segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A vida no Convento das Mónicas

Relações e paisagens tocam-se por lá

A vida no Convento das Mónicas entrou em azáfama. Já imagino os autores a andarem de um lado para o outro, o eco dos exercícios vocais de cada um antes de entrarem em palco. O público a entrar. Há obras expostas. Há paisagens e tantos trabalhos sobre elas. Em palco há histórias, relações familiares e pontos de fuga. “Onde vamos morar” é de José Maria Vieira Mendes, pelos Artistas Unidos, sob o olhar de Jorge Silva Melo e está em palco até 11 de Maio. “Últimas Paisagens (II)” é de Manuel San Payo e está por lá, no espaço do Convento, a ilustrar um percurso artístico.

Onde vamos morar
Estreou, no passado dia 10 de Abril, o mais recente trabalho dos Artistas Unidos, que regressaram ao Convento das Mónicas para apresentar mais uma peça de José Maria Vieira Mendes. “Onde vamos morar” conta com as interpretações de Andreia Bento, Cecília Henriques, Pedro Carmo, Pedro Gil, Pedro Lacerda, Sérgio Godinho e Sílvia Filipe.
A temática regressa às relações entre pais e filhos, já conhecida do público habitual de José Maria Vieira Mendes. A história fala-nos de Américo e Vítor. O primeiro é o pai, com uma solidão e uma doença para aguentar. Vítor é o filho, casado com Gabriela. Ele parte em viagem com o consentimento dela.
Os pais de Gabriela e de Patrícia, a sua irmã, morreram. Patrícia vive na sua casa de infância. Relações familiares próximas estão muito presentes nesta história.
Do outro lado, Gustavo, que regressou depois de vinte anos fora do país e procura uma casa onde ficar e o pai que já há muito não via. Quando chega encontra apenas Vânia, a sua meia-irmã, que está ainda no princípio. E por último Mário, que trabalha como estafeta para uma florista incompetente que se engana sucessivamente na morada dos clientes, fazendo uma série de confusões. Esta é a outra história. Elas cruzam-se, vão-se tocando de alguma forma ao longo do tempo, da peça, do palco. São no total sete personagens que deambulam pelas ruas do texto, aquele que foi escrito propositadamente para os Artistas Unidos por José Maria Vieira Mendes. Vagueiam pelas suas histórias e cruzam-se umas com as outras, numa tela irregular e esburacada que une todos, como numa teia.
“Gente que entra e sai numa cidade onde muita coisa se esconde ou não se vê, onde as ruas ficam desertas à noite e por onde passa um comboio que não se sabe para onde vai. Desencontros, partidas e abandonos. Uma peça sobre a morte, sim, o escuro, claro, mas também sobre a distância, o regresso, o esquecimento e a procura de uma morada.” – apresenta-nos a equipa de comunicação. Esta é a nova peça do autor e a contar pelo elenco parece prometer. Pedro Carmo e Pedro Gil voltam a trabalhar juntos. Sérgio Godinho entra em palco agora para representar. A encenar está Jorge Silva Melo.
A peça estará em cena até 11 de Maio, no Convento das Mónicas (Travessa das Mónicas, 2/4, ao largo da Graça), de quarta a sábado às 21h30, e domingo às 17h. No dia 22 de Abril, terça-feira, haverá uma representação extra. Nos dias 24, 25, 26 de Abril e 1 de Maio não há espectáculo. O preço dos bilhetes é de 5 Euros. Reservas e informações através do número 961 196 02 81 (Artistas Unidos) ou 707 234 234 (Ticket Line).

Últimas Paisagens (II)
Nesse dia 10 inaugurou também a exposição de Manuel San Payo, no mesmo espaço. O artista plástico aceitou o convite feito pelos Artistas Unidos e reuniu os seus trabalhos de desenho e de pintura, em torno da paisagem, sob o nome “Últimas Paisagens (II)”
A velocidade desfoca a paisagem. As paragens são cada vez mais confinadas a locais predeterminados e circunscritos. A presença das traseiras de um carro, através do pára-brisas, ou a passar rapidamente em sentido contrário, tornou-se de algum modo a referência ou a medida para uma imagem de uma outra paisagem possível. A entrada é livre e pode-se fazer até ao mesmo dia 11 de Maio. De quarta a sexta das 17h às 00h; de sábado das 15 às 00h e domingo das 15h às 19h.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Abril 2008

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