quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Soou Caetano no jardim


Caetano Veloso esteve calmo e sorridente, dançando até um pouco, no concerto que deu no Cool Jazz Fest. O sítio era incrivelmente bonito e místico: o Jardim do Marquês de Pombal, em Oeiras, numa noite fresca de Verão. Fazendo-se acompanhar apenas pelo seu violão, entrou em palco e foi alternando entre músicas mais recentes e até uma inédita, e êxitos mais antigos que entusiasmaram o público heterogéneo que se apresentara para ouvir um dos mais amados do Brasil. Algumas das canções que começou por tocar eram temas de Ary Barroso, um autor que não sendo Baiano, como Caetano, se apaixonou pela Baía quando foi para lá, vindo de Minas Gerais.

Cantou todos aqueles temas que o público esperava: “Sozinho” e “Menino do Rio” foram exemplos disso. Cantou, gritando “Odeio”, música do seu álbum “Cê” e músicas que falam de amor, de sofrimento e de vidas, como quase todo o Caetano. “Terra” foi cantada, pedindo o coro de todos no refrão. Aliás havia sempre muita gente a cantar, uma das coisas que mais me afasta do que quero dos concertos, em geral. “Eu sei que vou te amar” de Vinícius de Moraes foi um dos momentos mais intensos da noite, cantada entre fados, que aliás foi uma das apostas do músico durante esta noite de Verão. Talvez por estar em Portugal, por bater uma saudade, simplesmente por gostar, Caetano Veloso foi oferecendo fantásticos fados, entre os quais, uma maravilhosa interpretação de “Estranha Forma de Vida”, seguida de um pedido de desculpas pela sua actuação em falsete no documentário “Fados” de Carlos Saura, que aliás não é nada feliz. Caetano acabou por dizer: “cantei assim, nem sei porquê, em falsete, fora do meu tom”. Está desculpado, pelo menos assim achou o público que estava a assistir ao concerto.

Caetano fez uma sentida homenagem ao seu produtor na Europa, que sempre lhe tinha sugerido cantar uma música francesa nas suas digressões europeias, da qual, infelizmente, não me recordo o nome. Caetano sempre disse que não, ou melhor sempre disse: “Da próxima vez eu canto”, nunca chegando a fazê-lo enquanto o produtor era vivo. A homenagem era merecida e eu até entendo a opinião do produtor em querer que Caetano a cantasse mais vezes. No final da noite, chegou o momento de um pezinho de samba. O ritmo chegou com “A luz de Tieta”, que fazia Caetano dançar em palco. Mais tarde, já em encore, terminou com a frase “Quem jamais esqueceria?”. E é mesmo verdade. Momentos que ficarão na memória. Um Caetano simpático, sorridente, mais maduro, pelo menos assim aparenta, assim transmite a sua voz. O caminho de regresso foi passado a ouvir as rãs da ribeira da Lage que coaxavam ao longo da noite, talvez motivadas pela música. A única coisa que preferiria neste concerto era um ambiente mais intimista, em que a proximidade entre público e músico fosse mais consciente. A música pedia isso. Caetano foi conseguindo em determinados momentos, pelo menos chegar a algumas pessoas


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