quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Culturgest no último fôlego de 2008

Multi-disciplinariedade é a palavra de ordem

O último trimestre da Culturgest chega com uma programação diversificada, que é aliás a continuação de uma linha programática a que já nos habituamos. O teatro continua a ser uma aposta e um dos espectáculos mais esperados até ao final do ano pertence à área da dança: “Feminine” de Paulo Ribeiro, que tem estreia remarcada para Novembro.

A Culturgest apresenta-se desta forma no programa que preenche o espaço até ao final de 2008: “Tudo o que oferecemos ao nosso público, o fazemos na convicção de que se trata de eventos, todos eles, que enriquecem a vida cultural da nossa cidade e que merecem ser apreciados. Sem querer estabelecer hierarquias, reconhecemos, porém, que há alguns acontecimentos que marcam de uma maneira forte a nossa programação nestes últimos meses do ano.”. A programação apresentada tem de facto espectáculos de referência. Já que não nos premeiam com programação de verão, a Culturgest surge agora com uma nova força pós-férias.

Na música, a Culturgest apresenta mais uma edição do Festival Expresso Oriente, concebido pela OrchestrUtopica. Composto por três concertos, dois deles de câmara, no palco do Grande Auditório, este festival aborda a música contemoporânea, nos dias 27 e 30 de Setembro e 2 de Outubro.

Rodrigo Amado, no dia 19 de Setembro, estará no Grande Auditório com um trio de excelentes jazzmen americanos, prometendo um concerto memorável. No jazz, o concerto de Steve Coleman & Five Elements, que apresentam em colaboração com o Festival de Jazz de Guimarães, é obrigatório, no dia 15 de Novembro. O ciclo “Isto é Jazz?”, que tem esgotado o Pequeno Auditório, completa-se este ano com mais dois  concertos, a 31 de Outubro e 28 de Novembro.

Outro dos espectáculos apresentados com maior destaque e como uma pérola e motivo de orgulho, é o de José Mário Branco , criado expressamente para a Culturgest e a que chamou “Mudar de Vida – 2”. Fará uma reflexão sobre o estado em que, na sua opinião, se encontra a nossa sociedade, nos dias 30 e 31 de Outubro. Esta será provavelmente uma denúncia e um apelo à acção. O grupo de músicos de que se rodeia é excepcional: José Peixoto, Carlos Bica, Rui Júnior, entre outros, um magnífico quarteto de cordas e os Gaiteiros de Lisboa. Serão duas apresentações, para que mais pessoas possam assistir a este espectáculo.

Na música erudita a expectativa é a nova ópera de António Pinho Vargas. O libreto é de José Maria Vieira Mendes, a direcção musical de Cesário Costa, a encenação de André e Teodósio, em parceria com Vasco Araújo. Com um magnífico elenco de cantores nacionais e membros da Orquestra Sinfónica Portuguesa.

O último espectáculo que destacamos na área da música é o do jovem cantor Cristóbal Repetto, que recupera tangos, valsas e canções crioulas. Um concerto apenas com uma voz e uma guitarra, sem bailarinos. É música e não dança.

Na dança, o foco estará em dois espectáculos: “Ferminine” de Paulo Ribeiro, que estreará dia 22 de Novembro, para apenas duas representações (nesse e no dia seguinte); e a dupla catalã formada por Maria Muñoz e Pep Ramis, que apresentam o espectáculo “He visto caballo”, nos dias 12 e 13 de Novembro, integrado no Festival Temps d’Images. Em 1989 esta dupla formou a companhia de dança Mal Pelo, garantindo um lugar no universo artístico pela sua abordagem refrescante e surreal. Não fosse este espectáculo parte do Festival Temps d’Images, incorpora imagens intrigantes e também texto numa dança intensamente física. O espectáculo está ainda em criação.

“Feminine” foi um espectáculo que Paulo Ribeiro construiu para intérpretes femininas, que não chegou a estrear em Julho por uma das bailarinas ter tido um acidente. Tendo em conta a qualidade de “Masculine”, este será um espectáculo imperdível.

No teatro, destaca-se o espectáculo “Que depois do dia vem a noite”, de 27 a 29 de Novembro, que Tim Etchells, director artístico da famosa companhia inglesa The Forced Entertainment, criou, com dezasseis crianças dos 8 aos 14 anos, para a companhia belga Victoria. Este espectáculo aborda com uma clareza única, e algum humor, o modo como os adultos projectam o seu mundo sobre as crianças. Temas como a paternidade, a educação, a disciplina, os cuidados com os filhos são tocados e todo este empenho é-nos devolvido na forma das palavras ou dos melhores olhares (pelo menos os mais sinceros) das crianças. Este é um espectáculo fascinante sobre o mundo infanto-juvenil, sobre a adolescência e os relacionamentos entre adultos e crianças, sobre a forma como vêem os adultos.

Não poderá faltar o doclisboa 2008. Na 6a edição do festival internacional de cinema documental, realça-se o ciclo dedicado a Wiseman, o documentarismo chinês, as secções Diários filmados e Auto-retratos. Além do cinema de documentário em Outubro, haverá o Cinanima, em Novembro, com documentário e filme de animação japonês. Mas a Culturgest não será só teatro, dança, música e cinema. Em 2007, foi apresentada uma conferência com grandes nomes nacionais e internacionais, com o tema “A Busca da Felicidade”. Agora o tema será “As Regras da Atracção”, sobre o olhar de reputados especialistas estrangeiros e nacionais que têm reflectido, sob vários pontos de vista e com várias metodologias, sobre os comportamentos contemporâneos ligados aos afectos, às emoções, à sexualidade, às relações entre as pessoas. Para assistir e reflectir, nos dias 13 e 14 de Novembro.

O público poderá ver ainda algumas performances, as exposições de inverno e outras peças que merecerão a nossa atenção posteriormente. Esperemos que o difícil seja escolher. 

Artigo publicado no Jornal Semanário - Agosto (ed.15.08.2008)

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