segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ney MatoGrosso


Canto em Qualquer Canto é o último trabalho do artista brasileiro Ney MatoGrosso e é agora lançado e dado a conhecer ao público português. Antes do concerto de hoje, no Casino Lisboa, o jornal Semanário esteve à conversa com o músico para sentir o sabor do projecto e dar a conhecer este trabalho antes da sua entrada em palco.

“Liberdade total” é uma boa definição para este disco. O espectáculo surge com um convite feito pelo Canal Brasil, para que Ney Matogrosso fizesse um show comemorativo do aniversário desta emissora. A ideia foi dar um à vontade suficiente para o artista apostar naquilo que quisesse. O ênfase foi dado num repertório eclético, que ganhou novas cores a partir do trabalho com um quarteto de músicos constítuido por Marcelo Gonçalves, Pedro Jóia, Ricardo Silveira e Zé Paulo Becker, conseguindo a convivência harmoniosa de temas tão diversos como Canto em Qualquer Canto e Oriente.
Ney MatoGrosso recebe-nos, no bar do hotel onde está hospedado em Lisboa, sempre a sorrir. Na rua está imenso calor, mas o artista acaba por confessar que tem receio de se constipar antes do espectáculo. Assim, informalmente, começamos a conversa que nos levará de encontro ao projecto.
“Quando surge este convite tinha um disco praticamente pronto, um conjunto de temas inéditos, mais numa linha pop. A proposta do Canal Brasil surge para o final do ano de 2005 e tinhamos 3 meses para o preparar. Os outros temas ficaram em stand-by.”
Este disco reune três instrumentistas com quem já tinha trabalhado: Marcelo Gonçalves (violão de sete cordas), Pedro Jóia (alaúde e violão) e Ricardo Silveira (guitarra e violão). A este trio juntou-se Zé Paulo Becker (viola e violão), formando um naipe de cordas com elevada qualidade. “Reuni o repertório e fizemos uma revisão, em que a maneira como as músicas soam acaba por ser muito diferente, são novas leituras das músicas, novos modos de soar com quatro violões. Inicialmente, quando o Canal Brasil me fez o convite, a ideia era ser eu e um violão, mas eu já tinha feito isso e lancei a ideia de ser acompanhado por quatro violões”.
Este disco é um conjunto de temas escolhidos por Ney, depois divididos pelos músicos para os arranjos de cordas. Esta regravação das canções foi uma espécie de desafio, na medida em que as músicas tinham novos arranjos, menos técnicos e mais construídos através da inspiração. “Eles deram-me muita liberdade. Eu podia fazer aquilo que quisesse, nos temas, nos arranjos, no show, e isso é muito enriquecedor”.
A ideia de improvisação no disco pode ser contemplada, na medida em que há uma procura, “em que a criação é livre e as sonoridades vão surgindo à medida que se vai avançando”.
A heterogeneidade dos músicos com quem trabalhou “é muito forte, cada um tem um estilo próprio, um é mais jazzístico, outro toca mais o flamenco e isso torna as canções muito ricas e conseguiu-se encontrar um estilo muito próprio.” Quanto ao português Pedro Jóia, Ney Matogrosso não hesita em afirmá-lo como “um destaque na música. Este disco tem duas composições suas, além dos arranjos das outros temas.”
Este espectáculo em Portugal serve para apresentar o disco e de seguida o músico vai para o Brasil fazer uma tournée e volta em Julho para a Europa.
O próximo trabalho será provavelmente o lançamento dos temas já feitos, em 2007. Quando questionado sobre com quem gostaria de tocar, Ney MatoGrosso confessa que “não há assim ninguém com quem gostaria mesmo de trabalhar, mas agora gostaria de tocar com uma nova banda. Voltei a encontrar-me com o pianista dos “Secos e Molhados” e ele está a formar uma nova banda, com quem eu vou tocar seguramente as canções do próximo disco. Apresentarei três novos compositores e darei espaço para eles e para esta nova relação.”
Quanto à abertura para novos artistas no panorama da música brasileira, Ney explica “não há dificuldade na criação, há muitos talentos a criar música com qualidade, há dificuldade na divulgação. Não acho que agora seja mais fácil do que há uns anos atrás, aliás considero que é mais díficil por a indústria discográfica ter ruido e ser mais dificil entrar no meio.”.
O artista confessa “que tem uma grande fascinação pelas artes do palco, gostaria até de fazer teatro, mas considera que é necessária uma grande dedicação, e esta gosta de a guardar para a música.” No entanto já fez dois filmes “e já fui convidado para um terceiro pelo que espero continuar ligado ao mundo cinematográfico”. Por agora sobe ao palco do novo espaço cultural da cidade, o Casino Lisboa, na noite de sexta-feira, para apresentar um espectáculo de tons variados, devido à heterogeneidade dos músicos que o constróiem unida à magia da voz de Ney Matogrosso. Um espectáculo imperdível.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Maio 2006

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