quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Música na Brisa Fresca - Super Bock Surf Fest

Super Bock Surf Fest 2008 acontece na Praia do Tonel, em Sagres, nos próximos dias 14 e 15 de Agosto. O cartaz é equilibrado entre o dub, o reggae, o soul e o folk alternativo: Massive Atack, Morgan Heritage, José González e Asa são alguns dos nomes mais sonantes. “De dia, nadar e surfar. À noite, ouvir grande música na brisa fresca.” – este é o mote do festival e se o espírito for mesmo este,  é um pecado ser durante a semana.

 

Imaginem calor, praia, férias, amigos e música. Agora imaginem que se torna realidade. Chama-se Super Bock Surf Fest, depois de se ter chamado Sagres Surf Fest. Tendo em conta que quem patrocina é a Super Bock, a alteração do nome foi uma estratégia inteligente e necessária. Este festival é encarado de uma forma diferente, é o último festival do género, este Verão, e muitos dos festivaleiros não o encaram como uma passagem obrigatória. Contudo, e apesar da sua média dimensão, apresenta um cartaz com nomes de elevada qualidade. As principais diferenças do festival estão apresentadas: dimensão e localidade. Este é também um dos festivais com preço mais acessível – 40 euros pelos dois dias, 25 euros os bilhetes diários [o campismo é gratuito para quem tenha o passe de dois dias].

Bem mais ligado à praia, o festival tenta comunicar para os grupos de jovens mais ligados ao Surf e à praia. Eu diria que este festival tem tudo para vingar no mundo dos festivais de verão: praia, boa música, Surf, sol, uma comunicação jovem e com boa energia; mas quem costuma ir diz que tem um ambiente pesado, no sentido de confusão, de má onda até. Esperemos que este ano seja diferente, que as pessoas se deixem influenciar pela música, pelas sonoridades de José González, por exemplo, e fiquem com numa onda mais próxima ao do festival, lançando apenas “good vibes”.

Ao longo destes dois dias, pelo palco da Praia do Tonel, ao lado da Fortaleza de Sagres, passarão nomes ligados à música electrónica, reggae e soul. Começa-se em português. Os Manif3stos iniciaram a sua intervenção musical e cultural no ano de 2005, em Carcavelos. Influenciados por diferentes estilos e matrizes musicais e culturais, os membros da banda encontraram no grupo um tempo e um espaço que lhes permitiu encontrar um equilíbrio entre o hip hop e o reggae. O texto e a palavra são elementos fundamentais na vida da banda pois é através deles que se procuram reflectir e representar múltiplas realidades sociais, culturais, tecnológicas e económicas em que vivemos. Apresentarão em concerto o primeiro registo discográfico - “Gerasons”.

A banda londrina, Dub Pistols, que conta já com três álbuns editados, será a segunda a subir ao palco do festival. Com uma mistura de géneros lançaram a loucura nas pistas de dança do Reino Unido: rock n roll, hip hop, dub, techno, ska, punk e futuristic skank. A sua invulgar capacidade para remixar músicas, levou os Dub Pistols a remisturar trabalhos de Moby ("James Bond Theme"), Crystal Method ("Do It"), Limp Bizkit ("My Way"), Bono e Korn & Ian Brown ("Dolphins Were Monkeys"). Assim que se começarem a ouvir os primeiros sons, não vos é mais permitido parar de dançar.

Nessa mesma noite, ASA, [que se lê Asha], uma mistura deliciosa de soul, R&B, reggae e pop com um toque de yoruba. Ela nasceu em Paris mas cresceu, desde os dois anos, na Nigéria mais precisamente em Lagos, a capital não só daquele país mas também do AfroBeat de Fela Kuti. Talvez por isso mesmo, começou a cantar muito nova, também influenciada pela diversidade musical que ouvia em casa, culpa dos muitos álbuns que o pai tinha. Esta eclética songwriter estreou-se com o álbum homónimo e logo despertou a atenção de toda a indústria discográfica e certamente vai conquistar Sagres.

Seguem-se os Morgan Heritage, descritos como um dos mais influentes act’s de reggae da actualidade. Apesar de serem conhecidos por procurarem incessantemente o melhor modo de mostrar todo o seu amor pela música reggae, através da sua música, nunca abdicam da sua vertente mais street wise, construindo temas plenos de romantismo, espiritualidade e muita consciência social. Nascidos em Brooklyn e a viver na Jamaica há 11 anos, o grupo Morgan Heritage, como o seu nome indica, é formado pelos filhos do célebre cantor reggae Denroy Morgan. Momentos para continuar a dançar.

Massive Attack é o colectivo mais esperado nestes dias. Em destaque desde os anos 90, com o desenvolvimento do Trip Hop – um som que combina a urgência rítmica do hip hop com dj samples, melodias soul e uma linha de dub reggae. Com um novo álbum, fica a promessa de uma noite de novos sons, mas também de uma passagem por álbuns anteriores.

A noite seguinte começará com “Doces Cariocas”, que reúne um amplo conjunto de artistas: Pierre Aderne, Alexia Bomtempo, Marcelo Costa Santos, Domenico Lancelotti, Alvinho Lancelotti, Simoninha, Luis Carlinhos, Rogê, Silvia Machete, Ingrid Vieira, além dos instrumentistas Felipe Pinaud, Dadi, Mauro Refosco, Rafa Nunes, Lancaster e Pretinho da Serrinha. Um grupo de amigos que nos abre a porta das suas casas e nos oferece rebuçados musicais. A música está aqui e agora: sem ruído. Apenas vozes, sorrisos, percussões e violas. De seguida passa-se para um som bem diferente: os Triplet, banda oriunda de Cascais exploram uma sonoridade rock actual, com boa dose de punk rock melódico, onde tem as suas raízes, destacam-se por ter uma "menina a cantar num mundo de homens".

A meio da noite um dos nomes mais esperados: José González.  ‘In our Nature’ é o álbum que o sueco José González vem apresentar e que irá aquecer as noites frescas de Verão. O autor de ‘Heartbeats’, sempre acompanhado da sua guitarra, promete não desiludir seja com os seus melodiosos temas, seja pelas versões bem conseguidas de temas de bandas que vão dos Joy Division, a Bruce Springsteen, e até aos Massive Attack. Que pena não ser na mesma noite desse colectivo.

O roots reggae de Jahcoutix & Dubios Neighbourhood também estará no Algarve. Depois de viajar pelo mundo e ter descoberto a cultura Rastafari, ele desenvolve a sua música e vem a Portugal para mostrar o resultado de toda essa aprendizagem. De seguida, os  Groundation que têm a sua música centrada na improvisação, no som e na curiosidade. A música como meio de uma comunicação oferece-lhes uma língua comum. Por fim e para encerrar o festival: Emir Kusturica e a No Smoking Band é o projecto musical do premiado realizador sérvio responsável por pérolas cinematográficas como “Gato Preto, Gato Branco” ou “Underground .

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed.08.08.2008)

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