quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Luzes sobre a Herdade da Casa Branca


Festival Sudoeste

Faltam 12 dias para o início do Festival SW e a Herdade da Casa Branca já está a preparar-se para receber tendas, gente que gosta de música, pessoas que passam o verão a percorrer o país de norte a sul para viver vários dias de loucura musical, os chamados festivaleiros, e mais quem queira aparecer. De 7 a 10 de Agosto, a Herdade bem perto da Zambujeira do Mar, também esse considerado um paraíso alterado durante este período do Verão, mudam as suas energias calmas e recebem sons extasiantes e luzes intensas. Sentimentos contraditórios e, talvez por isso, um festival tão especial.

A primeira noite do festival é uma espécie de inauguração. Apenas funcionará o espaço “Positive Vibes” que recebe Bob Singlair & Big Ali, Sexy Sound System e DJ Malvado. No espaço Kubik Tiefschwarz, Full Metal Funk, Pan Sorbe e Tiago Santos. O verdadeiro festival começa no dia 7 e continua até dia 10 de Agosto. Dia 7, no Palco Principal encontraremos Natiruts, Tinariwen, os portugueses Clã e Bjork, a presença mais aguardada dessa noite. A senhora não necessita de apresentações. A islandesa Bjork é provavelmente uma das mais originais artistas dos últimos anos. Uma visionária na abordagem audiovisual da música, performer avant-gard que começou no punk, desenvolveu-se na pop-new wave agridoce dos Sugarcubes e cimentou a sua excelência ao longo de quase 15 anos de carreira a solo, onde tem explorado diversos universos como o da pop, da dance music  e da club culture. A sua voz é única, com os doces sussurros (quem não se lembra de “It’s all so quiet”?), numa postura de menina e mulher, até aos mais agressivos rasgos sonoros. Com trabalhos tão completos e intensos como “Debut”, “Post”, “Homogenic” e “Selma Songs”, Bjork nunca nos desiludiu e continua a não o fazer. Esta é uma forma incrível de começar o festival. Quem nunca a viu, tem de ir. Quem já o fez, pode sempre ir vê-la de novo e sair mais uma vez surpreendido. A noite conta ainda com Arnaldo Antunes, Roy Paci, José James, Toumani, Codfinger e Roberta Sá no Palco Planeta.

No dia 8 sobem ao palco 3 grandes. Goldfrapp, Tindersticks e The Chemical Brothers. Tudo isto depois de Yael Naim e Rita Redshoes, actualmente nos ouvidos do mundo. Os Chemical Brotthers já deram mais do que provas da sua apetência para agitar as multidões e fazem-nas desfrutar o que de mais inventivo se cria no universo da electrónica. Entusiastas dos sons mais dançáveis, Ed Simons e Tom Rowlands estavam longe de imaginar onde chegariam quando no início dos anos 90 avançaram como dupla de dj’s denominada por The Dust Brothers, como uma homenagem à banda americana com o mesmo nome. Quando passaram a Chemical Brothers deram início a um percurso de irreverência sónica que engloba seis álbuns de originais. Provavelmente conseguirão proporcionar momentos de euforia e dança frenética inesquecíveis. Pelo menos assim esperamos. No Palco Planeta destaque para Rosália de Sousa. Mas ainda focamos a incrível presença sensual e com uma voz intocável de Stuart Staples, dos Tindersticks, com quem entrará em palco para deslumbrar as almas mais sensíveis. Em universos totalmente diferentes, igualam-se em importância ou rotolagem de “imperdíveis” juntamente com os Chemical. Desde que apareceram, nos anos 90, afirmaram-se logo como um dos mais originais projectos dessa década. Com uma personalidade única, os Tindersticks têm como principal característica a voz de barítono do carismático vocalista Stuart Staples, emoldurada por uma orquestra de fundo extremamente luxuosa, basicamente soul e jazzy, que tem como principal artífice o arranjador, pianista e violinista Dickon Hinchliffe, e 4 outros componentes responsáveis pelos vários e sofisticados instrumentos que povoam os seus discos. Em 2008, os Tindersticks estão de regresso aos álbuns com o sétimo de originais “The Hungry Saw”. O disco foi gravado nos estúdios da banda, em França, e vai ser apresentado pela primeira vez em Portugal no SW.

Dia 9 o palco é preenchido por David Fonseca, Mellee, Brandi Carlie, Nitin Sahwney e Vanessa da Mata. Apesar de ser esta última a cabeça de cartaz, suponho que seja Nitin Sahwney que vai incendiar a noite da Zambujeira, sem retirar mérito à brasileira que aos 3 anos de idade já sabia que queria ser cantora. A sua voz suave, mas potente chegou às pessoas certas quando viajou para São Paulo sob o pretexto de ir estudar Medicina. Milton Nascimento e Maria Bethânia são alguns exemplos. Compositora e cantora, vem apresentar “Sim”, já conhecido do público português, com o êxito tão badalado “Good Luck / Boa sorte”, dueto com Bem Harper. Mas Nitin, ele é um dos nomes mais criativos do panorama musical actual: é dj, produtor, músico, multi-instrumentista, orquestrador e um verdadeiro pioneiro cultural. O músico anglo-indiano é o responsável por álbuns como “Beyond Skin” ou o mais recente “Prophesy”, o quinto da sua já longa carreira, todos eles trabalhos que conquistaram o nosso país. Procurando uma verdadeira música global que incorpore as suas raízes multiculturais mas também expressões e influências de todo o mundo, Nitin Sawhney sabe navegar entre a festa a que a presença de palco obriga e a ambição verdadeiramente planetária das suas composições que misturam o clássico e o moderno. E em concerto, essa mistura perfeita é inesquecível. No Palco Planeta, nessa mesma noite, destaque para Deolinda.

O último dia do festival será completo por Tara Perdida, Len On, Shout Out Louds, Jorge Palma, Franz Ferdinand e Xutos & Pontapés Rock N’ Roll Big Band. Com uma grande predominância de música portuguesa, este dia conta também com elementos internacionais de destaque. Franz Ferdinand é o caso mais iluminado. Uma das bandas indie pop do momento, vêm de Galsgow e foram buscar o seu nome ao do arquiduque Sérvio cujo assassinato despoletou a primeira guerra mundial, apenas com principal missão fazer música para as babes dançarem e acabaram por manter todos rendidos ao ritmo contagiante. Este ano preparam-se para o lançamento do último álbum de originais, com atitude arty e sons indie rock.

No Palco Planeta destacamos para esse dia os Junior Boys e os Fanfarlo. Os primeiros apresentam melodias de trance elegante, com melodias fortes, numa loucura de pop sedutor. Os segundos são londrinos e caíram nas graças das rádios e de David Bowie, o que por si só já lhes confere uma qualidade inquestionável. Vão conquistar a Herdade da Casa Branca.

Lembramos que em todos estes dias ainda existe música no Positive Vibes e no espaço Kubik até praticamente de manhã. A energia será certamente diferente dos restantes festivais, nem melhor, nem pior, apenas única e merecedora de mais um ano na Zambujeira. 

Artigo publicado no Jornal Semanário - Julho 2008

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