sexta-feira, 17 de julho de 2009

Diz-me o que assinas, dir-te-ei quem és.

“Contracções” na Culturgest
A realidade empresarial dos contratos surreais


“Contracções” é um espectáculo que nos fala do mundo empresarial, da realidade dos despedimentos e daquilo a que estamos dispostos a renunciar para manter um emprego. A peça, com encenação de Solveig Nordlund, está em cena na Culturgest até sábado. A interpretação é de Joana Bárcia e Cecília Henriques.

A apresentação de uma peça com esta temática não poderia ser mais actual. Integrado no Festival de Almada, “Contracções” explora, no palco da Culturgest, um universo de fragilidades humanas: a incapacidade de acção perante as empresas que contratam. Assinado por Mike Bartlett – jovem dramaturgo britânico – o texto aborda o tema dos despedimentos, das condições estabelecidas nos contratos de trabalho, na forma de integração social dentro das empresas, de uma forma extraordinária, em que recorre à sátira, conseguindo um texto divertido, mas de alerta de consciência.
Emma é uma jovem vendedora que, em determinado momento da sua vida, decide assinar um contrato com uma multinacional. Nesse papel especifica-se as condições e as formas do trabalho, nomeadamente o grau permitido de relacionamento de colegas dentro da empresa. A directora controla tudo ao milímetro, verificando se todas as cláusulas do contrato estão a ser cumpridas. É um tema levado ao limite, às últimas consequências, tocando o absurdo, mas que, infelizmente, toca muitas vezes a realidade. O direito ao trabalho e as exigências laborais são algo cada vez menos considerado por quem pratica este género de contratos. Dizem eles: “nada de relações românticas ou sexuais”. Mesmo que se concorde, porque temos de assinar um papel que nos indica este tipo de comportamentos a manter. Que cores de verniz posso usar?
Segundo a encenadora Solveig Nordlund, este é um espectáculo que tem actualidade dada a época de despedimentos, da crise, conjuntura que leva as pessoas a sacrificar os seus próprios valores e crenças para manter o emprego. «“Contracções”, do jovem dramaturgo britânico Mike Bartlett, trata de um assunto sinistramente actual. É uma peça humorística que nos deixa o riso atravessado. A cada dia que passa parece-me mais realista.» – diz Solveig. Que nos riamos, para não chorar, mas este mundo existe mesmo. E quando não vem nos contratos ainda há a hipótese da crítica pela não integração neste meio.
Estreado no passado dia 13 de Julho, o espectáculo ficará em cena, no Pequeno Auditório da Culturgest, até amanhã, sempre às 21h30.

ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado Jornal Semanário (17-07-2009)

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