segunda-feira, 25 de agosto de 2008

8 ½ Festa do Cinema Italiano


Cinema italiano à conquista de Lisboa

8 ½ é a primeira Festa do Cinema Italiano: uma mostra de filmes de cinema italiano contemporâneo, com uma programação forte e de qualidade. A Festa teve início ontem e decorrerá no cinema King até 11 de Junho. 8 ½ é uma clara referência à obra-prima de Fellini e ao seu imaginário. São 8 filmes do novo cinema de autor italiano e um pequeno concerto, talvez o ½. Marco Simon Puccioni, Antonieta de Lillo, Daniele Luchetti, Carlo Mazzacurati, Nello La Marca, Pupi Avati, Paolo Virzì e Stefano Odoardi são os 8 autores programados para esta primeira edição da 8 ½ Festa do Cinema Italiano.

O conceito surge da Il Sorpasso, uma Associação Cultural recentemente criada em Lisboa, para promover e divulgar a cultura cinematográfica italiana. Esta é a sua primeira actividade, em que apresenta obras do novo cinema italiano já reconhecidas pela crítica e pelo público, e já exibidas nos mais importantes festivais da área, o que lhe serve de rede de segurança naquela que é a primeira edição e o primeiro festival do género em Lisboa. A cidade foi escolhida pelas sinergias que tem demonstrado e graças à abertura que tem demonstrado para o intercâmbio cultural criado através de diversas manifestações culturais ligadas à cinematografia Europeia e Internacional. Por outro lado, o público para os festivais de cinema parece estar conquistado e com tendência ao crescimento, pelo que um festival de cinema de autor, na cidade, parece sempre desejável. Na sua esfera de interesse encontramos as relações interculturais já existentes, mas a serem fomentadas, entre Portugal e Itália. Assim, esta Festa conta com o Alto Patrocínio da Embaixada de Itália e com a colaboração do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, da Cinemateca Portuguesa e de “La Capella Underground” de Trieste, um conceituado centro de pesquisa cinematográfica. A apresentação dos filmes será sempre na Sala 1 do Cinema King. O Festival teve início ontem, dia 5, às 21h com “Riparo” (“Abrigo”), um filme de 2007, de Marco Simon Puccioni. Apresentado no Berlin Internacional Film Festival, e em antestreia nacional, é uma visão que respeita a humanidade das personagens e a ambiguidade do real. A linguagem do realizador é simples, para que o espectador consiga entrar no filme, mas é também complexa no que explica ao mesmo, talvez pela vontade que Puccioni demonstra em deixar o final em aberto, quase que pedindo ao espectador para encontrar o seu final, transformando-o. O filme conta com a interpretação de Maria de Medeiros, numa das personagens principais. De seguida, às 23h foi apresentado “Il Resto di Niente” (“O resto do nada”) (2004), de Antonietta de Lillo. Também com Maria de Medeiros, este filme conta a história da revolução de Nápoles em 1799, através do olhar de Eleonora Pimentel Fonseca, uma mulher aparentemente frágil, mas que triunfa através da inteligência. Segundo a realizadora: “Este é um filme anti-histórico no sentido que pretende aproximar as personagens o mais possível de nós.”.Assinado por Daniele Luchetti, “Mio fratello è figlio unico” (“Meu irmão é filho único”) é um filme de 2007, apresentado nesse mesmo ano em Cannes. Será apresentado esta noite, às 21h30, em antestreia nacional. “Accio é o desespero dos seus pais, susceptível e conflituoso, um instintivo com o coração na garganta que vive cada batalha como se fosse uma guerra. O seu irmão Manrico é bonito, carismático, todos gostam dele, mas é também muito perigoso (...)”. Frentes políticas opostas, a paixão pela mesma mulher. Este filme é uma constante viagem ao limite, “um filme em que os seres humanos falam de políticas e não um filme político”, tal como Luchetti o descreve. Sábado, às 22h, “La giusta distanza” (“A distância certa”) de Carlo Mazzacurati. Também de 2007, o filme foi apresentado na Festa del Cinema di Roma o ano passado. Passa-se na foz do rio Po, numa pequena aldeia com casinhas isoladas. Hassan e Mara encontram-se. Giovanni testemunha a sua história, um aspirante a jornalista. Na explicação do autor: “A distância certa é a distância que o jornalista deveria manter entre si e a notícia: não ficar muito longe ao ponto de ser indiferente, nem demasiado perto porque a emoção, por vezes, pode cegar.“La terramadre” (“A terra mãe”) foi apresentado no Berlin International Film Festival 2008 e é assinado por Nello La Marca. O filme resulta de um estudo sobre a cidade Siciliana, Palma di Montechiaro, famosa pelas origens de Tomasi di Lampedusa, e pela representação durante muito tempo do lugar simbólico do subdesenvolvimento do Sul de Itália. O filme é uma reconstrução dos seus habitantes, uma reconstrução do seu imaginário individual e colectivo, sobre a temática da desintegração da identidade, através das histórias de Gaetano e Alí. Apresentação dia 8 de Junho às 21h30.No dia seguinte, às 22h, uma incursão pelo cinema de Pupi Avati, ele próprio em viagem ao género gótico que já tinha usado em alguns filmes anteriores. “Il Nascondiglio” (“O esconderijo”), de 2007, foi apresentado na edição deste ano do Brussels International Fantastic Film Festival. A história remonta a 22 de Dezembro de 1957. Durante uma tremenda tempestade de neve, no Iowa, acontece um delito numa casa isolada. 50 anos depois essa casa é transformada em restaurante, por uma mulher de origem italiana que acaba de sair de uma clinica psiquiátrica, onde passou 15 anos. Ela está suspensa entre a razão e a loucura. “N (Io e Napoleone)” ou “N (Eu e o Napoleão”), de Paolo Virzì, será apresentado dia 10 às 21h30. Inspirado no livro de Ferrero sobre o exílio de Napoleão, conta a história de um professor idealista e libertário, falando do fervor político juvenil que teve lugar numa época tão recente. O festival encerra com “Una ballata bianca” (“Uma balada branca”) de Stefano Odoardi, apresentado em Rotterdam, em 2007, às 21h30 na sala do costume. É um filme sobre a indefinível dimensão da vida da morte. Um filme sobre e que comunica a dúvida. O concerto de que falávamos acontece no dia 8, às 23h, no Maria Matos e é um concerto encenado. O concerto permite o cruzamento entre a música e a representação cénica.Paralelamente serão debatidos dois livros: “Pasolini – o Cheiro da Índia” e “Fellini – Sou um grande mentiroso”, no dia 11, às 19h, na Fnac do Chiado. 8 ½ será ainda acompanhado pelo ciclo “O que é o Giallo?” que terá lugar na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, a partir do dia 6 de Junho, e até 30 de Junho, onde serão apresentados 12 filmes representativos do género Giallo – um cruzamento entre o thriller, o horror e o erótico, que surgiu na Itália dos anos 70.Lisboa parece invadida pelo espírito de Fellini, pelo menos teremos 8 filmes de novos autores do cinema italiano para ver durante 7 dias.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Junho 2008

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