quarta-feira, 27 de agosto de 2008

La Tour de la Défense

 

“A Torre de La Défense” é a quarta apresentação da KARNART C.P.O.A.A. em 2008 e é um espectáculo baseado em “La Tour de la Défense” do dramaturgo argentino Copi, com concepção, direcção e instalação de Luís Castro. Em cena na Culturgest, de 9 a 14 de Setembro. Arte performativa e plástica num dos espectáculos mais importantes do grande dramaturgo Copi.

 

Raul Damonte Botana nasceu no final dos anos 30 em Buenos Aires. O argentino, mais conhecido como Copi viria a morrer em Dezembro de 1987 em Paris. Foi escritor e dramaturgo. Com as suas origens, tendo nascido no seio de uma família de intelectuais, quase que se pode dizer que difícil seria não enveredar pela área artística: o seu pai era o jornalista Raul Damonte Taborda, deputado e director do diário “Tribuna Popular” e a sua mãe, a filha mais nova de Natalio Félix Botana, fundados do diário Crítica. Ainda vamos mais longe: a sua avó era escritora e dramaturga -  Medina Onrubia. Desde novo que a sua veia artística estava presente, mas no desenho. A saída de Buenos Aires é originado pelas actividades políticas de seu pai, que aquando do conflito com o Perón, obrigaram ao exílio da família no Uruguai, no Haiti e depois na cidade de Nova Iorque.

Em 1962 Copi acabou por se radicar em Paris. Fez-se conhecer primeiro pelos seus desenhos publicados no “Le Nouvel Observateur”, mas depressa começou a actuar com o Grupo Pánico criado por Alejandro Jodorowsky, Fernando Arrabal e Roland Topor, aos quais depois se juntou Jorge Lavelli, que aliás a partir de 1966 dirigiu as obras de Copi. Escolheu a língua francesa para se exprimir nos seus romances e peças de teatro, e acaba por conseguir tornar-se numa personalidade excepcional no meio cultural francês dos anos 60. Autor, dramaturgo, encenador, actor, desenhador, os seus talentos múltiplos foram postos ao serviço de um humor que viria a atravessar todas as suas actividades. Reenvidicou durante toda a vida uma marginalidade assumida, provocando e seduzindo, colocando a ironia, a fantasia e a sua generosidade no centro da sua obra. Desde “La Journée d’une rêveuse” (1968) à sua última peça “Une visite inopportune”, na qual encena a sua própria morte, Copi fala sempre de si, entre Argentina e França, sendo uma testemunha implacável dessa época, mas com um olhar terno e repleto de humor.

“La Tour de la Défense” é a peça mais construída de Copi, talvez o seu maior clássico. Uma comédia com sete pessoas: um casal gay, uma burguesa em ácidos e a sua filha, um travesti, um árabe e um americano. Estão todos a passar a noite de 31 Dezembro de 1976 num prédio no bairro La Défense, em Paris. Algures entre o “vaudeville” e o drama psicológico, torna-se praticamente impossível de classificar. Situações loucas umas a seguir às outras levam os espectadores a rir à gargalhada e a passar repentinamente para um olhar sobre a solidão das personagens. Esta peça foi recentemente encenada por Marcial Di Fonzo Bo, argentino residente em Paris desde 1987 e membro fundador do Théâtre des Lucioles, com apresentação em Julho, no Festival D’Avignon. Marcial Di Fonzo Bo encenou esta visão séria e inesquecível do amor e do não amor, divertida e irónica, com uma mistura de luz e de disciplina que permite aos actores a mesma liberdade que Copi reclamava enquanto autor. Desta forma, conseguiu a criação de movimentos em personagens, por vezes familiares, por vezes numa forma extrema de caricatura que tentam desesperadamente, mas sempre energicamente, evitar cair num abismo. Elas dançam no precipício.

Após a dupla abordagem de “L’Homosexuel ou la difficulté de s’exprimer”, em 2005 com três actrizes e em 2007 com três actores, num processo de pesquisa que visou investigar de que forma o género do intérprete influencia a criação de um personagem transgénero, a KARNART C.P.O.A.A. volta a Copi com um desconcertante texto. Jean, Luc, Daphnée, Micheline, Ahmed e John são o motor de uma complexa teia de encontros e desencontros.

Prosseguindo a investigação do conceito em pesquisa no seio do colectivo desde a sua formação – o Perfinst©, neologismo resultante da união das quatro primeiras letras das palavras performance e instalação –, o espectáculo vê cada um dos dois actos do texto que lhe deu origem alicerçados nas linguagens das artes performativa e plástica. Enquanto o primeiro acto é centrado no trabalho do actor, sem recurso a adereços e com uma marcada intervenção de movimento, o segundo revela-nos um universo de instalação pura no qual os elementos teatrais existem como peças soltas. 

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed. 22.08.2008)

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