sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Joan As Police Woman - O vento que atravessa a floresta

American Soul Music por Joan

Ela é americana, sensual e tem uma voz densa. Chama-se Joan Wasser, mas é mais conhecida como Joan As Police Woman, nome retirado de uma série de TV doa anos 70. Tem um percurso profissional que brilha em qualquer crítica: já tocou com Antony Hegarty (Antony and the Johnsons), Rufus Wainwright, Lou Reed, Nick Cave, Laurie Anderson, The Scissor Sisters, entre muitos outros. Outra das etiquetas que lhe colocam é a ter sido namorada de Jeff Buckley, mas isso dá-lhe mística, é a verdade. Depois do disco de estreia “Real Life” (2006), sobe agora aos palcos para apresentar o segundo álbum em nome próprio, “To Survive”, lançado no passado mês de Junho. Este fim-de-semana toca em Guimarães, no sábado, e em Sintra, no dia seguinte.

Compositora, cantora, violinista, pianista e guitarrista, Joan Wasser desafia os limites do rock, jazz, soul, punk e r&b. Dona de uma voz quente, a sua música vai viajando por canções aconchegantes, que fazem parte de um universo soul-indie. Influenciada por Nina Simone, começou a criar música brilhante, que tem recebido aplausos da crítica internacional. Podemos falar de todos os nomes que já a influenciaram e com quem partilha momentos de música de incrível qualidade e vamos fazê-lo. Tocou com Lou Reed no fabuloso «The Raven», foi recrutada por Hal Willner para a banda de suporte da sua homenagem a Leonard Cohen, esteve na formação de Anthony & The Johnsons, faz parte do grupo de Rufus Wainwright e, antes que o fôlego acabe, também tocou com Nick Cave e teve bandas como os Dambuilders, Black Beetle ou Those Bastard Souls.
No entanto, diz que “quem a influencia é a vida, e que a sua música soa como o vento que atravessa a floresta.” A sua música transborda histórias e manifesta essa ideia de que a vida influencia a arte, pelo menos quando o artista assim o deseja. A sua música é difícil de categorizar, porque bebe influências no jazz, no soul. Ela própria acaba por o fazer melhor: “Já lhe chamei R&B Punk Rock, mas American Soul Music é melhor. Sinto que a minha música é o resultado da junção dos dois estilos de que mais gosto: Soul, aquele género que engloba desde Al Green a Nina Simone e Isaac Hayes, e depois tudo aquilo que veio do Punk – os Smiths, os Grifters, a Siouxsie Sioux.”. Joan cresceu numa grande proximidade a um clube de punk, o Anthrax, onde viu os Sonic Youth, os Black Flag e os Bad Brains.. Tudo isso deu-lhe vontade de ser ela própria uma participante activa no mundo da música e o seu violino, que começou a aprender desde os seis anos, depressa se juntou às bandas onde participava.

Joan tem também um interesse político muito forte e isso acaba por se respirar no seu trabalho. Ela gosta de vocalizar as opiniões que tem e de marcá-las de alguma forma. Esse interesse na política está manifestado no seu mais recente álbum, «To Survive», escrito depois do falecimento da sua mãe. Talvez por estas perdas na sua vida, muitas vezes as suas composições falam de amor e perda. Mas as suas canções são acima de tudo momentos sonoros em que Joan tenta ultrapassar a raiva que nasceu de sentimentos com os quais não sabia lidar. Ao vivo, a gestão desses sentimentos é o seu cenário. As pessoas sentem-se atingidas, porque ela sopra ventos fortes de sentimentos e sensações que nos atingem. E respira-se a verdade que ela mantém, depois de um percurso longo em que tentou fugir de si mesma. Sublime e sofisticado, profundo, sensorial, bom, é como se espera o concerto. Artistas assim não aparecem todos os dias e, no entanto, ela existe e está cá: Joan As Police Woman. Não é a primeira vez que vem a Portugal, já veio tocar ao Santiago Alquimista e fez a primeira parte de um concerto de Rufus Wainwright. Agora tocará no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. E vale a pena a viagem a qualquer um dos sítios.
Ela é especial, prova-o a canção “Everybody here wants you” que Jeff Buckley lhe escreveu.

ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (ed. 07.11.2008)

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