Do lugar onde estou já me fui embora
“VLCD!” pelo Teatro Meridional
“VLCD!” é um espectáculo que fala sobre a velocidade actual, do ponto de vista temporal. Dois conceitos que são atravessados através de um olhar humorístico. A verdade é que desde que o homem começou a medir o tempo, o tempo também o começou a medir a ele e às suas capacidades. De 12 Novembro a 21 de Dezembro no Teatro Meridional, com Carla Maciel, Fernando Mota, Luciano Amarelo e Miguel Seabra.
A velocidade que nos conduz nos tempos modernos é aquela que conduz o ser humano a um nível de vida material que se dissocia da sua própria felicidade. É aquela que surge como truque de uma sociedade moderna, a de consumo. “O Homem mede o tempo e o tempo mede o Homem”, diz um provérbio italiano.” É verdade que temos aumentado a produtividade, a riqueza e a prosperidade, tudo porque se começou a usar o tempo de forma cada vez mais intensa. Mas não nos afastamos de nós, da nossa essência? É o homem moderno mais feliz, por ser mais rápido? Hoje, o mais capaz é o mais rápido. Aquele que é o melhor empresarialmente é aquele que melhor usou o seu tempo, que fez mais coisas em menos tempo. Falar em tempo, hoje, significa acima de tudo compreendê-lo em velocidade, impõe-se uma nova ordem do mundo. Independentemente da qualidade, do valor intrínseco, da beleza, do afecto, o melhor é o que chega primeiro.
Claro que a rapidez com que se vive implica também que as vivamos mais superficialmente, sem aprofundamento algum, sem vivência interior, sem a essência imaterial dos objectos que suscitaram algures o nosso interesse.
No mundo em que vivemos as cidades acertam horas entre si, existem horários de verão e horários de inverno e o tempo mede-se por relógios, por telemóveis, por agendas. A capacidade de um transporte vê-se pela sua capacidade de nos fazer usar menos tempo. Tempo e velocidade. Mesmo que não haja tempo para abrir um livro no comboio mais rápido do mundo. Já chegámos? Onde queremos chegar afinal? Andamos sempre a correr.
“Anda-se tão apressado que tudo e todos os que possam atrasar essa marcha se transformam no inimigo. “- escreve Nuno Pino Custódio, responsável pela direcção cénica deste projecto.
Há muito que o tempo se tornou mensurável, espartilhável em todos estes meios: horários de escola, horários de trabalho, calendários, pda’s. “Não tenho tempo” é uma das expressões que mais entram nos nossos ouvidos, que mais dizemos por aí. Tempo é escasso e um recurso de luxo. Mas ao mesmo tempo que tomamos consciência destas coisas, também procuramos a felicidade. Há que ser feliz, aqui e agora, não numa vida depois da morte. Há que ser feliz, agora que por volta dos quarenta anos existe todo um tempo de vida que, do ponto de vista da reprodução da espécie, se tornou redundante.
“VLCD!” pelo Teatro Meridional
“VLCD!” é um espectáculo que fala sobre a velocidade actual, do ponto de vista temporal. Dois conceitos que são atravessados através de um olhar humorístico. A verdade é que desde que o homem começou a medir o tempo, o tempo também o começou a medir a ele e às suas capacidades. De 12 Novembro a 21 de Dezembro no Teatro Meridional, com Carla Maciel, Fernando Mota, Luciano Amarelo e Miguel Seabra.
A velocidade que nos conduz nos tempos modernos é aquela que conduz o ser humano a um nível de vida material que se dissocia da sua própria felicidade. É aquela que surge como truque de uma sociedade moderna, a de consumo. “O Homem mede o tempo e o tempo mede o Homem”, diz um provérbio italiano.” É verdade que temos aumentado a produtividade, a riqueza e a prosperidade, tudo porque se começou a usar o tempo de forma cada vez mais intensa. Mas não nos afastamos de nós, da nossa essência? É o homem moderno mais feliz, por ser mais rápido? Hoje, o mais capaz é o mais rápido. Aquele que é o melhor empresarialmente é aquele que melhor usou o seu tempo, que fez mais coisas em menos tempo. Falar em tempo, hoje, significa acima de tudo compreendê-lo em velocidade, impõe-se uma nova ordem do mundo. Independentemente da qualidade, do valor intrínseco, da beleza, do afecto, o melhor é o que chega primeiro.
Claro que a rapidez com que se vive implica também que as vivamos mais superficialmente, sem aprofundamento algum, sem vivência interior, sem a essência imaterial dos objectos que suscitaram algures o nosso interesse.
No mundo em que vivemos as cidades acertam horas entre si, existem horários de verão e horários de inverno e o tempo mede-se por relógios, por telemóveis, por agendas. A capacidade de um transporte vê-se pela sua capacidade de nos fazer usar menos tempo. Tempo e velocidade. Mesmo que não haja tempo para abrir um livro no comboio mais rápido do mundo. Já chegámos? Onde queremos chegar afinal? Andamos sempre a correr.
“Anda-se tão apressado que tudo e todos os que possam atrasar essa marcha se transformam no inimigo. “- escreve Nuno Pino Custódio, responsável pela direcção cénica deste projecto.
Há muito que o tempo se tornou mensurável, espartilhável em todos estes meios: horários de escola, horários de trabalho, calendários, pda’s. “Não tenho tempo” é uma das expressões que mais entram nos nossos ouvidos, que mais dizemos por aí. Tempo é escasso e um recurso de luxo. Mas ao mesmo tempo que tomamos consciência destas coisas, também procuramos a felicidade. Há que ser feliz, aqui e agora, não numa vida depois da morte. Há que ser feliz, agora que por volta dos quarenta anos existe todo um tempo de vida que, do ponto de vista da reprodução da espécie, se tornou redundante.
Foi destas premissas que nasceu um espectáculo, feito do encontro de todos os seus criadores. Nuno Pinto explica-nos: “Um espectáculo edificado e projectado dramaturgicamente no espaço contemporâneo dos ensaios e que também ele se debateu, na sua fase de criação, com as mesmíssimas questões que eram, afinal, o seu objecto. Das alegrias, descobertas, dificuldades e também tantas angústias resultou uma oportunidade de crescimento e de valorização humana inesquecível. Como falar do tempo? Como traduzir através de acções essa sensação tão concreta e tão aguda de que já partimos do lugar onde acabámos de chegar? Como repetir emoções que, debaixo dos nossos narizes, no quotidiano, já nem damos por elas ou tornaram-se tão banais que são tidas como normais? Como fazer Teatro mais uma vez? “ A forma que encontraram foi partir da técnica de clown, trabalhando através do gesto e da criação colectiva.
Para o Teatro Meridional, hoje, responder à questão do teatro significa pensar através da relação dos que estão. Afinal, a maior viagem é aquela que vai de uma pessoa a outra e pode não ter fim. Se hoje pouco ou nada se experiencia, a forma melhor de contrariar isto é trabalhar a relação, porque o Teatro Meridional quer trabalhar a arte do presente.
ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (ed. 07.11.2008)
Fotografias © Margarida Dias
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