segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Belém urbana com tons asiáticos e africanos

CCB Fora de Si
Transculturalidade e turismo



O CCB Fora de Si procura apresentar, este ano, e à semelhança do ano passado, uma programação orientada para o multiculturalismo, numa procura de espectáculos e iniciativas que espelhem a diversidade da criação artística, nas suas mais variadas formas de expressão. No fundo procura-se chegar a um programa que seja sinónimo de transculturalidade.

A transculturalidade é a resposta uniforme a uma dicotomia que se estabeleceu entre a globalização e a especificidade das culturas, porque depois de se conseguir uma maior mobilidade entre os continentes, fruto dessa globalização, da emigração e da acessibilidade à informação a um nível global, o que permitiu um crescimento da maioria das culturas, houve uma necessidade de encontrar, de novo, porque se tinham de alguma forma esbatido, as especificidades de cada cultura ou país. Se por um lado a programação fdo CCB fora de Si e de outros festivais, como é o caso do Festival de Músicas do Mundo, em Sines, procuram demonstrar esta contaminação cultural que existiu graças à maior mobilidade, acessibilidade e por isso de partilha, por outro lado mostram-nos culturas únicas, que têm vindo a procurar manter as suas especificidades e individualidade. No fundo mostram-nos a essência de cada um destes lugares, mas ao trazerem estas culturas a um só espaço, mostram-nos também a sua transculturalidade.
Ásia, África, América do Sul, entre outros, têm contribuído para a disseminação da cultura, nomeadamente através de centros urbanos, como o caso de Tóquio. A realidade espalha-se a um nível global, dominando esferas artísticas e com grande adesão por parte do Ocidente. É o caso da música do mundo, que constatávamos há pouco através do sucesso do FMM (Festival de Músicas do Mundo – Sines), mas também da dança, do cinema e de outras artes de palco e audiovisuais.
Além desta procura de divulgação e espaço artístico, o CCB Fora de Si responde ainda a uma abertura do mercado cultural ao turismo, uma vez que se decorre nos meses de verão, quando a maioria das instituições culturais lisboetas fazem uma pausa na sua programação. Aliás, o projecto venceu o prémio especial Turismo de Portugal em 2008.
O CCB Fora de Si consiste num evento que vem de encontro a esta tendência cultural e de mercado, com um programa que decorre nos meses de Julho e Agosto. O foco este ano está na Ásia e na África. Os dois continentes estão em destaque, com iniciativas criativas oriundas da Índia, do Tibete do Japão, da Nigéria, do Mali, da Etiópia, do Senegal e do Níger. Além disso, e promovendo também o diálogo entre culturas, Portugal é representado através de um programa denominado “Belém Urbana”- um projecto pensado aos olhos do festival, que procura valorizar e dar a conhecer a componente artística portuguesa, envolvendo música, dança, artes visuais, cinema, artes de rua. Foi realizada uma selecção (7 de 230 projectos apresentados) e agora, durante um fim-de-semana (14 a 16 de Agosto), é dada a conhecer a diferentes públicos, também porque se procurou programar estes espectáculos do “Belém Urbana, na sua maioria, num ambiente exterior e, por isso, acessível a vários públicos. A Praça do Museu vai ser ocupada com espectáculos de música e dança ao ar livre, sendo o principal espaço de actuação, mas acontecem coisas em todo o CCB: nos jardins, no caminho pedonal. Parece que só nestes eventos se dá uso a toda a capacidade da arquitectura da instituição.
Nos fins-de-semana de Julho decorreu a Lisbon Jazz Summer School e, por isso, as actividades envolventes focaram-se também no jazz, através de concertos e ateliers para os mais novos e para as famílias. No mês de Agosto haverá concertos e outros espectáculos. Este fim-de-semana, e até 2 de Agosto, destaca-se a programação dedicada à Ásia. Hoje ao fim da tarde, “Tumbala”, um grupo de personagens fantásticos, que invade as ruas com as suas máquinas. Este é um projecto musical que interage através da sua performance. Também hoje, e amanhã, Johan Lorbeer apresenta “Tarzan”, uma das suas mais conhecidas performances, onde desafia as leis da gravidade.
O fim-de-semana recebe ainda Suheela, uma inglesa de origem indiana que reúne em si a música de vários continentes por onde foi passando e que formam a sua identidade; “Agua”, um filme realizado pela indiana Deepa Mehta que retrata a marginalização das viúvas indianas, “Terra”, o segundo filme da trilogia, e “Fogo”, apresentando assim os três filmes que valeram o reconhecimento à realizadora. Do Japão, no dia 2, chega um projecto de música e dança improvisadas de Hajime Fujita, que procura pensar a dança e a arquitectura com a ajuda da música.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (31-07-2009)

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