“Uma peça encomendada” em Vila do Conde
Às vezes os últimos são mesmo os primeiros. A 5ª edição do Circular Festival de Artes Performativas encerra este fim-de-semana com a estreia absoluta do novo trabalho de Joclécio Azevedo, "Uma peça encomendada". O espectáculo foi construído a partir de contribuições de 19 pessoas que, sendo ou não potenciais espectadores da obra final, participaram na sua construção assumindo-a como uma “encomenda” aberta e personalizável. A peça estreia hoje, às 19h, no Auditório Municipal de Vila do Conde, e será novamente apresentada a 26 de Setembro, no mesmo local.
Joclécio Azevedo nasceu no Brasil em 1969. Vive e trabalha no Porto desde 1990. Participou, como intérprete, em projectos de diversos criadores, entre os quais, Isabel Barros, Né Barros, Ana Figueira, Joana Providência, André Guedes, Simone Forti, Gary Stevens, Ronit Ziv, Jean-Marc Heim, Peter Bebjak/Juraj Korec e Tino Seghal. A partir de 1999, e a par da sua actividade como performer, começa a apresentar simultaneamente o seu trabalho coreográfico, tendo participado em projectos de investigação, residências artísticas e projectos educacionais em diversos países, como Portugal, França, Tunísia, Alemanha, Espanha, Bélgica, Suíça, Escócia, Inglaterra, Eslováquia e Índia. A partir de 2003 desenvolveu diversas colaborações com o coreógrafo suíço Jean-Marc Heim, em Lausanne, tendo sido intérprete no espectáculo “Va et Vient” (2003 – Prémio da crítica suíça de dança e coreografia), intérprete e dramaturgo em “Creatura” (2005), e dramaturgo em “Flagrant Delhi” (2008). Actualmente estão a preparar um novo projecto que deve estrear em 2010. “Estratégias de colisão” (2006), “Sans titre” (2006), “Inventário” (2007) e “Open Scores” (2009) são alguns dos seus trabalhos mais recentes, e é um dos membros fundadores e actual director artístico do Núcleo de Experimentação Coreográfica.
Esta é a segunda vez que Joclécio Azevedo participa no Circular Festival de Artes Performativas, depois de em 2005 ter apresentado no Festival o trabalho "Em Resumo".
“Uma peça encomendada” é o resultado de uma interpretação por parte do artista daquilo que absorveu como desejos e preocupações dos espectadores que entraram neste projecto. Juntaram-se em residência e tentaram perceber e desconstruir a fronteira entre público e criador. É no fundo, resultado de uma reflexão sobre a relevância da interacção entre ambas as partes. O facto de não se poder prever que forma terá o objecto artístico final induz a que se criem leituras. Este criador decidiu reflectir sobre as consequências da utilização de práticas que possam amplificar este espaço de interacção entre a criação artística e a sua recepção.
Perguntas são lançadas neste projecto, e espera-se que “Uma peça encomendada”, ou responda, ou pelo menos possibilite leituras por parte do público, talvez até respostas: “O que é que muda se os espectadores tiverem a oportunidade de inscreverem o seu imaginário na performance? Que novos temas poderão ser introduzidos? Que vocabulários? Que preocupações? Que desejos particulares? Que imagens? Que energias? Que desafios?”
No dia 26 e após o espectáculo, decorrerá uma conversa com o artista moderada por Magda Henriques.
A 5ª edição do Circular - Festival de Artes Performativas começou no dia 19 e prolonga-se até 26 de Setembro, em Vila do Conde. Até dia 26, e além do trabalho de Joclécio Azevedo, é possível ver "Utopias, Ciborgues e Outras Casas nas Árvores" de Carla Cruz, uma nova criação, também desenvolvida em residência, como o trabalho do coreógrafo que destacamos; "Chinoiserie", recentemente estreado pela companhia de teatro Mala Voadora (a 25 de Setembro, 6ª feira, 21h30, Teatro Municipal de Vila do Conde) e "Vice-Royale. Vain-Royale. Vile-Royale" de Sónia Baptista (26 Setembro, Sábado, 21h30, Auditório Municipal de Vila do Conde).
ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (25-09-2009)
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