11 espectáculos de dança contemporânea
Há 13 anos atrás disseram pela primeira vez: “Dancem!”. Estamos em 2009 e a dança no Porto é contínua, para felicidade daqueles que têm visto as artes performativas crescer, mas é sempre entusiasmante poder ver o Alain Platel e o Philippe Decouflé na mesma semana que a Olga Roriz e o Paulo Ribeiro. Dancem! é um conjunto de espectáculos de dança contemporânea, que decorrem entre 25 de Junho e 12 de Julho, no Teatro Nacional São João e no Teatro Carlos Alberto.
Já passaram pelos palcos deste festival de dança os espectáculos de Clara Andermatt, de Gilles Jobin, Martine Pisani, de La Ribot, dos DV8 e também de Tiago Guedes e Francisco Camacho. A ideia do Dancem! é mesmo esta: a de criar um diálogo activo entre uma geração de criadores nacionais e internacionais dentro da esfera da dança contemporânea. A programação da edição deste ano está a cargo de Paulo Ribeiro, tal como aconteceu em 1997, e revela abrangência e abertura. Na totalidade são 11 espectáculos que se dividem entre o Teatro Nacional São João e o Teatro Carlos Alberto.
A programação tem início no dia 25 de Junho, com o colectivo belga Peeping Tom, que traz “Le Jardin” (25 de Junho), “Le Salon” (26 de Junho) e “Le Sous Sol” (28 de Junho). Em “Le Jardim” exploram as fronteiras da normalidade, enquanto em “Le Salon” nos falam da velhice e do fim de uma família. A trilogia termina com “Le Sous Sol”, que escava no além-túmulo, mas com muitos regressos ao passado. Em todas as peças se mistura teatro e dança, numa via solitária onde se vive das pequenas felicidades da vida.
No entretanto, no dia 27 de Junho, no Teatro Nacional São João, Olga Roriz apresenta “Paraíso”, para depois, no dia 30, nos levar antes ao “Inferno”, no mesmo palco. Olga Roriz escolhe um conjunto de canções e a partir daí constrói a peça, sem chegar à ilustração. Se na primeira não queremos sair, na segunda também não, porque em “Inferno” não há a noção de bem ou de mal, há antes música libidinosa do Brasil.
Nos dias 3 e 4 de Julho, ambos os teatros recebem espectáculos. No São João é possível ver Philippe Decouflé, com “Sombreros”, onde se vive o poder das sombras, no domínio da experimentação, acompanhadas por Brian Eno e Libolt. No Carlos Alberto, Né Barros apresenta “Story Case”, que, segundo o criador, “trata de lugares vazios e de pessoas sem história, no sentido de uma história ainda não vista, ainda não realizada. Tal como o corpo na dança, os indivíduos em Story Case surgem-nos e é no decorrer do tempo que os vamos documentando até eles se tornarem personagens. (…)”.
Philipe Decouflé apresenta um outro espectáculo – “Solo”, nos dias 6 e 7 de Julho, no Teatro Carlos Alberto. Ele dança na primeira pessoa, a sua existência está na dança, disso não há dúvida. E este espectáculo trará uma série de imagens suas, fragmentos de si.
Alain Platel também estará presente, ou não fosse ele o mestre dos C de la B. Depois do espectáculo no CCB (dias 3 e 4 de Julho), Alain Platel seguirá para o Porto para desarmar mais algumas almas. A mensagem de “pitié!” é: “I love you”. Surgem corpos que procuram vozes, interiores e exteriores. Diz-se por aí que quem o vê sai desarmado. Nos dias 7 e 8 de Julho, no Teatro Nacional São João.
Paulo Ribeiro, programador do ciclo, apresenta “Maiorca”, no mesmo Teatro, nos dias 10 e 11 de Julho. “Há muitos anos atrás, Jorge Salavisa desafiou-me para coreografar os 24 Prelúdios de Chopin interpretados pelo Pedro Burmester. Na altura não me senti capaz de encarar tamanho desafio. Hoje faz todo o sentido. (…).” – apresenta o próprio.
O espectáculo que fecha o ciclo é “Orphée et Eurydice”, de Marie Chouinard, no Teatro Carlos Alberto (10 a 12 de Julho). Uma obra excessiva, com humor e intimidade, uma dança exploratória e demoníaca, numa multiplicidade de caminhos.
18 dias, 11 espectáculos de dança na cidade do Porto. Na sua base dancem! é um convite aberto à procura da atenção de uma multidão de vozes, de corpos que têm uma forma própria de comunicar. Dois espaços que recebem nomes incontornáveis do movimento contemporâneo. Só é preciso disponibilidade para ouvir e ver, sentir nos casos mais intensos.
ANA MARIA DUARTE
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