segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Samba: porte estandarte brasileiro

O regresso de Seu Jorge
“América Brasil” ao vivo



Seu Jorge está de volta à Europa, está de volta a Portugal. Primeiro Lisboa, depois Porto, dias 9 e 10 de Setembro, respectivamente. Os bilhetes custam entre 22 e 33 euros, mas vale mesmo a pena.

Estava previsto um único concerto do Seu Jorge em Lisboa, mas a grande procura de bilhetes levaram a que a Mandrake agendasse uma data para o Porto. Assim, no dia 10 de Outubro, o Coliseu do Porto recebe o artista que já em 2007 levou a organização a marcar uma Casa da Música extra. Nesse ano, também em Lisboa, além do concerto no Coliseu, no dia seguinte se fez um pequeno show, mais intimista, no cinema Mundial. Um dos momentos mais privilegiados dos últimos tempos, no que diz respeito a concertos de música brasileira em Portugal.
O cantor brasileiro que “vendia bala no trem” ultrapassou as fronteiras brasileiras e conquistou o Mundo com o samba do século XXI. Nasceu no início dos anos 70, e além de músico é actor, tendo começado por um musical, a convite de Paulo Moura, e desde então, como actor tem participado numa série de filmes, de onde se destacam “Cidade de Deus” (2002) e “The Life Aquatic with Steve Zissou” (2004). O filme mais recente em que podemos encontrar Seu Jorge é “Beyond Ipanema”.
A sua carreira musical começou com a participação na banda Farofa Carioca, que lançou o primeiro álbum em 1998, uma mistura de ritmos negros com brasileiros. A partir daí participou em muitos projectos, com Ana Carolina, Marcelo D2 e Olivia Byington, entre outros. A solo, lançou “Samba Esporte Fino” (2001), “Cru” (2004), “The Life Aquatic with Steve Zissou, Studio Sessions” (2005) e depois “América Brasil” (2007). Agora saiu “América Brasil ao Vivo”, em CD e DVD. O disco, com o qual arrecadou o Grammy Latino na categoria MPB, e que serviu também o concerto em 2007, quando era ainda fresco, servirá de base aos espectáculos agendados. Esse é pelo menos o ponto de partida do espectáculo.
Recentemente, o músico, actuou no mítico Hollywood Bowl, em Los Angeles, palco guardado para os melhores artistas de sempre, e agora dá um grande concerto no Campo Pequeno, em Lisboa, seguindo depois para o Porto. Seu Jorge é autor de sucessos como «Ana Carolina», «Burguesinha», e intérprete das famosas versões em português dos temas de David Bowie para o filme «Um Peixe Fora de Água» de Wes Anderson. Desta vez traz ainda mais samba, a sua essência. Quando pensamos em samba, pensamos no Brasil, mas Seu Jorge é mais do que isso. Ele tem o sabor do Brasil, mas incorpora o funk dos anos 70, o soul e ainda consegue integrar uma série de instrumentos que normalmente não se associam a este estilo de música, como o violino ou a harpa.
Quando o “negrão”, como lhe chama Ana Carolina, sobe a palco, o ritmo e a alegria instalam-se, normalmente envolvidos por um discurso muito consciente e atento à humanidade. Em palco, monta-se o estandarte brasileiro e o estilo de “Mané Galinha” (“Cidade de Deus”) deambula pelo palco, passando por uma série de sons e histórias que vão surpreendendo a cada momento. Seu Jorge é uma mistura explosiva entre a alegria do samba brasileiro e uma consciência apurada perante aquilo que acontece à sua volta. Talvez pelas suas origens, da favela brasileira, talvez por ter conseguido crescer no meio musical sem perder a sua verdade. Ele é samba-rock-funk-reggae, mas como “América Brasil” é um disco mais dançável, a tendência é que todo o mundo se atire para a piscina e fique toda a noite a dançar.
Seu Jorge é transatlântico, mistura a sua origem com aquilo que foi apreendendo do mundo, e vai-nos deliciando com músicas que têm as suas razões, as suas histórias, as suas dedicatórias, e que normalmente partilha, mostrando uma disponibilidade para falar sobre si, e sobre aquilo que sente. Dá-se em palco, algo que começa a ser raro nos artistas. Os cantautores brasileiros afinal não são todos iguais. Seu Jorge consegue viajar pelas sonoridades populares do Brasil, mas de uma forma relevante, consistente. Ambiente de baile sim, mas com o balanço da sua voz grave. Desta vez traz a versão ao vivo de “América Brasil”, e devem ainda existir surpresas, ou não fosse ele um criativo cheio de samba, mas também com muita capacidade de leitura do mundo e de si mesmo.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (09-10-2009)

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