segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Nneka e Thievery Corporation agitaram as noites

Mood dança, dádivas de energia

Lisboa anda a ser invadida por concertos inacreditáveis com festas garantidas. Tanto os Thievery como Nneka tinham estado este ano em Portugal, em festivais de Verão. Ambos voltaram ainda mesmo antes do final de ano. No passado dia 19 de Outubro, o Coliseu encheu para receber os Thievery Corporation. Na passada 3ª feira, o Lux apresentou uma casa cheia para ouvir e sentir a música de Nneka. Com linguagens musicais totalmente distintas, estes dois mundos apresentaram coisas em comum: noites inesquecíveis, dádivas de concertos de qualidade onde se transpirou boa vibração e onde se dançou até não se poder mais.


Thievery aquecem a noite
Depois de terem encerrado a edição deste ano do festival Paredes de Coura, Eric Hilton e Rob Garza, mais conhecidos como Thievery Corporation, regressaram a solo nacional para um concerto em nome próprio. Trouxeram na bagagem uma mão cheia de convidados para apresentar o novo álbum “Radio Retaliation”, através de temas como “Vampires”. A multiculturalidade do projecto foi tomando voz através de vários sotaques de diferentes vocalistas, passando por momentos de percussão africana, sons orientais, dança do ventre e reggae. No fundo do palco, junto à dupla que deixou a boca de cena para o foco nos vários convidados, passavam imagens de populações de vários países e da própria banda, que já no fim confessou que Lisboa é uma das suas cidades preferidas, com a mística inerente de ter sido a urbe de estreia onde tocaram quando vieram pela primeira vez à Europa.
A festa foi-se fazendo de sorriso nos lábios e muita dança nas ancas. O calor que se fazia sentir no Coliseu misturava-se com o espírito de intervenção de “Revolution Solution” e "El Pueblo Unido", apresentado já quase no final do espectáculo. Já no encore, depois de duas horas e muito de concerto, tocaram "The Richest Man in Babylon", mas as almas estavam sedentas de mais e os corpos queriam dançar até ao fim da noite. A banda regressou para um segundo encore no qual oferece o intimista “Marching the Hate Machines”, antes de saírem. As luzes do tecto acenderam, mas eles voltaram para mais um tema não programado, apresentado pela cantora brasileira, que veio “substituir” Seu Jorge em alguns temas. “Sol Tapado” foi a canção escolhida para o fim de um concerto suculento. Extasiante, essa noite de domingo, em que quando saímos ainda se sentia o calor.


Animal de palco, Nneka tem atitude
Nneka esteve este verão no Sudoeste. Voltou agora para dois concertos. Veio da Nigéria, passando pela Alemanha e aterrou no Porto. A invicta foi convencida na noite anterior ao Lux. O piso inferior da discoteca estava a rebentar pelas costuras mesmo antes do concerto começar. Ao som dos ritmos reggae, hip-hop e soul, a artista revelou-se uma mulher, com cara de miúda, cheia de atitude e feeling na voz. «No Longer at Ease» era o mote. De punho erguido, foi usando os interlúdios para os seus manifestos políticos. Apesar de muitos não estarem claramente com vontade de os ouvir e estarem apenas lá para a festa, essa é a essência de Nneka e sem ela seria tudo menos intenso. É por essa vontade de se manifestar, de protestar contra as petrolíferas e de sentir tão penosamente a fome em África, que Nneka se torna tão genuína.
Com ritmo na cintura e de olhos fechados, ergue os seus pensamentos e canta com alma. Nneka é muitas vezes comparada a Lauryn Hill ou Ursula Rucker, mas ela é um pouco delas e muito mais que isso. Entre o comprometimento político e uma linguagem sonora muito bem conseguida, conquistou o seu espaço. O palco do Lux fica-lhe bem, melhor ainda se fosse um ainda mais pequeno ou estreito clube nocturno. Na sala estremeceu-se e transpirou-se dança em versão rendida. Eu rendi-me à sua atitude de manifestação de quem balança num mix urbano-africano. Ela é transversal. A sua entrega tão imensa num corpo tão pequeno, mostra-a enquanto animal de palco. As suas canções são lançadas ao mundo. O modo como as recebem é que pode ser diferente. A rapariga volta em Março.


ANA MARIA DUARTE
Artigo publicado no Jornal Semanário (ed.31.10.2008)

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