segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Reencontro com a Ásia

CCB Fora de Si
Projectos multi-culturais


O CCB Fora de Si dedicou a programação do passado fim-de-semana à Ásia. Este fim-de-semana mantém-se o foco neste continente, contribuindo para a partilha de origens e o conhecimento de projectos multi-culturais.

Johan Iorbeer traz “Working Class Hero”, um espectáculo denominado de “still life performance”. O seu trabalho é desenvolvido numa fronteira muito ténue entre a imagem e a apresentação, sendo que o artista alemão se foca principalmente no fenómeno da percepção, desenvolvendo posturas no espaço que reflecte a alienação surrealista do quotidiano. A percepção do público é normalmente tocada pela perturbação. O espectáculo será apresentado no caminho pedonal, sexta e sábado às 18h e domingo, às 17h.
Durante o fim-de-semana serão projectados dois filmes que retratam de diferentes formas o Tibete, de dois realizadores que procuram a sua origem.
“Stranger in my Native Land” (1998) é um retrato cinematográfico, numa visão muito pessoal, de Tenzing Sonam, à sua terra de origens, no Tibete. Tenzing é filho de pais tibetanos e nasceu em Darjeeling, no nordeste da Índia. Neste filme o realizador reencontra-se com vários familiares e percorre o Tibete desde Amdo a Lhasa. Além do regresso às origens, este é um filme com uma visão política, onde podemos assistir ao desespero da opressão do país, resultante da ocupação chinesa.
“Dreaming Lhasa” (2005) é um filme de Karma, realizadora tibetana residente em Nova Iorque. O filme regista a visita de Karma ao refúgio de Dalai Lama no norte da Índia, documentando o percurso e as histórias dos prisioneiros políticos que conseguiram fugir do Tibete.
É, à semelhança de “Stranger in my Native Land”, um regresso às origens, pelo menos uma tentativa de entendimento e de conhecimento da terra de onde veio, mas simultaneamente sente-se que Karma tenta fugir de uma relação que mantinha em Nova Iorque. Nesta viagem conhece um antigo monge que acaba de fugir do Tibete com quem vai estabelecer uma ligação pessoal, transformando o filme num registo auto-biográfico, além de documental dos prisioneiros fugidos da sua terra natal. A projecção dos filmes está programada para o Pequeno Auditório do CCB, sexta-feira, às 21h, e domingo, à mesma hora.


Noe Tawara também marcará presença durante estes dias, no Centro Cultural de Belém. A artista de 24 anos estreou-se, em 2001, no Teatro de Tóquio, sob a direcção de Yoko Narahasi. A partir daí tem construído um percurso notável no teatro e no cinema independente japonês. Actriz, coreógrafa e bailarina, apresentará uma dança de “jiuta-mai”, uma dança tradicional japonesa exclusivamente feminina, muito intimista e elegante, acompanhada pelas cordas do instrumento Shamisen e por música vocal de canto melódico ou narrativo. Este espectáculo será apresentado no dia 7, na Praça do Museu. No dia 8, Noe Tawara apresentará outro espectáculo onde funde a dança “jiuta-mai” com a dança contemporânea, no Jardim das Oliveiras.
Borrões de tinta, fotocópias, cartão, candeeiros articulados, tecnologia vídeo, um computador, música. Todos estes elementos estarão juntos num só espectáculo. A companhia Paper Cinema dá vida a um elenco de marionetas desenhadas à mão, na noite de sábado, no Pequeno Auditório Praça do Museu.
Associado a este espectáculo está um conjunto de actividades: uma oficina para crianças dos 5 aos 12, que as convida a conhecer a magia do universo cinematográfico e de manipulação plástica que serve de background aos seus espectáculos. Dias 8 e 9 de Agosto, na Fábrica das Artes.
YungChen Ilhamo nasceu em Lhasa. Depois da sua internacionalização através da colaboração com músicos como Annie Lennox ou Sheryl Crow, começou a ser considerada a “voz do Tibete”.
Aos 23 anos fugiu do Tibete, devido à opressão chinesa, atravessando os Himalais e estabelecendo-se na Índia, onde começou a sua carreira musical, com as recordações de canções tradicionais tibetanas que aprendera com a família. Actualmente YungChen reside em Nova Iorque e a sua música é um reflexo de si em todos os lugares por onde passou. Será possível ouvi-la no sábado, na Praça do Museu.
A programação do CCB fora de si continuará pelo mês de Agosto, com iniciativas ao nível da música e da performance.


ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado Jornal Semanário (07-08-2009)

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