carinhosos e florestas, para nos deixarmos levar para um outro universo. Apresentam-se frágeis, delicadas, sensuais, fazendo-nos viajar entre um mundo onírico e a realidade do palco. Esta dicotomia entre fantasia e realidade é-nos também oferecida por uma outra, que é a integração de um conjunto de instrumentos de brincar com os instrumentos reais – piano, harpa, teclados. Costumam também ser acompanhadas por Tez, um “human beatboxer”, que apenas com o uso da sua voz faz todas as batidas e cortes. Elas praticam indie pop umas vezes mais folk outras mais electrónica. Aproximações às vozes de Joanna Newson, Billie Holiday ou outras divas são possíveis exactamente pela admiração de vozes femininas de tons totalmente distintos. Ganham terreno nas vocalizações e nos arranjos e chegam muitas vezes ao hip-hop (acompanhado por Tez, normalmente). As fronteiras entre tudo isto são ténues, é tudo meio híbrido. Depois de “La Maison de Mon Rêve,” (2004 - Touch and Go/Quarterstick Records), segiu-se “Beautiful Boyz” (2004 - Touch and Go/Quarterstick Records), “Noah's Ark” (2005 - Touch and Go/Quarterstick Records) e “The Adventures Of Ghosthorse And Stillborn” (2007), o álbum que trouxeram à Aula Magna no dia 14 de Abril desse mesmo ano. Aquele trabalho era quase um estudo exploratório de uma névoa obscura, entre o sonho e o selvagem, como uma ópera.
A dupla de songwriters norte-americana vem agora para um espectáculo dedicado ao seu mais recente trabalho: “Coconuts, Plenty of Junk Food”, que estará à venda exclusivamente nos concertos. Sierra Rose Casady entrega-se à harpa, ao violão e presenteia-nos com a sua voz. Bianca Casady certamente cantará e continuará a explorar o universo dos brinquedos que emitem sons, complementando e construindo as canções, com vocalizações seguras. A interacção entre as duas é sublime, a atmosfera que criam é divinal, encantadora e permite-nos explorar os sentidos. Ou se ama, ou se odeia. É verdade que correm riscos com este formato, mas quem gosta, gosta sempre. Este é um regresso aguardado, depois do concerto no Lux em 2004 e de outro, na Aula Magna, em 2007. Já na altura Sierra e Bianca nos encantaram. Será quase de certeza mais uma viagem intensa.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (19-06-2009)

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