terça-feira, 16 de setembro de 2008

A dupla imbatível está de volta


O ambiente foi de descontracção e os comediantes portugueses estiveram quase todos presentes para receber o mais recente espectáculo de António Feio e José Pedro Gomes. Em noite de estreia de “A Verdadeira Treta” no Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa, o tom de comédia foi o escolhido por todos, que aplaudiram não só no final, mas também em momentos de pura diversão durante o espectáculo.

António Feio e José Pedro Gomes estrearam o espectáculo “A Verdadeira Treta” no Casino Lisboa, na passada 3ª feira. Os conhecidos actores iniciaram, assim, um ciclo de representações que promete animar os serões no Auditório dos Oceanos. Com acutilantes registos de humor, trocaram opiniões sobre diferentes assuntos que marcam a actualidade. O preço do petróleo, a segurança, a educação ou a saúde foram alguns dos temas incontornáveis nesta peça. Aliás, é habitual os actores versarem (e a peça tem mesmo momentos de pura poesia) sobre as temáticas mais escandalosas da nossa sociedade actual, de uma forma divertida, mas inteligentemente crítica. O seu poder é incontornável.
A eles, é-lhes permitida a utilização de palavras que não existem, mas que todos percebem o que querem dizer, e de tempos verbais mal conjugados, numa linguagem disparatada e brejeira. Porque é tudo em nome do humor e a eles fica-lhes bem, não só essa linguagem, mas também um colete de vaca sobre uma t-shirt encarnada, assim como um facto branco com umas meias das raquetes (sim, as míticas meias afinal ainda existem).
Importante é referir que eles agora não só criticam, como também procuram contribuir para a evolução do cidadão comum. Toni “ensina-nos” a reciclar, pelo menos fica implícito que até o mais brejeiro dos humanos deverá fazê-lo. O texto tem uma estrutura cíclica, sendo que acaba onde começa: o problema de Zézé que não se lembra do código do seu cartão multibanco e está teso que nem um carapau. É aí que tudo começa e aí que tudo acaba, com a máquina a engolir o cartão.
Há 11 anos que eles andam a fazer isto: falar de uma maneira completamente disparatada sobre todos os assuntos de que as pessoas falam no dia-a-dia. Estrearam em 1997, no Auditório Carlos Paredes, depois esgotaram os Coliseus, fizeram uma série televisiva, um filme e um programa de rádio. Agora é a vez do Casino Lisboa receber “A Verdadeira Treta”. O cenário é de uma simplicidade esteticamente bem conseguida – duas cadeiras em simetria e um cinzeiro de pé ao meio. O recurso a poucos elementos cénicos, já habitual com estes dois actores, convida o público a puxar mais pela imaginação e a distrairmo-nos menos da qualidade da linguagem dos protagonistas, tanto verbal, como corporal
António Feio e José Pedro Gomes partilham, ainda, a encenação do espectáculo. Sónia Aragão é a assistente de encenação. Por sua vez, Eduardo Madeira e Filipe Homem Fonseca assinam os textos, enquanto a música é da autoria de Manuel Faria e Alexandre Manaia.
Os sorrisos são banais durante esta peça, espalhados pelo público. Os senhores são de facto castiços. A cumplicidade entre os dois é a grande mais valia. Aplaudidos pela irreverência dos seus diálogos, os personagens “Toni” e Zézé” revelaram, também, um notável sentido de improviso. O espectáculo que nasceu com uma ideia de José Pedro Gomes de criar um espectáculo que fosse muito simples na sua concepção e montagem, permitindo a itinerância do mesmo, acabou por ter uma recepção brilhante. Na altura inspiraram-se em Smith & Jones, uma dupla de comediantes ingleses, mas hoje já se separaram muito disso. É de facto uma dupla imbatível de comediantes e que vive de um grande sentido de improvisação e comédia. A grande questão é que essa improvisação que se vai sentindo em alguns momentos do espectáculo é cuidada e quase que obrigatória, de tão naturalmente criada por essa cumplicidade de que se falava há pouco. De facto há coisas que encaixam na perfeição, e pessoas também. Agora resta esperar mais um sucesso perante o público.


Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 12.09.2008)

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