quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Portobello, lugar-marca



Exposição Individual de Patrícia Almeida

Patrícia Almeida aborda o “lugar-marca” Algarve, do ponto de vista do marketing e do turismo, através da fotografia. “Portobello” é o título da exposição, que inaugura no dia 11 de Setembro, na Galeria Zé dos Bois. Patrícia Almeida tem 38 anos, um percurso consistente e esta é a sua segunda exposição individual. Para ver de quarta a sexta das 19h às 23h, sábados das 14h às 23h, na Galeria Zé dos Bois (Rua da Barroca; n.º 59). A exposição tem curadoria de Natxo Checa.

Um projecto de fotografia realizado ao longo de várias visitas ao Algarve durante três anos (2005 a 2007). A partir de uma abordagem documental da fotografia, Patrícia Almeida explora o fenómeno do turismo de verão e o imaginário iconográfico a ele associado, cuja promoção institucional tem por base técnicas de marketing que trabalham uma abordagem da ideia de território em termos de “lugar-marca”.
A escolha do título “Portobello” está relacionada com a retoma desta ideia de “lugar-marca”, transpondo-a para lugar sem referências. Apesar de sabermos que se trata do Algarve, poderia ser a costa espanhola ou grega, o Brasil, ou um lugar fictício. O título é uma marca. Evoca o exótico, associa-se à ideia de natureza virgem, utópica e paradisíaca, como outros nomes, como Éden ou Tahiti. que nos transportam sempre para esse imaginário colectivo. Assim que os ouvimos fantasiamos, viajamos nesse imaginário, daí a vulgar associação desses nomes ao surf, a discotecas, hotéis ou cocktails.
Portobello está no limite, à beirinha da ficção e à beirinha da água. Real e inventado, híbrido. Uma espécie de parque temático sem temática, mas ancorado num imaginário colectivo relacionado com férias. Repleto de preconceitos e estereótipos. Às imagens do Algarve ilustrativas dos guias turísticos e das páginas de Internet das câmaras municipais e das agências de viagens, Portobello apresenta também fotografias que procuram estabelecer um diálogo com a cultura popular do turismo de massas. Não estão lá os tradicionais barcos de pescadores, mas antes irlandesas solteiras e casais de adolescentes que prendem as mãos nos bolsos uns dos outros. Drag Queens que animam a noite de toda a família e discotecas onde os projectores funcionam para o vazio.
Enquanto projecto documental, apresenta-se também como um ensaio fotográfico sobre a forma como os fluxos de ocupação temporários gerados pelo turismo de verão influenciam a construção da identidade de um lugar. O Algarve é quase sempre associado a férias, a praia e a noite. A “camones”. Aqui é o Algarve como lugar para estar, não para habitar ou visitar, mas para experimentar, consumir durante umas semanas. “Allgarve. Ready for lifetime experiences?”

Legenda da imagem: Patrícia Almeida.
Via Appia. 2007 56 x 70 cm.
Fine Art Ink-jet print
Artigo publicado no Jornal Semanário - Setembro (ed. 05.09.2008)

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