segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cannes, naquele querido mês de Maio

Fim da 61º edição do Festival de Cannes

O júri oficial desta 61ª edição do Festival de Cannes, que decorreu entre 14 e 25 de Maio de 2008, revelou os prémios, como habitual, durante a cerimónia de encerramento, que decorreu no passado Domingo. O vencedor da Palma de Ouro foi o realizador Laurent Cantet, com o filme "Entre les murs", uma película que evoca os problemas da imigração e da integração escolar. A presença portuguesa em Cannes, além da entrega da Palma de Ouro, pela Carreira, a Manoel de Oliveira, foi a ante-estreia de “Aquele Querido Mês de Agosto”, de Miguel Gomes.
A França, país anfitrião do Festival, não recebia uma Palma de Ouro desde 1987, quando esta distinguiu "Les souliers de satan" de Maurice Pialat.
Laurent Cantet ao receber a Palma de Ouro afirmou “não estar surpreendido pelo facto da escola interessar ao mundo inteiro. (...) As questões são as mesmas em todos os países.
Vai-se à escola não só para aprender, mas também para se saber ser cidadão adulto, em todos os países do mundo". Cantet continuou dizendo que: “Durante a exibição do filme se sentia já que a maneira como se contava a história era partilhada com cidadãos de todo o mundo (...)”. Antevia que "o público estrangeiro entrasse no filme tal como o público francês". O realizador disse ainda que o facto de ter recebido a Palma de Ouro por unanimidade do júri "tem um significado especial" e o "comoveu muito". “Entre les murs” foi o último filme exibido na competição. Passou no sábado de manhã, na sessão para a imprensa, e à tarde teve a sessão de gala, coroada por mais de dez minutos de aplausos que foram ficando ritmados.
Outra das grandes surpresas deu-se quando Jean Reno, chamado a apresentar o prémio para a melhor actriz do 61º Festival de Cannes, anunciou que o troféu ia para Sandra Corvelini, por “Linha de passe”. O filme que o director tantas vezes chamou carinhosamente de “pequeno” já havia sido muito bem recebido pela crítica internacional, mas faltava o aval do júri presidido por Sean Pean e ele veio sob a forma de um prémio para a actriz de teatro que faz sua estreia no cinema interpretando a mãe de quatro filhos (grávida do quinto).
Salles e Daniela subiram ao palco, ambos muito emocionados. Salles agradeceu a contribuição de Sandra, dizendo que “Ela foi realmente uma mãe para os quatro jovens actores. Daniela, falando em português, disse que a actriz vencedora não pôde vir a Cannes por causa de uma gravidez interrompida, mas que seria muito importante, num momento desses, receber reconhecimento por uma entrega que foi tão visceral.”
Em 1986, a jovem Fernanda Torres recebeu este mesmo prémio, por sua participação em Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor. A presença portuguesa no festival foi representada pelo grande Manoel de Oliveira, que recebeu a Palma de Ouro pela sua carreira, altura quando foram apresentados "Um dia na vida de Manoel de Oliveira", realizado pelo presidente do festival, Gilles Jacob, e a curta-metragem documental "Douro faina fluvial" (1931). Outro dos momentos altos do festival foi a apresentação de “Aquele querido mês de Agosto”. Produzido pela “O Som e a Fúria”, o filme centra-se num triângulo amoroso entre pai, filha e sobrinho, músicos de uma banda de música popular que percorre em Agosto várias festas populares do norte do país. Adoptando o título de uma canção do cantor Dino Meira, este filme foi rodado em aldeias de Arganil, Oliveira do Hospital, Góis e Tábua durante as festas de Verão, em 2007, e com actores não profissionais. Miguel Gomes, realizador do filme, afirmou antes da sua ante-estreira que “Desde pequeno que faço férias na região e a ideia deste filme nasceu da observação dessas festas de Verão”. Esta longa-metragem mostra esse universo, das festas muitas vezes associadas a celebrações religiosas, que se enchem de emigrantes e de pessoas que vão “para a terra” no Verão, “terra” essa que passa o resto do ano deserta. O filme acompanha a banda de baile nos palcos e as várias situações amorosas que acontecem entre aquelas personagens. Tudo isto tendo em pano de fundo uma banda sonora feita de canções apelidadas de “música pimba”, apesar de Miguel Gomes dizer: ”Eu não gosto desse termo porque dá uma ideia de inferioridade em relação aos outros géneros e nós encontrámos canções que, apesar de serem pirosas, têm qualquer coisa de verdadeiro e encaixam-se, sobretudo as mais românticas, no melodrama em que se transforma a história”, descreveu Miguel Gomes.O argumento é de Miguel Gomes, de Mariana Ricardo e de Telmo Churro. O filme deverá estrear em França no final deste ano ou nos primeiros meses de 2009, mas em Portugal ainda não tem data de estreia.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Maio 2008

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