segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A crise no mercado da arte


Nem o mercado de arte escapa da crise financeira global. Os coleccionadores elevaram os preços das obras de arte. A retirada de um quadro de Picasso do leilão da casa londrina Sotheby's, anunciada a terça-feira passada e o cancelamento das contratações pelo MoMA de Nova York são alguns indícios de que a actual crise financeira passou definitivamente a afectar o mercado da arte. Lembremo-nos que há anos que se questionava quando iria acabar o boom dos últimos anos provocado por uma procura com contornos histéricos que levou a preços astronómicos das obras de arte.
A própria Sotheby's não conseguiu vender, no passado dia 17, uma importante pintura do artista alemão Gerhard Richter, por vários anos considerado o artista mais caro ainda vivo. Ninguém ousou pagar os cerca de 9 milhões de euros pedidos pelo quadro Jerusalém (1995). No mesmo leilão, a pintura Caveiras (1976), do americano Andy Warhol, trocou de dono por 5,5 milhões de euros, bem abaixo dos esperados 8,75milhões de euros. Por receio que as turbulências dos mercados financeiros também se repitam no mercado de arte, a casa londrina de leilões anunciou a retirada da pintura cubista de Picasso Arlequim (1909), avaliada em 24 milhões de euros, do leilão que realizará na próxima segunda-feira.
Por depender principalmente de patrocínio privado, sobretudo a cenaartística norte-americana está propensa a ser atingida pela crise. Neste contexto, o director do Museu de Arte Moderna de Nova York, Glenn Lowry, declarou ao New York Times: "Nós sabemos que uma tempestade está sobre o mar e que chegará à terra. Não temos ainda ideia da sua dimensão e de quando chegará".
Na semana passada, o MoMA cancelou ainda novas contratações de pessoal. Ainda neste ano, o orçamento será reduzido em 10%. Outras instituições também tomaram medidas de economia, tais como o Museu de Arte Contemporânea de Honolulu, no Havai, que teve de demitir 25 pessoas, mais da metade de seu pessoal.
A dependência da arte norte-americana do dinheiro privado é enorme.Somente em 2006, os americanos doaram cerca de 10 bilhões de eurospara instituições culturais. Por outro lado, a contribuição do governonorte-americano para o fomento à arte e à cultura representa somenteuma fracção desta quantia. Em comparação, na Alemanha, os subsídiosfederais, estaduais e municipais para a cultura perfazem cerca de 8bilhões de euros.
Max Hollein acredita no futuro da arte. Entre as instituições alemãs mais prejudicadas pela falência do grupo financeiro norte-americano Lehman Brothers, estão a Schirnhalle e o Museu Städel de Frankfurt, dirigidos por Max Hollein, filho doarquitecto austríaco Hans Hollein.
É longa a lista de patrocinadores privados de Hollein, que agora senteos efeitos da crise. Comentando seus efeitos no mercado da arte, odirector declarou, em entrevista à Spiegel Online, que o mercado daarte não é algo autónomo e, como no final dos anos de 1980, a bolha domercado da arte também estourou devido a uma crise financeira.Optimista quanto ao futuro, Hollein acresceu: "Mas isto não quer dizer que, em tempos difícil, nada mais é possível. O Museu de Arte de NovaYork foi criado no ano da crise de 1929".


ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado no Jornal Semanário (ed.31.10.2008)

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