terça-feira, 16 de setembro de 2008

A crise no Chiado

“É a crise. É a crise.” – Esta frase ouve-se demais por aí, e essa afecta não só a saúde, a educação, o mercado da habitação e os portugueses endividados. Essa – a crise – afecta também a arte e o pensamento colectivo. Afecta não só as pequenas galerias ,que têm dificuldade em manter-se abertas, mas também os grandes museus, que deveriam ajudar na construção da história da arte em Portugal e que estão também eles a ser vítimas dos males da crise financeira.

O Museu do Chiado além da questão polémica do acervo, agora também não tem orçamento. Simbiose entre imagens e música é denominador comum do trabalho de João Paulo Feliciano. A mostra "Blues Quartet", no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, em Lisboa, é um exemplo, não só desse conceito artístico, mas também exemplo de até onde pode ir a dedicação de um artista.
Durante a inauguração de "The Blues Quartet", de João Paulo Feliciano, no início deste mês o director do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Pedro Lapa, avançou com uma questão polémica: há quatro anos que o Museu adia um conjunto de exposições devido a problemas orçamentais. Pedro Lapa lamenta, assim como os olhares mais atentos e ainda o público, perderem-se, possivelmente, boas exposições: “tenho vindo a adiar importantes projectos de exposições, nomeadamente uma retrospectiva sobre o impacto que a fotografia de propaganda durante o regime do Estado Novo teve nas artes, e uma outra sobre o trabalho do artista português João Tabarra, adiadas por falta de verbas”.
Por exemplo “The Blues Quartet”, a exposição agora patente no museu, foi feita a custo zero. "Há uma grande distância entre o programa de exposições proposto e aquele que finalmente é realizado", frisou o director do Museu do Chiado, assinalando que, este ano, só conseguiu fazer uma grande exposição - "Revolução Cinética", com obras de trinta artistas portugueses e estrangeiros representativos do movimento cinético - "paga substancialmente pelo patrocinador espanhol Caja Duero".
"The Blues Quartet" - que estará patente até 26 de Outubro - "foi montada com orçamento zero e muita boa vontade dos funcionários do museu e por parte do artista", referiu ainda Pedro Lapa. João Paulo Feliciano, cujo trabalho esteve em 2007 no Contemporary Arts Center de Cincinnati, defendeu que as entidades públicas culturais "deveriam ser mais apoiadas, sobretudo para divulgar o trabalho de artistas portugueses". "Quando comecei a divulgar este trabalho em Portugal (inicialmente, a peça foi mostrada em 2007, no Contemporary Arts Center , em Cincinnati, Ohio, nos Estados Unidos), pensei em iniciar a "digressão" pelos sítios onde não há dinheiro. E foi quase assim que aconteceu", ironizou João Paulo Feliciano, lembrando que a mostra estreou em Portugal, em Junho deste ano, no Centro de Artes Visuais, em Coimbra, "que estava com graves dificuldades financeiras".
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 12.09.2008)

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