sábado, 29 de novembro de 2008

Veneno, duração e desinibição


Três coreografias num espectáculo - Dança no Teatro Camões

Integrado no ciclo de dança com 6 Companhias Portuguesas convidadas pela Companhia Nacional de Bailado, será apresentado “Veneno/ Eurídice e o Instante/ Finale” no Teatro Camões, pela Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, nos dias 5 e 6 de Dezembro.

“Veneno” tem coreografia de Rui Lopes Graça e é uma peça no limite. Segundo Rui Lopes Graça: “É a ideia que criamos acerca de nós próprios e dos outros. Como um vírus, que nos contamina sonhos e convicções; Separa-nos e isola. Torna-nos ilhas de coração pobre e vacilante. No espelho da vida criam-se as proporções exactas do antídoto.”. O veneno da Tarântula, “cuja picadela torna os homens muito sonolentos, frequentemente podendo também por vezes ser fatal. A Tarântula é assim chamada a partir do nome da cidade de Taranto, onde podem ser encontradas em grande número. Muitas pessoas acreditam que o veneno da Tarântula varia em característica de dia para dia ou de hora a hora, pois induz grande diversidade de paixões naqueles que são picados; alguns cantam, outros riem outros choram, outros choram incessantemente; alguns dormem enquanto que outros são incapazes de dormir; alguns vomitam ou suam ou tremem; outros caem em terrores contínuos ou em frenesins, raivas e fúrias. Este veneno provoca paixões por diferentes cores de tal forma que alguns têm prazer com o vermelho, outros com o verde e outros com o amarelo.”, pode ler-se no dicionário universal de 1690, por Antoine Furretière. Dizia-se que em alguns casos a doença poderia durar até 50 anos e que a música podia curar o seu veneno. Este espectáculo mostra-nos então essas situações de limite, de tensão, em que se vivem experiências contraditórias. Sete figuras dançam em cena e evoluem ao ritmo da música. Esta é uma dança envenenada pela própria tarântula, porque estão lá a alucinação, a aproximação da morte, a dor, o humor e o amor. Rui Lopes Graça consegue pegar no conceito de veneno, especificamente o da tarântula, e explorar as sensações da vida a partir da aproximação ou semelhança de estados humanos a estados de intoxicação com o  veneno da tarântula. A exploração deste universo leva-nos a imagens de permanente tensão e de limite, tal como alguém que foi picado por uma tarântula ou alguém que vive no limite do seu ser individual.

“Eurícide e o instante” tem coreografia de Vasco Wellenkamp e música de Philip Glass. Nesta peça Vasco Wellenkamp trabalha sobre o próprio conceito de duração. Sobre o tempo e o seu fluir, a partir da linha desenhada pela música de Glass, que repete motivos e ritmos, onde Vasco Wellecamp procura uma segunda linha. Entre o desvio e a entrega, o movimento do homem e da mulher percorre a música como um lugar. O lugar-comum entre o público e o palco parece ser a música que acaba por ser a base dos movimentos. A cadência e o ritmo são eles que levam a esta movimentação em palco, de duas pessoas que se entregam e se afastam tendo em conta a corda musical onde caminham.

Em “Finale” temos a coreografia de Henri Oguike e música de René Aubry. A partir das cadências latinas do compositor francês René Aubry, “Finale” é um bailado divertido e de rápido andamento que fecha o programa apresentando toda a companhia. Este espectáculo transborda vitalidade, divertimento, prazer, alegria. Um conjunto de bailarinos desinibidos e que espalham ideias frescas pelo palco. Uma forma de terminar leve, mas sensorial e que sopra energia.

Três olhares sobre a dança, três temáticas diferentes, em que se apresenta na totalidade a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo.

O espectáculo, a ser apresentado no próximo fim de semana, terá início às 21h30, sendo composto por três espectáculos diferentes, com a duração de 1h30 no total. Os bilhetes custam entre 5 e 15 euros.

ANA MARIA DUARTE

Artigo publicado no Jornal Semanário (28.11.2008)

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