sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Teatro, Prazer e Risco

Vera Borges entrevistou cinquenta pessoas que se dedicam ao teatro. Este livro é exactamente o conjunto de cinquenta histórias da vida artística de actores e encenadores. “Teatro, Prazer e Risco. Retratos sociológicos de actores e encenadores portugueses”
“Como chegaram ao teatro? O teatro é uma paixão, um prazer, um apelo forte pela arte? Porque razões perseguem até ao limite e “pagam o seu sonho”: fazer teatro? O que fazem hoje aqueles que conseguiram vencer as adversidades e trabalham nos grupos de teatro?” – estas são algumas das questões que colocou, porque afinal a arte é uma forma de estar.
Vera Borges é investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS-UL), doutorada em sociologia e a sua investigação avançou sobre a actividade teatral em Portugal – inédita no nosso país – que envolveu 102 grupos de teatro e 140 profissionais do meio e concluiu que a incerteza quanto ao futuro é uma das tónicas dominantes do discurso de todos aqueles que trabalham no meio. Para isso, muito contribui a ausência do reconhecimento, por parte do Estado, de qualquer condição de distinção ou de enquadramento legal da profissão.
A falta de meios, de condições de trabalho e de estatuto profissional são os maiores problemas que hoje se levantam aos actores e encenadores portugueses. Nota-se uma marca comum nos seus discursos: o risco, a instabilidade e a incerteza das suas carreiras, os “contratos a recibos” durante anos com o mesmo empregador.
Ainda assim o número de artistas não pára de aumentar. Este aumento exponencial deve-se entre outros factores: ao prazer, à componente de realização pessoal e vocacional associada a estas actividades, e às exigências de criatividade e inovação das sociedades contemporâneas. Sendo em grande número, os artistas são cada vez mais competitivos nos mercados e procuram chamar a atenção do público.
Alguns destes grupos de teatro chegaram ao fim do seu percurso mas não aconteceu o mesmo com as pessoas que os fundaram, que neles trabalharam como actores permanentes do elenco ou actores convidadosEsta obra surge na sequência do livro ‘O Mundo do Teatro em Portugal’, publicado em 2007, que retrata uma extensa e aprofundada investigação sobre a actividade teatral do nosso país, no que se relaciona com a profissão de actor, as organizações e o mercado de trabalho.

ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado no Jornal Semanário (ed. 07.11.2008)

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