segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cinema Independente ecoa pela cidade


Além do cinema em sala
5ª edição do IndieLisboa


O IndieLisboa 2008 – Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa abre oficialmente hoje, com o filme “My Blueberry Nights”, do realizador Wong Kar Wai. De 24 de Abril a 4 de Maio, o Fórum Lisboa, o Teatro Maria Matos e os Cinemas Londres e São Jorge abrem as portas ao cinema independente. Já estamos habituados à qualidade do festival, mas felizmente os directores não têm esquecido a componente de inovação.
Cada nova edição os programadores do IndieLisboa reinventam-no. Este ano esta reinvenção reflecte-se na mudança no mapa de salas, assim como a procura de formas de potenciar ainda mais a sua programação e iniciativas paralelas, mantendo o seu foco na criatividade e independência dos autores.
Este ano serão apresentados 238 filmes de todo o mundo, naquele que é já reconhecido com um dos mais importantes festivais de cinema em Portugal.
O festival vai muito mais além da apresentação de filmes em salas, vai ao encontro da divulgação e da aprendizagem aos mais vários níveis e também do contacto entre amantes, iniciados e doutorados nesta arte.

A essência do Festival
O grande foco do festival está em espalhar o prazer do cinema independente. Paralelamente ao seu crescimento quantitativo, tem-se vindo a perceber um crescimento qualitativo, que procura apurar as linhas essenciais da sua missão: partilhar o entusiasmo pelo que se faz de melhor ao nível desta arte; divulgar em Portugal trabalhos de qualidade oriundos de todo o mundo, num mesmo universo – o do cinema independente.
Em termos de programação, mantêm-se as secções estruturais do festival - Competição, Observatório, Laboratório e IndieJúnior - e as secções complementares - Director’s Cut e IndieMusic.
Na secção Herói Independente surgem dois grandes nomes: Johnnie To e Jose Luis Guerín. O primeiro será revisto, em retrospectiva, tendo como objectivo contribuir para a divulgação da sua obra junto do público nacional. O Indie quer acima de tudo incentivar a posterior mostra dos seus filmes, já que estão vários a aguardar o lançamento comercial nas salas portuguesas. Realizador prolífico, Johnnie To faz normalmente dois a três filmes por ano, variando entre géneros. Tanto nos pode presentear com um filme negro de gangsters como pode oferecer-nos uma comédia romântica. “A Hero Never Dies” (1998), “Running out of Time” (1999) ou “The Mission” (1999) são alguns dos trabalhos mais aclamados pela crítica internacional.
A sua importância para a essência deste festival é inquestionável. Ele é o único realizador cujos filmes percorreram todas as edições do festival.
O segundo homenageado, por sua vez, só agora estreia no festival. O recente filme “En la Ciudad de Sylvia” serve de pretexto para mostrar a reduzida mas essencial filmografia do cineasta discreto, e quase secreto. O realizador e guionista espanhol é certamente um dos nomes mais singulares do cinema contemporâneo. A sua obra é marcada por uma apaixonada cinéfila e por uma profunda originalidade, atravessada pelas questões mais antigas e mais modernas do cinema
Este tipo de festivais vive muito das retrospectivas e uma das grandes preocupações ao nível programático e de divulgação cinematográfica é focar países em termos de percursos na 7ª arte. Depois das homenagens ao “Novo Cinema Argentino” e a “Um Cinema Alemão”, surge o “Novo Cinema Romeno”. Identificado por muitos como “Nouvelle Vague” romena, por outros como “Nouvelle Nouvelle Vague” e por outros ainda como “Neo-Realismo” não há dúvida que nos últimos dez anos algo mudou neste país.
A 5ª edição aponta os holofotes para a Roménia, tão na berra com o badalado renascimento do cinema romeno, destacado pelos prémios que têm vindo a receber os seus realizadores mais conceituados, nos principais festivais mundiais. No mapa do cinema, este país voltou a ter destaque quando há seis anos quase não tinha expressão cinematográfica a nível internacional.
A originalidade do Indie é que vai à sua base, ou seja, à origem de uma história de sucesso e traça o percurso a partir dos anos imediatamente anteriores aos anos de eclosão do seu cinema.
O programa Novo Cinema Romeno vai mais além da redescoberta dos primeiros filmes dos seus nomes actualmente mais destacados - Cristi Puiu, Corneliu Poroumboiu, Cristian Mungiu e Radu Muntean -, dando a conhecer as mais jovens promessas dessa cinematografia. No ano em que a Roménia vai ficar mais próxima de nós pela capacidade que o cinema tem de ser um excelente instrumento de descoberta e aproximação entre povos e culturas, o IndieLisboa associa-se igualmente às comemorações do Ano Europeu do Diálogo Cultural 2008 (AEDI). A abrangência da proveniência geográfica do total dos 237 filmes programados (estão representados 40 países) espelha bem a vocação multiculturalista do festival. Para além disso, o festival exibe um conjunto de filmes que promovem o diálogo intercultural e justificam debater a sua premente necessidade hoje num mundo cada vez mas globalizado.

O Indie em números
Este ano, o IndieLisboa recebeu um total de 2957 filmes. Agora, em 11 dias, serão mostrados os 238 filmes seleccionados, dos quais 83 longas metragens e 155 curtas metragens, 8 secções. Da Europa (sem contar com Portugal), vieram 179 filmes, das quais 48 longas e 131 curtas, da Ásia (que compreende os territórios da Índia, Coreia, Japão, China, Hong Kong, Tailândia e Singapura) serão exibidos 24 filmes (19 longas e 5 curtas), da Austrália foram seleccionados 3 filmes (2 longas e 1 curta). Os EUA estão representados com 20 filmes (10 longas e 10 curtas), o Canadá com 7 filmes (1 longa e 6 curtas), e da América Latina serão mostrados 5 filmes (3 longas e 2 curtas).
O IndieLisboa irá exibir 27 filmes portugueses (6 longas e 21 curtas), dos quais 5 longas e 20 curtas estarão em competição para os melhores filmes na Competição Nacional.
O festival irá exibir 23 estreias mundiais (4 longas metragens e 19 curtas metragens), 16 estreias internacionais (1 longa metragem e 15 curtas metragens), e duas estreias europeias (2 longas metragens).
Depois da abertura do festival, Lisboa terá o prazer do cinema independente até dia 4 de Maio, dividido por quatro. No total, estarão presentes mais de 400 convidados nacionais e internacionais, entre realizadores, actores, produtores, jornalistas e programadores.

As antestreias
Em antestreia nacional serão apresentados dez filmes, a saber: “My Blueberry Nights" de Wong Kar Wai; “It's a Free World”, de Ken Loach; “Happy-Go-Lucky”, de Mike Leigh; “Terra Sonâmbula”, de Teresa Prata; “O Filho de Rambow, de Garth Jennings; “Bananaz”, de Ceri Levy; “Joe Strummer - The Future Is Unwritten”, de Julian Temple; “Joy Division”, de Grant Gee; “Lou Reed’s Berlin”, de Julian Schnabel; e “Patti Smith: Dream of Life, de Steven Sebring.

As secções do festival
Competição Oficial: a Competição Oficial de Longas e de Curtas-Metragens do IndieLisboa 2007 é composta por filmes nunca antes apresentados publicamente em Portugal e terminados em 2007 ou 2008. A esta secção competitiva concorrem filmes de ficção, animação, documentários ou obras experimentais, e que sejam primeiras e segundas obras, numa clara aposta em novos realizadores.

Observatório:
O Observatório, composto por Longas e Curtas-Metragens, pretende ser um radar, no qual serão apresentados filmes que, não podendo integrar a competição oficial são obras essenciais no panorama do cinema independente contemporâneo. Cada um dos dois programas será também composto por obras de ficção, de animação, documentários ou filmes experimentais.

Laboratório:
Esta secção tem como compromisso mostrar obras mais inclassificáveis, que ultrapassam as barreiras instituídas de géneros e formatos no cinema, trabalhando os seus realizadores em territórios menos explorados. É um espaço de programação de maior liberdade.

Competição Nacional:
A Competição Nacional de Curtas e de Longas Metragens é transversal a todas as secções do Festival. Engloba os filmes portugueses seleccionados, mas não os elimina das suas respectivas secções (Competição Internacional, Observatório, Laboratório).

Herói Independente:
Esta secção é dedicada aos que trabalham em prol de um cinema totalmente livre de pré-conceitos e preconceitos, livre de indústrias pesadas e mercados autistas, livres, sobretudo, de resultados imediatos. São os heróis do cinema independente. Como nunca chegam a entrar no sistema, como são sempre marginais à linha de conduta esperada tornam-se maiores, tornam-se visionários. Esta é uma secção de homenagem.

IndieMusic:
É constituído por uma dezena filmes, sobretudo documentários, nos quais a música, nomeadamente a cena pop/rock independente, é o principal tema e algumas das suas figuras mais carismáticas os intervenientes em foco.

Director’s Cut:
Esta é uma secção de carácter cinéfilo. São apresentados filmes explicitamente sobre o próprio cinema e a sua história ou então filmes em que o património da Sétima Arte serve de principal matéria-prima (num jogo de espelhos dos filmes a exibir com a memória do cinema), através de citações, pastiches, “remakes”, etc.

IndieJúnior:
Como habitualmente, o IndieLisboa aposta na formação de novos públicos, através da secção IndieJúnior. Pela primeira vez, o IndieJúnior abre a porta às longas metragens, com o filme "Vikaren", "Professora Extraterrestre", de Ole Bernedal, Dinamarca e com a ante-estreia de "Son of Ranbow", uma comédia sobre a vocação prematura de fazer filmes, estreado no festival de Sundance.
Quinze sessões, divididas por idades e níveis de ensino recebem alunos de escolas de todo o país, do ensino pré-primário ao secundário. Tentando prolongar o efeito educativo das sessões, serão distribuídas fichas de actividades que os professores poderão utilizar em sala.
O sucesso crescente da secção IndieJúnior levou também à abertura de novas actividades, nomeadamente ateliers de animação, música para cinema e efeitos especiais.

A inovação
Em termos da componente inovadora do festival, além da inclusão de um novo equipamento cultural – o Teatro Maria Matos - , um dos motivos mais visíveis, é a nova identidade visual do festival. Criada pela Brandia Central, para marcar a entrada do festival num período de maior maturidade, na sua 5ª edição. Por outro lado, o domingo de encerramento deixou de ser dedicado exclusivamente à apresentação dos filmes premiados.

Alargamento do espaço do festival - descentralização
Em termos nacionais, está já confirmada a realização de extensões do IndieLisboa logo a partir de 10 de Maio e até ao final desse mês em nove localidades em todo o país, em parceria com outras tantas entidades nos locais Fora de Portugal, a programação do IndieLisboa 2008 – e mais especificamente alguns dos filmes portugueses incluídos nesta edição - marcará também presença.

As noites loucas do Indie
Pela dimensão festivaleira e de convívio do próprio festival, o público poderá encontrar-se com a equipa, com alguns autores e amantes do cinema, a partir das 23h nos dias de festival. O espaço principal de encontro será o Cabaret Maxime, que conta com animações nocturnas com dj’s e bandas. O convívio social culmina com a Festa de Encerramento, mas alguns dos pontos mais altos a este nível serão certamente a Festa no Lux, no dia 25 de Abril e a festa “Joe Strummer – a alma dos Clash”, no MusicBox, no dia 29 de Abril.

Outras componentes do Festival
Lisbon Talks é um espaço privilegiado que quer dar a conhecer a estudantes de cinema e a todos os profissionais do meio, as várias mecânicas de funcionamento do meio cinematográfico.
A Zero em Comportamento volta a organizar as Lisbon Screenings durante a realização do IndieLisboa. Este evento anual, a acontecer paralelamente ao IndieLisboa, pretende aproveitar sinergias e criar condições para aumentar a visibilidade do cinema português, concentrando no mesmo local filmes, produtores, realizadores e decisores internacionais e promovendo encontros entre ambos, suprimindo assim a dificuldade que cada produtor nacional tem de promover o seu filme junto de potenciais compradores ou programadores habitualmente dispersos. Nestas sessões serão apresentados exclusivamente filmes portugueses recentes, incluindo obras que não fazem parte do programa oficial.
Estão programadas “Mesas Redondas” no Teatro Maria Matos, com os seguintes temas: “Produção Cinematográfica para Crianças e Jovens - Um cinema que precisa de 'abrir caminhos'”; “As novas expressões cinematográficas - O Cinema nas margens dos géneros e das linguagens”; “Os actuais apoios ao Cinema e Audiovisual - ICA versus FICA” e “O Cinema Romeno e o Cinema Português – Um 'diálogo' entre as duas cinematografias”.
Prevê-se ainda um seminário que se debruça sobre o processo desde a apresentação à distribuição de um filme, com os temas: apresentação de projectos a produtores; festivais e mercados cinematográficos; estratégias de pré-lançamento de filmes; a distribuição e case studies. Será ainda disponibilizado na Vidioteca Fnac, no Fórum Lisboa, e com entrada livre, o visionamento de todos os filmes recebidos durante o processo de selecção.

Preços
Sessões regulares de cinema entre 3 e 3,5 euros; filmes concerto e sessões de abertura e encerramento a 5 euros.
O pacote sessões de cinema IndieJúnior e Workshop IndieJunior são 5 euros e, quando comprados separadamente, têm o preço de 3 ou 3,5 euros cada item.

Para consulta detalhada do programa do festival recorra ao site: http://www.indielisboa.com, que possibilita a impressão de um calendário com todos os filmes.
Deixe-se levar pelo movimento Indie que corre nas veias de Lisboa.

Artigo publicado no Jornal Semanário - Abril 2008

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