3 Espectáculos em 3 semanas
“Sempre”, “Pedro Procura Inês” e “Bobby Sands vai morrer Thatcher assassina” são três espectáculos que surgem do projecto Estúdios, uma parceria entre o Teatro Maria Matos e o Mundo Perfeito. 3 espectáculos em 3 semanas. Cada semana 1 espectáculo. 4 dias de criação e 3 de apresentação. Em cada semana tudo pode acontecer, tudo pode mudar. Tiago Rodrigues, um dos criadores participantes neste projecto, deu-nos a sua visão do processo. Tudo o que foi feito até agora pode não ser apresentado. Qualquer semelhança entre os nomes dos espectáculos, as palavras de Tiago Rodrigues (e mesmo as minhas) e a realidade pode ser pura coincidência.
A ideia era esta: juntar artistas portugueses e estrangeiros e fomentar a experiência, o risco. Roubando a imagem a Tiago Rodrigues, é como se estivessem todos a saltar de pára-quedas e cada um dobrasse o pára-quedas do outro. À partida surgem espectáculos de grande risco, onde a experimentação é a palavra de ordem. Mas a ideia mais forte é a de confiança.
O processo de criação responde a um desafio, que foi o de colocar um grupo de artistas (Alex Cassal, Cláudia Gaiolas, Felipe Rocha, Michel Blois, Paula Diogo, Tiago Rodrigues e Thiare Maia), que não se conhece, a criar em conjunto. A ideia de espectáculo é desmistificada neste projecto, porque tudo o que um espectáculo envolve, como os tempos de criação e mesmo toda a estrutura, até de comunicação e técnica, é posto em causa. “Esta discussão de haver um espaço de experimentação, que é também entre o Maria Matos e o Mundo Perfeito, tem tido um acompanhamento muito convicto de que isto é um processo de trabalho que pode oferecer coisas que ainda não foram oferecidas em Lisboa, dentro das artes performativas. A ideia do projecto é interessante, mas a convicção de toda a estrutura é ainda mais interessante (…)”.
No processo, os artistas disponibilizam todas as ferramentas que têm e estão disponíveis para o outro, para aquilo que cada um individualmente propõe. Nas palavras de Tiago Rodrigues: “ (…) criar um espectáculo numa semana implica, por um lado, um esforço tremendo de persuasão dos outros, por outro, estar completamente disponível para os caminhos propostos (…). É mais do que partilhar experiências, é “usar essa experiência em conjunto”. “Não há outra hipótese senão confiar, porque eu vou saltar de um avião e é bom que aquele pára-quedas esteja bem dobrado. Individualmente eu faço uma proposta, mas a minha proposta vai estar protegida pelo empenho dos outros. Essa lógica de colaboração tem sido altamente eficaz, porque é a única forma de saber que começamos a trabalhar numa segunda-feira e que estreamos em quatro dias.”
O processo é este: cada um traz o material que quiser, propõe e experimenta-se, mas há uma decisão colectiva. Usa-se aquilo que é o melhor de cada um ou aquilo que cada um consegue impor aos outros a partir da sua capacidade de persuasão. “Trabalhar em democracia implica ser altamente individualista, ou seja, estamos a trabalhar colectivamente, por isso o meu objectivo, às vezes, é convencer os outros de que a minha ideia é a melhor.”
Em “Sempre”, sentia-se um experimentalismo seguro, como se tivessem a experimentar coisas que efectivamente sabiam resultar, sentia-se uma certa “rede” na criação, uma procura de respostas óbvias tendo em conta o pouco tempo que tinham tido para criar o espectáculo. Tiago Rodrigues diz que no segundo espectáculo (em cena até amanhã) existe uma maior ousadia, porque já perceberam que são capazes. “No primeiro, nós não sabíamos se era possível. Agora sabemos que sim, queremos fazer um espectáculo mais perigoso, e ir mais longe nesse formato. A possibilidade de acidente é muito maior, vamos mais desprevenidos e a desejar esse estado de alerta.”
Por outro lado, em “Sempre” existia uma tentativa de criar uma linha de compreensão, passar uma história, dar um sentido, que se pretende manter, mas não de forma limitativa, ou seja, que permitindo aos espectadores criar o seu próprio sentido.
No dia em que entrevistei Tiago Rodrigues, dois dias antes da estreia do segundo espectáculo, a ideia subjacente era esta: “(…) Se pudesse dizer sobre o que é que é este espectáculo diria que é sobre a tentativa de construir um espectáculo numa semana, de comunicar, e da comunicação ser falha e ser rica também porque transforma (…). É um espectáculo construído à volta da ideia de cópias de originais, de adulteração, embora isto seja uma interpretação minha, muito pessoal.”
Tendo em conta que não há um limite para ter o processo fechado, a não ser que 2 horas antes do espectáculo tem de existir uma construção preparada para mostrar, tudo o que foi dito ou feito até agora pode não ter nada a ver com o produto final desta semana. E para a próxima: quem sabe? Só sabemos que estreiam o último espectáculo no dia 23 e até dia 25 tudo pode ser posto em causa.
ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (17-07-2009)
Créditos das Imagens: José Frade
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