sexta-feira, 17 de julho de 2009

“Romeo and Juliet” pelo Nature Theater of Oklahoma

Dias das Histórias (im) prováveis
A forma além das palavras



A história de Romeu e Julieta foi revisitada pelo Nature Theater of Oklahoma. Inserido no ciclo “Dias das Histórias (im) prováveis” do Teatro Maria Matos, o espectáculo “Romeo and Juliet”, com encenação de Pavol Liska e Kelly Copper, deu-nos a oportunidade de ver a esta narrativa de outros prismas.

Os Nature Theater of Oklahoma já tinham estado em Portugal para apresentar “No Dice”, no festival alkantara em 2008. O director artístico do Teatro Maria Matos, Mark Deputter, ex-director do alkantara, programou de novo esta companhia de teatro Nova Iorquina.
“Romeo and Juliet” foi apresentado numa versão muito diferente daquele que conhecíamos, a de Shakespeare, ou não fosse ela assinada por um conjunto de pessoas anónimas, que foi desafiado a contar o que se lembrava desta história, que podia (ou não) corresponder à realidade. O espectáculo afinal não conta mesmo a história deste casal jovem, conta antes as suas interpretações e aquilo que a história significa para uma série de pessoas. É a visão de outros e a percepção da relação que elas têm com esta história, que nos permite a nós próprios perceber que relação temos nós com a história e que diferenças ou semelhanças estabelecemos com a nossa vida.
Um dos elementos mais presentes neste espectáculo é a oralidade. O cenário é constituído apenas por uma estrutura que nos faz lembrar os teatros de marionetas, e os figurinos também nos reportam, de alguma forma, para a época do texto, mas nada mais estava perto de Shakespeare. Todo o trabalho, todo o espectáculo vive da interpretação dos actores, da sua fisicalidade, mas muito da sua forma de dizer o texto. O facto de nos estarem a contar conversas telefónicas, sendo essa a base do discurso, cria uma tensão muito própria no corpo do actor e no espectáculo. Os textos são realmente orais, mais do que teatrais. Toda a teatralidade advém da sua forma de representar, e o que nos dão acaba por ser mais do que o que dizem, pois é também a forma como o dizem.
“Romeo and Juliet” consegue ser divertido e falar de coisas além da história, sendo essa apenas um pretexto para poder falar de relações, de sentidos de dependência, de necessidades humanas e emocionais, de respostas criativas e de formas de estar. Num estilo às vezes absurdo, com elementos surrealistas como a entrada do ponto vestido de galinha a dançar ou o actor a entoar de forma teatral como se dissesse a frase mais importante do mundo: “Bla, Bla, Bla, Bla, Bla, Bla”, o espectáculo vive deste formato de entrega total do actor ao momento e Robert Johanson é brilhante. O resultado é uma reflexão, induzida de forma mais clara no seu final, mas espicaçada ao longo de todo o espectáculo, sobre as percepções humanas daquilo que poderá ser a sua história do Romeu e Julieta.

ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado Jornal Semanário (10-06-2009)

Créditos imagem: Kerstin Joensson

Sem comentários: