quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Micro Audio Waves e The Legendary Tiger Man


As promessas da música nacional
O senhor esguio e a loira descoordenada

A primeira parte pertencia a Legendary Tiger Man, o one man band Paulo Furtado que surgiu num pequeno palco, em cima de um grande palco, com a sua guitarra, bateria e voz, além de outros instrumentos. A segunda parte era de Micro Audio Waves, o último concerto desta digressão com Claudia Efe, Morg, Flak, Fred e Francisco Rebelo. Apresentá-los como as duas bandas nacionais mais promissoras do momento talvez seja uma excelente estratégia de marketing para os menos conhecedores, mas talvez não seja assim tão verídico. Fizeram um bom concerto, isso sim ninguém lhes tira.

É inegável a qualidade de ambos os projectos. Mas há outros tão ou mais promissores neste momento, até porque tanto os Micro Audio Waves como o Legendary Tiger Man já têm os seus lugares bastante bem definidos no mercado nacional e têm já algumas incursões no circuito internacional, contudo há projectos nacionais igualmente promissores, mas que talvez ainda não tenham tido o merecido destaque. Olhemos para os Deolinda, para o jovem promissor João Lobo, para os Peixe-Balão, para os München, não são todos eles jovens promissores do momento? Depois de explicada a perspectiva, adiante.
The Legendary Tiger Man é Paulo Furtado, o “one-man-show” de blues-rock alternativo inspirado nos performers solitários de blues do Mississipi. A solo ou à frente dos WrayGunn ele faz as salas vibrarem. A sua música é excitante. Usa-se para ouvir, mas também para dançar. O homem sobe ao palco e na sua figurinha esguia abusa dos blues e do rock como se não houvesse amanhã e conquista quem lá está para o ver. Não são poucos, parece que a sala se divide entre uns e outros, e ainda aqueles que estão lá pelos dois.

The Legendary Tiger Man percorreu o álbum “Masquerade”, com algumas incursões pelo “Naked Blues” e pelo “Fuck Christmas, i got the blues”, tendo como única acompanhante a projecção de imagens de filmes escolhidas por si, alguns deles do seu projecto que pega em filmes pornográficos transformando-os em filmes não pornográficos. Estas projecções permitiram uma fusão entre o visual e o musical, criando universos paralelos. O concerto terminou com uma incrível versão da “Big Black Boat”, para depois dar lugar à banda que se seguia.


Os Micro Audio Waves são a grande certeza da nova pop electrónica nacional. Conquistaram recentemente um novo prémio nos prestigiados Quartz Awards, em Paris, e continuam a desenvolver uma mistura explosiva e sensual de pop alternativa, electrónica dançável, cabaret futurista e art rock. Neste momento são cinco, tendo em conta a bateria, a guitarra e o baixo presentes em palco, que fazem a música electrónica inevitavelmente fundir-se com o rock.
A música tomou conta do espaço e foi fluindo, cheia de ritmo. Claudia Efe parecia meio perdida no início, mesmo quando os músicos a tentavam envolver parecia tudo muito forçado. Em jeito de autista muitas vezes, o que ainda dava uma visão mais maquinal e espacial do concerto, Claudia perdia-se nas movimentações, na sua dança robótica que só começou a fazer sentido a meio do concerto, tendo-se notado perfeitamente a sua libertação final. Muitas vezes demasiado preocupada com as sandálias que teimavam em sair dos seus tornozelos finos, mesmo com movimentos de dança que por vezes faziam lembrar tentativas (talvez não conscientes) de ser como Roisin Murphy, Claudia parecia desleixada e descoordenada. Murphy é inatingível. Apesar destas sensações, a voz de Claudia faz milagres e permitiu em determinados momentos uma abstracção da parte visual do palco, deixando-nos envolver pela vontade de dançar. Pecado que estávamos sentados e era impossível fazê-lo. Depois da libertação de Claudia, balançou encantadoramente com a sua voz, que se misturou com as texturas e as sonoridades criadas pelos restantes elementos. DJ Ride, também ele um jovem promissor, foi um dos convidados especiais, que, nos pratos, foi trazendo ainda mais “dançalidade” à música dos MAW.
Também Paulo Furtado voltou ao palco, sempre em grande estilo, trazendo mais rock e deixando Claudia Efe mais à vontade, avançando pelo estilo dueto. Durante aproximadamente duas horas os Micro Audio Waves foram senhores do palco. Mas o grande senhor é sempre, sem sombra de dúvidas, Paulo Furtado – The Legendary Tiger Man.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed.26.09.2008)

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