segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A argentina em Lisboa, na voz de Cristóbal Repetto


Uma viagem a Buenos Aires dos anos 30

É a primeira vez que o argentino Cristóbal Repetto vem a Portugal. Promete-se uma viagem a Buenos Aires dos anos 30, em que o meio de transporte utilizado é um conjunto de tangos que nos contam histórias de amores e desamores, de encontros e desencontros. Segunda-feira, dia 3 de Novembro, pelas 21h30, no Grande Auditório da Culturgest.

Cristóbal Repetto é um nome que ainda é meio desconhecido, mas é urgente conhecê-lo. Com 29 anos, o argentino apresenta um estilo único e sublime. Afastado do que é comum, parece ter a voz mais velha e mais nova do tango ao mesmo tempo. É velha quando canta, quando recupera canções antigas, quando lhes dá um toque viciante; é nova porque as completa com uma visão e uma perspectiva de modernidade, pela sua inovadora maneira de interpretar, sem deixar de estar incrivelmente bem enquadrado na história do tango argentino.
Nascido em Maipú, Crisóbal Repetto é dono de um canto invulgar, que vai muito para além da idade e dos géneros. Quando o ouvimos lembramo-nos de Gardel e do som das grafonolas. Descoberto por Daniel Melingo, um dos mais conhecidos inovadores do tango, foi com ele que dividiu uma série de concertos em diferentes palcos de Buenos Aires e Montevido. Em 2001 começa um percurso mais individualista e lança o seu primeiro disco em 2004, com produção artística de Gustavo Santaolalla, que foi nomeado para os Prémios Gardel para “Melhor Álbum Masculino de Tango”. Com o lendário cantor Juan Carlos Godoy gravou o disco Café de los Maestros, também produzido por Santaolalla e nomeado para os Grammy latinos 2006.
"Em Lisboa vou apresentar canções do meu primeiro álbum, mas também algumas do próximo, além de mostrar canções campesinas, o que não é muito vulgar num repertório de tango", disse Cristóbal Repetto à Agência Lusa. Repetto afirmou que o seu canto "pretende unir a música do campo com a da cidade", já que, acrescentou, "na origem do tango está o folclore argentino". Antigas canções esquecidas recuperadas que são diferentes pela sua maneira diferente de cantar o tango. Síntese entre o crioulo e o urbano, apresenta-se neste concerto acompanhado apenas por uma guitarra, recuperando canções que estavam destinadas a permanecer no esquecimento ou na recordação de muito poucos.

Quando fala do seu canto, avança que a sua voz espelha um misto do que foi – cantor de folclore – com o que é hoje – cantor de tangos. Cristóbal gosta de recuperar canções situadas entre os anos 20 e os anos 40 e que foram cantadas por mulheres, demonstrando-lhes respeito e admiração, sendo o tango principalmente cantado por homens. Aliás em entrevista à Lusa, Repetto fala do respeito que sente que os portugueses têm pelas mulheres no universo do canto, falando de nomes como Cristina Branco. O fado e o tango têm pontos em comum, são canções que são oferecidas ao público e géneros com história, que fazem parte de uma memória cultural efectiva. O tango é parte de uma herança cultural, como o fado. Ambos demonstram identidades de povos. O ritmo, os temas abordados e a forma como a poesia se interliga com a melodia, são outras características comuns aos dois géneros musicais. "Tanto o fado como o tango - disse - são canções de alma, estão no coração das pessoas, nunca estão na moda e são intemporais".

Relativamente ao seu próximo álbum, que será mais nostálgico e que fala mais de relações entre pessoas, de várias naturezas, estará pronto no final do ano e no mercado em princípios do próximo. Por agora apresentará algumas canções na segunda-feira. Para o concerto trará poetas contemporâneos e algumas composições suas. Homenageará a cantora chilena Violeta Parra, uma das suas influências e trará tangos e canções sul-americanas. Ele quer ser "um embaixador da canção argentina, tanto a urbana como a campesina, como as milongas campaneras, entre outros estilos", tendo-se aproximado do tango, ainda jovem, pois encontrou nele a identidade cultural da Argentina. Parece-me que é óbvio que Cristóbal vive a canção argentina, vive o tango e tem uma capacidade inata para transmitir. Sente-se na sua voz e por isso, certamente, apresentará um concerto de momentos intensos, acompanhado apenas pela sua guitarra.


ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado no Jornal Semanário (ed.31.10.2008)

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